terça-feira, 27 de setembro de 2022

Merval Pereira - Aposta no escuro

O Globo

Ameaças de Bolsonaro à democracia deixaram em segundo plano a corrupção dos governos petistas, na campanha presidencial

À medida que se aproxima o dia da eleição, fica claro que não há apoio político nem militar para que o presidente Bolsonaro tente um golpe. As pesquisas mostram que hoje o bolsonarismo é resiliente, mas minoritário. O arroubo militar de querer encontrar nas urnas eletrônicas indícios de fraude foi neutralizado pela ação do Tribunal de Contas da União (TCU), que também fará uma auditoria técnica nelas, nos mesmos moldes pretendidos pelos militares.

A briga entre os políticos do Centrão e os assessores palacianos, na maioria militares, mostra que a unidade do apoio à reeleição está se esfacelando na mesma proporção em que cresce a possibilidade de o ex-presidente Lula vencer no primeiro turno, como mostrou a pesquisa do Ipec divulgada ontem. Quando Bolsonaro diz que vencerá no primeiro turno, com 70% dos votos, está desacreditando suas palavras, não as pesquisas. Cada vez menos pessoas acreditam nessa possibilidade.

A questão agora é saber, e só as urnas dirão, se a maioria dos eleitores resolveu dar um cheque em branco a Lula para se livrar de Bolsonaro quanto antes. Existe a possibilidade, aventada por setores liberais, de votarem em Lula para sepultar a farsa bolsonarista de prometer um governo liberal e entregar outro, intervencionista e antidemocrático. Parece uma distorção grande demais, mas no Brasil tudo é possível.

Bolsonaro não foi eleito em 2018 com base no eleitorado que tradicionalmente foi do PSDB, que nunca foi de direita, como o PT tentou marcá-lo? Era uma massa silenciosa de direita e extrema direita que se escondia no partido de centro-esquerda, o único a poder disputar a hegemonia com o PT, que consideravam o inimigo abominável, e não o adversário político. O PSDB apoiou Lula no segundo turno contra Collor e esteve sempre ligado a esse eleitorado, tendo apoiado Haddad no segundo turno da eleição de 2018.

A adesão do ex-tucano Geraldo Alckmin, que compõe a chapa com Lula, não é, portanto, uma anomalia, mas uma continuidade da postura dos tucanos originais contra uma extrema direita que não pode continuar destruindo o país. Quem tem razão é o ministro Paulo Guedes, ao dizer que o Brasil foi governado nos últimos 20 anos por partidos social-democratas, colocando na mesma corrente PT e PSDB.

Lula, que passou seus mandatos inteiros acusando os tucanos de lhe ter deixado uma “herança maldita”, hoje se diz saudoso do tempo em que PT e PSDB disputavam a Presidência da República. A velha guarda do PSDB hoje apoia Lula abertamente ou por mímica, como fez o ex-presidente Fernando Henrique. Os neotucanos assumem a candidatura de direita de Bolsonaro, fazendo com que seus fundadores se afastem da sigla, assim como fizeram anteriormente com o PMDB.

A dúvida que resta nestes últimos dias é dar esse cheque em branco ao PT, depois de toda a roubalheira que implementaram como instrumento de governo. O que poderia ser um obstáculo insuperável para Lula acabou ficando em segundo plano diante das ameaças de Bolsonaro ao regime democrático. Além de o governo “liberal” também ter se envolvido em diversos casos de corrupção, culminando com o orçamento secreto, cujo valor rivaliza com o rombo que o PT e aliados deram no mensalão e no petrolão.

Além da realidade que nos impõe a escolha mais uma vez do “menos pior”, há o fato de a persona de Bolsonaro ser antidemocrática genuinamente. O ex-presidente Lula pode ser acusado de tudo, muitas vezes merecidamente, mas não de antidemocrático. Embora muitos no PT o sejam, e a tentativa de controlar os meios de comunicação é uma prova disso. Lula começou a campanha raivosamente, com ameaças desse tipo, mas, à medida que entendeu que não seria bem-sucedido se continuasse naquele tom, a campanha foi se mostrando favorável a ele, e o ressentimento amainando.

Chamar Alckmin foi um gesto, reaproximar-se de Henrique Meirelles outro. Só o futuro dirá, mas o passado recente demonstra que reincidir na escolha de Bolsonaro, depois que ele se revelou por inteiro nestes quase quatro anos de governo, não é desculpável naqueles que não são extremistas.

Muitos continuam confiando em Paulo Guedes, que teve seus êxitos: PIB crescendo, embora pouco, inflação caindo, emprego normalizando, primeiro governo em 20 anos que terminará gastando menos em relação ao PIB, despesas com pessoal caíram, nova lei de saneamento, reforma da Previdência, autonomia do Banco Central, nova lei de falências, concessões. O problema é que essas conquistas econômicas não se refletem nos mais pobres, a inflação dos alimentos resiste. A gastança eleitoral pode desequilibrar o sistema fiscal, os juros altos para conter a inflação limitarão o consumo. Durante a pandemia foi fácil segurar salários de servidores, e as despesas com a Previdência caíram. Mas as pressões serão enormes.

 

10 comentários:

  1. "O arroubo militar de querer encontrar nas urnas eletrônicas indícios de fraude" - milicos passam vergonha como nunca.
    "Além da realidade que nos impõe a escolha mais uma vez do “menos pior” - vc, autor, não tem moral pra dizer isso. Apoiou o bozo e odeia Lula. ..., a caravana passa.
    Mas o pior é está pérola: "Muitos continuam confiando em Paulo Guedes, que teve seus êxitos". Êxitos? Em q mundo cê tá, autor? O Brasil piorou mais do q a média do mundo por causa do fator bozo/guedes.
    Tem mais incoerência no seu texto, mas deixa pra lá. Ou melhor: Lula lá, pro seu desespero.

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  2. A turma fanática não consegue entender nada só repete essas coisas absurdas desse ladrão traidor da Pátria que envergonha a nação
    Se você, deixar de babaquice e analisar bem o texto, o Merval ainda deu uma colher de chá pra esse bandido que assaltou o Brasil de dentro do Palácio do Planalto é a favor das drogas aborto , invasão do MST, ideologia de gênero, tudo que o brasileiro não concorda e vai eleger Bolsonaro

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  3. Engraçado, não votar no Lula significa votar no bozo?

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  4. Bolsonaro mente o tempo todo sobre tudo! Mente que vai ganhar no primeiro turno, talvez por saber que nem haverá segundo turno... Mente até que não é genocida...

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  5. Ou bem o Lula está vendido, como de costume, com a banca e vai trair seus eleitores novamente, ou não ganhará esta eleição.

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  6. Merval escreve do ponto de vista da classe média pudibunda. Não existe "cheque em branco ao PT". O que está em jogo é uma ameaça fascistoide a democracia e Lula e Alckmin são a frente democrática.

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  7. Tudo lorota, se o presidente fosse fascista mesmo, vocês todos já estariam presos há muito tempo , como ocorre com a oposição na Venezuela Cuba, Nicarágua e na China
    Bolsonaro é criticado, xingado e humilhado todos os dias e não prendeu ninguém , nem fechou nenhum jornal ,defende as liberdades em todo momento
    O povo brasileiro trabalhador não vota em ladrão , vai reeleger o presidente pode já ir se acostumando

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    1. Então tá, bozo num é fascista é democrata.

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  8. Não há alternativa,querendo ou não querendo.Bolsonaro precisa de oração e não de voto.

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