O Globo
Bolsonaro precisa mudar para reduzir a sua
elevada taxa de rejeição. Vá lá. Como? Para quê?
Em 2018, o capitão foi eleito numa onda
antipetista propondo um governo conservador nos costumes, liberal na economia e
independente na política.
Para explicar como armaria sua
independência política, prometia basear-se no que chamava de “bancadas
temáticas”. Eleito, ele ainda não tinha tomado posse, e o deputado Alceu
Moreira (MDB-RS) ensinava:
“Quem disser que sabe qual é o resultado
que esse novo modelo produzirá, de duas uma: ou é adivinho ou está mentindo”.
Não havia adivinhos no pedaço, e o modelo
foi o de sempre: o governo aninhou-se no colo do Centrão.
O governo liberal na economia fechou o
Posto Ipiranga e passou a vender picolés de carestia. Restavam dois temas: o
conservadorismo nos costumes e o antipetismo. Conservador não é miliciano, não
ofende mulheres e repele atitudes vulgares. Sobrava o antipetismo.
Ele existe, mas foi abalado por dois fatos. Uma foi a transformação da Lava-Jato em poeira pela desmistificação de seus cavaleiros. O juiz Sergio Moro começou prometendo liquidar o arranjo corrupto dos partidos políticos, tornou-se o todo-poderoso ministro da Justiça e Segurança de Bolsonaro e acabou comprando bermudas com dinheiro do Podemos.
A segunda circunstância foi produzida por
Bolsonaro. Se ele é a alternativa ao PT, o resultado está no Datafolha: 45%
para Lula e 33% para ele.
Bolsonaro sabe que precisa mudar. Seu
último Sete de Setembro não teve a essência golpista do anterior. Dias depois,
reconheceu que aloprou ao dizer tolices durante a pandemia. Insistiu na defesa
da cloroquina e aí mostrou um aspecto da sua essência política. Quando ele
começou a defender o fármaco, muita gente boa estava receitando-o e tomando-o.
Sua excepcionalidade está no fato de que acredita em fórmulas mágicas, como o
nióbio, o grafeno e a transmissão de energia elétrica sem fios. Muita gente que
tomou cloroquina entendeu que a droga não funcionava. Bolsonaro continua
acreditando na mágica.
Pode vir a existir um Bolsonaro calado, até
mesmo um Bolsonaro eventualmente gentil, mas um Bolsonaro mudado não existe.
Assim como nunca existiram as bancadas temáticas, o Posto Ipiranga e os efeitos
da cloroquina. Continua existindo o antipetismo, mas o eleitor se vê sem
alternativa.
Assim como a soberba petista diante das
malfeitorias de suas administrações ajudou a produzir a maré de 2018 e Jair
Bolsonaro, passados quatro anos, o capitão poderá produzir Lula.
O fator Vera
Se Bolsonaro pudesse mudar, ele não se
meteria numa pergunta da repórter Vera Magalhães a Ciro Gomes para insultá-la.
Conservador com boas maneiras, Ronald
Reagan foi a uma entrevista na Casa Branca, e a veterana Helen Thomas fez-lhe
uma pergunta diabólica.
Reagan, um mestre, respondeu:
“Helen, eu sou um bom sujeito, porque você
me faz uma pergunta dessas?”
A rainha morreu, viva a rainha
Elizabeth de Windsor se foi. Para quem
gosta de rainhas, viva Margrethe II da Dinamarca. A senhora tem 82 anos, reina
desde 1972.
Graças ao Youtube a monarca está ao alcance
de todos. Suas marcas são um sorriso contagiante e roupas luminosas que, às
vezes, ela mesma desenha.
Como a casa de Windsor, ela também descende
da nobreza alemã. A semelhança termina aí. A aristocracia da Dinamarca não tem
a pompa carnavalesca da inglesa e fica longe do burburinho das celebridades.
Frederick, o filho da Margrethe II, herdou-lhe o sorriso e não tem a propensão
aos pitis de Charles III. Ela entra em lojas e, em maio passado, meteu-se numa
montanha-russa.
Viúva, Margrethe II foi casada com um
diplomata francês de sangue azulado. Ele não se conformava com o papel
secundário que o protocolo lhe impunha e passava temporadas no seu vinhedo.
Antes de morrer, pediu para que sua sepultura não ficasse ao lado da dela.
Enquanto a graça da Casa de Windsor está em
não ter graça, Margrethe II marcou seus 50 anos de reinado dando a impressão de
que se diverte muito no papel. (Numa concessão aos costumes, não fuma em
público.)
Margrethe II esteve no Brasil duas vezes.
Na segunda, em 1999, como rainha, durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso, outro monarca que se divertia reinando. Lula visitou-a em 2007.
Durante sua passagem por Copenhague disse que ficava feliz ao passar por “um
país em que dirigentes sindicais podem comer caviar”.
A marca de Rosa
Na cerimonia de sua posse, Rosa Weber deu
um sinal do que será sua gestão no Supremo Tribunal Federal.
