Valor Econômico
Eleito com voto antipetista, presidente
pregou para convertidos e assustou moderados na campanha
Jair Bolsonaro (PL) conseguiu angariar
votos muito além do seu eleitorado mais fiel para se eleger presidente da
República em 2018. Neste ano, ironicamente, a incapacidade de romper essa bolha
pode tirá-lo do Palácio do Planalto.
Há quatro anos, em meio à onda antipetista
que varria o Brasil pós-Lava-Jato e à comoção com a facada que quase tirou-lhe
a vida, Bolsonaro obteve 46,03% dos votos válidos em primeiro turno. Ao longo
de toda a atual campanha, porém, não conseguiu se aproximar desse índice. Teria
hoje apenas 36% dos votos válidos, segundo a pesquisa Datafolha de ontem.
O dilema entre falar só para a própria
bolha ou abrir-se ao eleitorado médio dividiu o entorno de Bolsonaro nos
últimos meses.
Ministros da ala política, como Ciro
Nogueira (Casa Civil) e Fábio Faria (Comunicações), aconselhavam o presidente a
fazer uma campanha propositiva, mostrando realizações e surfando na onda do
Auxílio Brasil de R$ 600 e da redução dos preços dos combustíveis.
Eles defendiam que o presidente precisava
falar mais ao eleitor moderado, que havia votado em Bolsonaro em 2018 mesmo sem
ser bolsonarista ou defender sua pesada pauta de costumes e pró-armas.
Amparados por pesquisas qualitativas, os ministros tentavam mostrar a Bolsonaro
que cada fala radical afastava esse eleitor.
Contratado pelo presidente do PL, Valdemar
Costa Neto, o publicitário Duda Lima apostou nessa “linha light”, dos primeiros
vídeos gravados no laboratório da pré-campanha às primeiras inserções no
horário eleitoral.
Não tardou a sofrer ataques de parte dos
ideológicos, sobretudo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do
presidente. Em junho, Carlos ironizou no Twitter um filme de 30 segundos
produzido por Lima para ser usado nas redes sociais.
“Vou continuar fazendo aqui o meu trabalho e dane-se esse papo de profissionais do marketing. Meu Deus!”, escreveu.
Próximo do clã, o publicitário Sérgio Lima
era outro defensor da ideia de que quem deveria aparecer era o “Bolsonaro real”.
Para os ideológicos, o presidente ganhou em
2018 mostrando quem ele realmente é. Ao camuflar a própria personalidade,
avaliavam, suas chances de reeleição diminuiriam.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) oscilava
entre um grupo e outro. E, por vezes, fazia a ponte entre ambos. Na definição
de uma fonte, ele é “o mais pragmático de uma família ideológica”. Coube sempre
a ele e ao pai a última palavra sobre que rumo tomar.
Os dois grupos antagônicos travaram uma
queda-de-braço na mansão alugada pelo PL em uma área nobre de Brasília para
funcionar como o QG da campanha bolsonarista. Para alguns ali dentro, o
conflito fez com que o presidente tivesse um comportamento errático,
confundindo o eleitor.
O Bolsonaro “calmo e gentil” que aparecia
no horário político era por vezes incompatível com o homem que, muitas vezes
aos brados e usando palavrões, continuava a fazer insinuações infundadas sobre
a inviolabilidade das urnas e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Antes do período eleitoral, radicais e
moderados, no entanto, concordavam em uma coisa: como em 2018, o antipetismo
viria forte. Mas, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva livre da prisão
e a Operação Lava-Jato enterrada, o tempo mostrou que o que estava sob
escrutínio eram o governo e a personalidade de Bolsonaro.
O presidente abriu o período eleitoral com
rejeição de 47%, índice que se manteve estável e subiu a mais de 50% na semana
da eleição.
A criticada atuação na pandemia, que matou
mais de 685 mil pessoas no país, realçada por uma CPI da Covid que se estendeu
de abril a novembro de 2021 no Senado, cobrou seu preço. Bolsonaro foi atacado
por todos os principais candidatos. E, quando cobrado, reagiu mal.
Em 28 de agosto, no debate da Band, o
presidente atacou a jornalista Vera Magalhães quando a colunista do jornal “O
Globo” fez uma pergunta crítica à sua postura negacionista no combate à
pandemia.
“Vera, não podia esperar outra coisa de
você, você dorme pensando em mim. Você é uma vergonha para o jornalismo
brasileiro. Já está apelando”, disparou.
A fala reforçou a imagem de machista do
presidente, que já enfrentava muitas dificuldades para cativar o eleitorado
feminino.
Duas semanas depois, quando a campanha
ainda se esforçava para conter os danos da fala presidencial, o deputado
estadual bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos-SP) replicou o insulto de
Bolsonaro ao assediar Vera Magalhães com um celular no debate da TV Cultura. O
dano à imagem do presidente com os dois episódios foi tal que até o deputado
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) condenou a atitude de Garcia.
Pesquisas internas já indicavam, havia
muito, a alta rejeição de Bolsonaro entre as mulheres.
A primeira-dama, Michelle, foi escalada já
no lançamento da campanha, em um Maracanãzinho lotado, para socorrer o marido.
“Falam que ele não gosta de mulheres. E ele
foi o presidente da história que mais sancionou leis para mulheres”, discursou.
Apesar da forte presença ao longo da
campanha, Michelle não conseguiu tornar o presidente mais palatável para as
eleitoras. Pelo contrário, a rejeição de Bolsonaro entre as mulheres cresceu de
46% em agosto para 51% na semana da eleição, segundo o Ipec.
