quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Maria Hermínia Tavares* - Outro Brasil é possível

Folha de S. Paulo

Estes quatro anos aprofundaram praticamente todas as nossas mazelas

Incerteza econômica, emergência climática e novas tensões geopolíticas dão o tom da conjuntura mundial, bem diferente daquela de apenas duas décadas atrás. Mesmo esse quadro sombrio, porém, não deve estiolar as oportunidades para uma nação como o Brasil, grande produtor de alimentos, muito rico em reservas de água —um bem que vai se tornando escasso— e abrigando em seu território um patrimônio incalculável de cobertura florestal e biodiversidade.

Esses podem ser os vistos no passaporte do país na sua jornada em busca de posição vantajosa no sistema internacional em transição, ampliando as condições objetivas para o combate a seus enormes problemas domésticos. Estes são tudo menos triviais: crescimento rastejante; governos enredados em limitações fiscais crônicas; intimidade entre máquina pública e interesses privados; degradação ambiental; e, sobretudo, extensa e abjeta pobreza na qual se ancoram violência e desigualdades superpostas de renda, raça, gênero, região, acesso a educação, saúde e tudo o mais que faz parte da proteção social devida aos cidadãos.

Os quase quatro anos do desgoverno Bolsonaro aprofundaram praticamente todas essas mazelas. Mas mostraram também a resiliência das instituições democráticas —Suprema Corte, Tribunal Superior Eleitoral, Federação e Congresso multipartidário— bem como da imprensa e da sociedade organizada em face dos arreganhos da extrema direita.

Atestaram ainda que elites cívicas —hoje mais plurais, mais nacionais e menos brancas— aprenderam com a experiência de resistir ao desmonte de políticas e capacidades estatais fomentado pelo Palácio do Planalto.

Se a campanha presidencial se desenrola ao ritmo de promessas vagas, não faltam propostas sérias para lidar com os mais renitentes problemas brasileiros: da sustentabilidade ambiental ao resgate da educação; do fortalecimento do SUS ao impulso à ciência e tecnologia; da questão fiscal às prioridades de investimento; da cultura à luta contra a violência sem replicá-la.

Esse aprendizado se provará nas urnas.

De hoje a três dias, uma ampla coalizão democrática, unindo lideranças usualmente rivais e eleitores de diferentes simpatias políticas, do centro-direita às esquerdas, desafiará o atraso, a truculência, a boçalidade e o autoritarismo que Bolsonaro encarna —e que tentará impor à força se as urnas lhe mostrarem o merecido cartão vermelho.

Sua derrota —se calhar, já no primeiro turno— abrirá uma fresta através da qual, não sem dificuldades, nem da noite para o dia, talvez se possa construir, tijolo a tijolo, um país mais decente.

*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap

4 comentários:

  1. "Estes quatro anos aprofundaram praticamente todas as nossas mazelas"

    Verdade!
    Bozo piorou tudo no Brasil. TUDO!

    LULA RECONSTRUIRÁ O PAÍS E VOLTAREMOS A SER FELIZES.

    LULA LÁ E NO 1o TURNO!

    ResponderExcluir
  2. "Sua derrota ("do bozo") —se calhar, já no primeiro turno— abrirá uma fresta através da qual, não sem dificuldades, nem da noite para o dia, talvez se possa construir, tijolo a tijolo, um país mais decente"

    Será com muitas dificuldades, sim.
    Mas o Brasil piorou tanto, tanto com bozo q é garantido q o país MELHORARÁ.

    Oxalá no 1o turno!

    ResponderExcluir
  3. Outro Brasil é NECESSÁRIO! Com o genocida na cadeia, pra começar!

    ResponderExcluir
  4. Não ficou pedra sobre pedra.

    ResponderExcluir