Habitualmente, depois da solenidade há um
pequeno coquetel.
Desta vez não houve nem água, e Brasília
estava num de seus dias de secura infernal.
Madame Natasha
Madame Natasha é uma bolsonarista chique.
Ela prefere subir escadas a entrar no elevador de serviço. A senhora esperava
que Paulo Guedes ilustrasse o capitão e desencantou-se ao ser procurada por um
miliciano para pedir mesada ao síndico do condomínio.
Logo Guedes, um PhD de Chicago que corta o
cabelo no salão Care de Ipanema, disse que “liberais e conservadores estão
juntos porque, do outro lado, está o capeta.”
Natasha sabe que os liberais
desbolsonarizaram-se e horrorizou-se ao ver o doutor usar um termo do capitão
para desqualificar seu adversário.
Zelando pelo idioma e pela reputação de
Guedes, ela lhe sugere que dê um toque de elegância aos seus insultos, indo
buscar em Guimarães Rosa sinônimos para a malcriação.
Em “Grande Sertão: Veredas”, Rosa oferece
cerca de 50 possibilidades.
Três delas: Tisnado, Coisa Ruim e Pai da
Mentira.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e soube que a Gol
pagou US$ 41 milhões ao governo americano para encerrar uma investigação que
corria atrás das propinas que ela pagou no Brasil.
O cretino entende que os americanos
correram atrás porque a Gol opera por lá. Ele quer saber se o governo
brasileiro e a Agência Nacional de Aviação Civil têm interesse em saber quem
embolsava o ervanário.
Debate da Globo
Pelo andar da carruagem, o resultado do
primeiro turno da eleição presidencial será decidido no debate da TV Globo,
marcado para o dia 29.
Os tempos mudam
Em 1976, o presidente Ernesto Geisel foi a
Londres para uma visita de Estado.
A ditadura tisnava a imagem do país e, na
Grã-Bretanha, o embaixador era Roberto Campos, pessoa com fino senso de humor.
Protestando contra a visita, houve apenas
uma esquisita manifestação em defesa dos homossexuais. Hoje, uma manifestação
dessas nada teria de engraçado. (Um cidadão atirou-lhe um tomate, mas errou o
alvo.)
Dos dias em Londres, Geisel guardou uma
lembrança: apesar de ter mandado à cidade as medidas de sua cabeça, a cartola
que lhe deram estava apertada.
Piso da enfermagem
Não se discute a decisão do STF de derrubar
o piso salarial de R$ 4.750 de enfermeiras e enfermeiros.
O que se pode discutir é se os doutores se sentirão seguros indo para um hospital onde serão atendidos por uma enfermagem que ganha menos do que isso.
Fora,Bolsonaro.
ResponderExcluirO comitê central do PT já está sentindo água no convés,o barco está afundando. só a militância tonta e esses jornalistas espertalhões ficam nesse oba oba!
ResponderExcluirBolsonaro vai ganhar no primeiro turno
Sergio Moro decepcionou milhões de brasileiros, fazendo politicagem quando era juiz e sendo péssimo político quando tentou ser candidato a presidente e agora que concorre ao Congresso.
ResponderExcluirJair Bolsonaro fez o que se esperava dele: nada! Corrupto, violento, grosseiro, mentiroso compulsivo, vagabundo que nunca trabalhou de verdade! 7 mandatos como deputado do baixo clero comandando as rachadinhas familiares e sem aprovar um projeto importante, prometeu a Nova Política! Nos entregou pro Centrão e virou Tchutchuca... Foi passear agora na Inglaterra...
Aproveitando a dica do colunista: Jair Bolsonaro é o PAI DA MENTIRA!
ResponderExcluirBolsonaro gentil ou Bolsonaro educado é tão verdadeiro quanto a nota de 1 dólar com foto do Donald Trump. Ou quanto a fraude na eleição dos EUA...
Gostaria de possuir 00000,1 de sua sagacidade, inteligência e humor. Considero-o um gênio no jornalismo e também, invejo sua memória, um arquivo de experiência e sabedoria. Uma mente brilhante simplesmente.
ResponderExcluirBolsonaro viajou pra Inglaterra com o nosso dinheiro pra demonstrar pruma pessoa morta o que nunca demonstrou para centenas de milhares de mortos brasileiros: sensibilidade diante duma morte humana. Por que o canalha se "sensibiliza" (será?) com a morte da rainha e nunca se sensibilizou com algumas das tantas vítimas fatais da Covid no Brasil? Ele demonstra respeito pruma mulher estrangeira enquanto desrespeitou antes centenas de outras mulheres brasileiras! Por que ele está tão sensível? Será porque a campanha eleitoral está terminando e sua rejeição está estratosférica? Medo de não passar do primeiro turno?
ResponderExcluirPruma, palavra nova em português?
ResponderExcluirUma combinação de palavras, deve ter algum nome em português prisso...
ResponderExcluirEu pensei que enfermeiro ganhasse apenas um salário mínimo,como eu.
ResponderExcluirPruma, prisso = contração gramatical. Este é o termo!
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