Correio Braziliense
O ambiente eleitoral se tornará mais
volátil, porque a maioria dos eleitores começará a consolidar ou mudar o voto.
A possibilidade de uma vitória de Lula no primeiro turno é real, mas é muito
difícil
“Eu nunca fiz eleição para ganhar no 2°
turno. Eu, que tenho 46%, tenho que acreditar que é possível, nos próximos
dias, conquistar a porcentagem que falta, sem desprezo a ninguém”, postou o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ontem, no seu Twitter oficial,
Lula 13. Iniciou, assim, uma arrancada de 20 dias, cujo objetivo é volatilizar
nas próximas semanas as candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
Com isso, pretende transformar uma ameaça, o risco de perder para o presidente
Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, na oportunidade de vencer no primeiro
turno. Na pesquisa Ipec/TV Globo de segunda-feira, Lula aparece com 51% de
votos válidos, o que significa a chance de vitória no primeiro turno.
Na postagem, Lula foi elegante. Vencer no primeiro turno seria um feito inédito. Em 2022, a disputa contra José Serra (PSDB-SP) foi para o segundo turno; em 2006, contra o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB), que hoje é seu vice, também. As vitórias de Dilma Rousseff em 2010, no auge de seu prestígio como presidente, e em 2014, também foram para o segundo turno. Ou seja, não existe precedente de os candidatos do PT vencerem a eleição de roldão. Dessa vez, porém, Lula está animado. Bolsonaro não consegue baixar a sua rejeição, a avaliação de seu governo continua ruim, a distância entre ambos no eleitorado feminino permanece abissal. A fala mansa do presidente da República nos últimos dias mostra que a estratégia bolsonarista de confrontação ideológica esgotou-se no 7 de Setembro.
Bolsonaro se manteve nos 31% da semana
passada, segundo o Ipec, mas a aprovação do governo oscilou negativamente de
25% para 23%, enquanto a reprovação variou de 43% para 45%. A rejeição ao modo
de governar de Bolsonaro oscilou para cima, de 57% para 59%. Lula sentiu o
cheiro de animal ferido na floresta e foi à caça. Dos votos de Bolsonaro? Não,
resolveu partir pra cima dos eleitores de Ciro Gomes, que estacionou nos 7%. A
mesma pesquisa revelou que 52% dos eleitores do pedetista ainda podem de mudar
de voto. Lula é sutil no voto útil, mas sua militância nas redes sociais é uma
escolada patrulha ideológica, que partiu para cima dos setores de esquerda
refratários ao voto em Lula no primeiro turno.
O acordo com Marina Silva (Rede), candidata
a deputada federal por São Paulo, em grande estilo, com o compromisso de levar
adiante o programa da sua ex-ministra do Meio Ambiente, com quem Lula estava
rompido, é considerado como uma sinalização de que chegou a hora de concentrar
as forças para derrotar Bolsonaro no primeiro turno e não dar nenhum espaço
para contestação do resultado eleitoral. Meia narrativa é de que Bolsonaro
representa uma ameaça fascista e, para barrá-la, como ensina a velha tradição
de esquerda, o melhor instrumento é uma “frente ampla”. Ocorre que não existe
essa frente, o que está se propondo é a unidade de esquerda. A outra metade da
narrativa é o argumento de que as forças que apoiam Simone Tebet querem levar a
eleição ao segundo turno para barganhar seu apoio e forçar o ex-presidente Lula
a assumir um programa liberal, mantendo o teto de gastos, a reforma
trabalhista, a autonomia do Banco Central etc, o que afastaria qualquer
possibilidade de acordo de cúpula com essas forças no segundo turno.
Volatilidade
Bolsonaro sentiu o golpe da pesquisa Ipec.
Havia ampla expectativa de parte do comando de sua campanha de que as grandes
mobilizações do 7 de Setembro seriam uma arrancada para a vitória, mas não foi
isso que ocorreu. O brado presidencial de que era “imbrochável” roubou toda a
narrativa patriótica. O ato revelou mais capacidade de mobilização dos
bolsonaristas do que de persuasão dos eleitores indefinidos. Os ataques a Lula
com base nas denúncias de corrupção no seu governo também não estão aumentando
a rejeição do petista como se imaginava; outras bandeiras bolsonaristas se
esvaziaram com a chegada de Bolsonaro ao poder. No fundo, o mau desempenho do
governo, principalmente nas áreas sociais, como educação, saúde, habitação,
virou uma mala sem alça que seus aliados precisam carregar.
Nas próximas semanas, o ambiente eleitoral se tornará mais volátil, porque a maioria dos eleitores começará a consolidar ou mudar o voto. A possibilidade de uma vitória de Lula no primeiro turno é real, mas nem de longe está consolidada. O que as pesquisas estão mostrando até agora é que o cenário de segundo turno é o mais provável, com Lula e Bolsonaro. Essa polarização pode desidratar Ciro Gomes, nas próximas semanas, em favor do petista; mas esse seria o caso de Simone Tebet? Se sua candidatura do MDB for volatilizada, para onde irão os seus votos?
Os eleitores de Simone rejeitam mais Bolsonaro que os de Ciro Gomes,eu só não sei se eles vão de Lula,eu acho que a maioria vota em branco.
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