quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Eliane Cantanhêde - Balanço é cor-de-rosa, mas não muda votos

O Estado de S. Paulo.

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na ONU foi o último do mandato, talvez o último da sua vida, e teve tom de despedida, prestação de contas e ataque ao líder das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva, não citado nominalmente. No frigir dos ovos, o texto inspirado pela diplomacia profissional foi bem, mas os cacos políticos e ideológicos não poderiam faltar.

A sede da ONU amanheceu com projeções nada inspiradoras: “Shame”, “Vergonha”, “Bolsonaro, vergonha nacional”. E, depois, a mídia americana acusou Bolsonaro de usar a organização como palanque para discurso eleitoral – que, de fato, foi –, reafirmando sua má imagem mundo afora.

O início do discurso já dizia tudo, com Bolsonaro se referindo ao “Brasil do passado” e alardeando, num texto mal-ajambrado, que seu governo “extirpou a corrupção sistêmica”, o endividamento da Petrobras chegou a US$ 170 bi na gestão de esquerda e “o responsável por isso foi condenado em três instâncias, por unanimidade”. Este é o centro da estratégia de campanha: bater na corrupção do PT para aumentar a rejeição de Lula.

Enquanto lia o resto do discurso, e excluindo-se o jeitão primário de ler, Bolsonaro fez o que qualquer presidente faria. Falou da grandeza do Brasil, de agricultura e matriz energética, e fez um balanço bem cor-derosa de sua gestão, listando “o esforço de modernização da economia”, “a plena recuperação do emprego”, o “combate à inflação” e até a “queda da miséria em 20%”. Que o digam os miseráveis brasileiros…

Citou “o Auxílio Brasil criado pelo meu governo” (o Bolsa Família tremeu na tumba), a deflação dois meses seguidos, a queda dos preços da gasolina e da energia elétrica, a maior safra de grãos da história e a previsão de 3% para o PIB de 2022. E falou da Amazônia, ressalvando que “não se pode esquecer das pessoas”, e defendeu a liberdade religiosa e de expressão, o acolhimento de refugiados e o “direito à vida desde a concepção”.

Tudo muito bem, tudo muito bom, mas talvez um tanto tarde demais para uma reviravolta nas pesquisas e para amenizar seu pior índice: sólidos 50% de rejeição, segundo o Ipec divulgado anteontem. Por que será? Porque, entre o que se diz (ou se lê) e o que realmente se faz, há uma distância de léguas.

Certamente, não é à toa que os índices mais massacrantes contra Bolsonaro são entre os mais pobres, os menos escolarizados, mulheres, negros e no Nordeste. Esses são os maiores eleitorados do País. E parecem não concordar, sobretudo, com o blá-blá-blá da “queda da miséria”. É bacana dizer isso na ONU, mas dificilmente muda votos no Brasil.

5 comentários:

  1. Bolsonaro SÓ mente. Mitômano.
    Jornalismo declaratório esse.

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  2. Pior que mitômano o boçal é neocrófilo (o contrário de biófilo). Diz que a ditadura devia ter matado 30 mil pessoas, inclusive FHC, coitado. É fã de um torturador e tortura implicava em mortes, até que médicos fossem mobilizados para impedir isso. Também é fã de armas de fogo que também implicam em mortes. E curiosamente a figura se acha "imorrivel".

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  3. "Jeitão primário de ler"? O miliciano é semianalfabeto, algumas dúzias de palavras que pronunciou ele nem sabia o que é... Escreveram o texto e ele foi tropeçando nas palavras... Vexame total!

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  4. O negócio de Bolsonaro é contar: contar as notas de dinheiro vivo que recebia das rachadinhas dele e da família!

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