Folha de S. Paulo
Vantagens tributárias e outras conferidas
pelo Estado brasileiro explicam o fenômeno além da fé
Jesus multiplicou os pães, pastores
multiplicam as igrejas. Deu em O Globo que, ao longo da última década, foram
abertas no Brasil 21 igrejas evangélicas por dia. Em 2013, havia 71.745
instituições desse tipo; em maio de 2022, elas já eram 178.511.
Não duvido de que a fé responda por muito
desse movimento, mas questões tributárias e outras vantagens que o Estado
brasileiro confere a igrejas, também.
Digo-o com conhecimento de causa, pois já fui o feliz proprietário de uma instituição religiosa. No ano da graça de 2009, num experimento jornalístico, eu e colegas da Folha criamos a Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio.
Seus estatutos traziam um amontoado de
delírios entremeados de elucubrações teológicas sem sentido, mas, como não
contrariavam nenhuma disposição do Código Civil, pudemos registrar a nova fé em
cartório, tirar um CNPJ de organização religiosa e, com ele, abrir uma conta
bancária na qual fizemos aplicações financeiras isentas de imposto.
A aventura nos custou R$ 418. Publicada a
reportagem, iniciamos os procedimentos para fechar a igreja. Haveria várias
outras vantagens de que não nos utilizamos, como a imunidade sobre IPTU e IPVA
para imóveis e veículos da instituição e contas de luz, água etc. muito mais
baratas, já que livres do ICMS.
O Congresso tem na fila outras bondades para as religiões. Minha favorita é o
direito de propor ações diretas de inconstitucionalidade ao Supremo Tribunal
Federal.
Essa multiplicação de igrejas aliada à
multiplicação de benesses explica muito do fracasso do Brasil. Cada grupo de
interesse com influência sobre o Congresso, sejam religiosos, empresários,
servidores públicos ou qualquer outro, dá um jeitinho de inscrever em lei
isenções e vantagens exclusivas. Uma vez fixadas, ninguém mais tira.
O resultado disso é que a conta vai ficando
cada vez mais impagável e fica cada vez mais difícil aprovar regras que
beneficiariam a todos.
A junção de pastores safados com políticos podres e corruptos (=bolsonaristas) caracteriza uma autêntica quadrilha que rouba em nome de Deus! Além de 100 anos de sigilo, será que conseguirá 100 anos de perdão?
ResponderExcluirAleluia! Glória e Louvado Seja!
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