Na avaliação de fontes da campanha, por
outro lado, a atuação de Michelle foi mais útil para consolidar o voto dos
evangélicos. Mas esse já era um eleitorado dominado pelo presidente. Bolsonaro
deu forte atenção aos evangélicos durante todo o mandato, participando de
cultos e pregando contra o aborto e a legalização das drogas. Em 2021, ele
cumpriu a promessa de indicar um ministro “terrivelmente evangélico” para o
Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro da Justiça André Mendonça.
Hoje, Bolsonaro tem os votos de cerca de
50% nesse segmento religioso, contra cerca de 30% de Lula.
Uma bolha que Bolsonaro tentou romper sem
sucesso foi a da baixa renda. Para isso, contou com a caneta presidencial e a
ajuda de aliados no Congresso para aumentar o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$
600 a dois meses da eleição.
Os pagamentos das primeiras parcelas
ocorreram na primeira semana de agosto e na penúltima semana de setembro. Mas
não foi revertida a preferência dos mais pobres por Lula, segundo as sondagens.
Houve uma série de boas notícias na
economia ao longo do ano, parte delas produzida pela ação eleitoreira do
governo, que aumentou gastos sociais durante a campanha, postergou o pagamento
de precatórios, flexibilizou o teto de gastos, interveio na Petrobras e
desonerou a cobrança sobre combustível e energia. Com isso, a inflação recuou.
O arrefecimento da pandemia fez com que indicadores como o crescimento do PIB e
a taxa de desemprego melhorassem. Nada disso, contudo, mudou significativamente
o quadro eleitoral.
Segundo o Ipec, o petista tem 53% das
preferências entre quem ganha até dois salários mínimos, contra 29% do atual
presidente. Para analistas, no entanto, a liberação de recursos viabilizada
pela PEC das Bondades ajudou Bolsonaro a chegar até aqui com chances de ir ao
segundo turno. Sem esses desembolsos, a eleição estaria perdida antes de
começar - sensação confirmada por fontes dentro da campanha.
Bolsonaro tampouco conseguiu cativar o
eleitor do Nordeste, onde está a maior fatia dos beneficiários do Auxílio
Brasil. Ali, segundo o Datafolha, o ex-presidente tem uma vantagem expressiva
sobre Bolsonaro - 63% a 22%.
Ao longo de todo o processo eleitoral, o
presidente se viu cercado pelas figuras do Centrão, a quem entregou o coração
do governo e o controle sobre o Orçamento da União para poder governar.
Ciro Nogueira, Fábio Faria e Valdemar Costa
Neto, presidente do PL, foram figuras influentes na campanha. Mas políticos
moderados e de legendas como o PSDB, MDB, União Brasil e Novo lhe negaram
apoio.
Isso o forçou a montar palanques fracos em
Estados cruciais, como Minas Gerais e Bahia. Em São Paulo, é Bolsonaro quem puxa
votos para seu ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), não o contrário.
O presidente apelou, além disso, a viagens
ao exterior para passar a imagem de que era um estadista com prestígio
internacional. Mas a ida a Londres para o funeral da rainha Elizabeth II rendeu
a ele uma saraivada de críticas por fazer da residência do embaixador um
palanque político, em meio ao luto que vivia o país. As imagens de intimidação
de militantes a uma jornalista da BBC e da indignação de um britânico com o
comportamento dos bolsonaristas agravaram a situação.
Vendo fracassar todas as tentativas para
manter os votos que o elegeram em 2018, o presidente partiu para o ataque na
reta final.
Sua campanha subiu o tom para reforçar a
imagem de corrupto de Lula, chamado-o de “ladrão” e “ex-presidiário” em horário
eleitoral. Mas a narrativa foi enfraquecida por escândalos recentes.
O pagamento de propina a pastores dentro do
Ministério da Educação teve novos desdobramentos. E, quando a campanha
esquentava, o site “UOL” publicou reportagem sobre parentes de Bolsonaro que
compraram dezenas de imóveis em dinheiro vivo. Na avaliação de assessores, o
presidente perdeu o controle sobre a narrativa da campanha com esses
escândalos.
Com as pesquisas indicando a possibilidade
de vitória do petista em 1º turno, Bolsonaro ainda deve participar de
motociatas em Poços de Caldas (MG) hoje e em São Paulo e Joinville (SC), no
sábado.
A campanha também ficou marcada por uma
tensa relação com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), alimentada pelas
insinuações infundadas de que poderia haver fraude nas eleições.
Sempre atrás de Lula nas pesquisas,
Bolsonaro atravessou a campanha dizendo que entregaria a faixa “desde que as
eleições fossem limpas”. Agora, seus aliados e adversários chegam à eleição com
as mesmas dúvidas: o presidente sobreviverá ao primeiro turno? Se perder no
voto, aceitará o resultado?
"Ministros da ala política,..., aconselhavam o presidente a fazer uma campanha propositiva, mostrando realizações e surfando na onda do Auxílio Brasil de R$ 600 e da redução dos preços dos combustíveis"
ResponderExcluirMas sr. Autor, bozo não tem boas realizações a mostrar: a miséria aumentou como é de conhecimento de todos.
Por outro lado, como nada realizou, como fazer uma campanha propositiva? Propondo mecanismos pra acabar com a fome q ele criou? Kkkkkkkkk
E bozo tenta sim, surfar na onda dos combustíveis mas parte da onda foi aproveitada por Lula.
Assim como os $600, q bozo/guedes não queriam, tb foi aprovado contra a vontade da dupla dos infernos a até seus beneficiários sabem q foi Lula quem os conseguiu.
Preso em sua bolha, Broxonaro luta pra flutuar na merda que produziu em volta dele!
ResponderExcluirA campanha propositiva de Bolsonaro: autogolpe, volta da tortura e dos torturadores, intervenção militar com o genocida, Kelmon como ministro da Cultura...
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