O Globo
Transição climática é um dos temas
ignorados por candidatos
À beira do primeiro turno, o brasileiro sai
menor que o Augusto Heleno e o Malafaia. Os grandes temas já abordados —
potência sexual, a cidade perdida de Ratanabá, Aristides e a volta do churrasco
com cerveja — mostram como o Brasil desistiu do futuro.
No conceito hétero-linguístico de Oswald de
Andrade, agora profético: somos um país cheio de gente dando adeus.
Bolsonaro, o capitão ufanista do
agronegócio, poderia responder: como no “celeiro” do mundo tem tanto brasileiro
passando fome?
A miséria antes de tudo é uma decisão
política — não é destino.
Basta entender que o governo preferiu zerar
imposto de importação do suplemento whey e não mexeu na alíquota dos
computadores.
Um bom PC, moderno e lépido, ajudaria os
estudantes, a produtividade nas empresas etc. Já o whey, bem...
A desigualdade não nasce em árvore; ela é cevada com afinco pelas elites e corporações. O imposto que as igrejas evangélicas não pagam; a aposentadoria privilegiada (e inexplicável) dos militares; a alíquota menor para o airbag dos motoqueiros etc. fazem falta para comprar merenda escolar.
O que seria melhor para o Brasil: um pastor
com jatinho ou crianças bem alimentadas e com computadores nas escolas?
Difícil engolir que os “ricos” artistas
como Chico Buarque e Gilberto Gil pagam impostos na fonte e os “apóstolos”
sejam isentos na pessoa física e na jurídica. Ao fim e ao cabo, as duas
ocupações trazem o bem à nossa alma, não?
É possível que Bolsonaro já esteja no final
da leitura de “Uma breve história da desigualdade”, de Thomas Piketty, onde o
economista francês anota: “O sistema legal internacional, calcado na circulação
descontrolada de capitais, sem objetivo social nem climático, assemelha-se na
maioria das vezes a um neocolonialismo em prol dos mais ricos”.
Não precisamos ir tão longe.
Pois a campanha eleitoral se avizinha do
primeiro turno sem tocar em temas definitivos para as atuais e as próximas
gerações. Voto não é dízimo, nem compra lugar no céu, mas ajuda a definir o
presente e o futuro.
Enquanto Bolsonaro faz motociata, dois
terremotos estão em curso, ainda maiores do que foi a Revolução Industrial — a
transição climática e a digitalização dos meios de produção.
Vejamos estes temas:
1) Transição climática. Faltam mostarda na
França, azeite na Espanha e água em regiões da China. A batata está assando
porque o planeta esquentou. Em breve, segundo cálculos do cientista Carlos
Nobre, se os agrotrogloditas não deixarem de derrubar a Floresta Amazônica, o
clima azedará a plantação de soja no Cerrado.
O Brasil é um país com DNA preguiçosamente
extrativista, acostumado a deixar o boi na sombra. A crise do clima — haja
vista o pacote de Biden nos Estados Unidos — mostra oportunidades de ganho,
seja ao manter a floresta em pé, seja ao embarcar na produção de energias
renováveis, ou ainda no estímulo a startups em áreas como saúde, educação, meio
ambiente e entretenimento. Um livro despretensioso como o de Bill Gates, “Como
evitar um desastre climático”, tirando seu viés “comunista”, traz exemplos de
diversos empreendimentos à luz da transição climática — como aplicativos para
coleta seletiva de lixo etc. Muitos deles já financiados por investidores “esquerdistas”
comprometidos com a descarbonização do planeta.
Do sofisticado mecanismo de crédito de
carbono ao incentivo do desenvolvimento de culturas originárias, há um cardápio
variado trazido como oportunidades pela crise climática.
2) Digitalização dos meios de produção.
Fábricas sem trabalhadores, processos industriais reduzidos, robôs no
telemarketing, autoatendimento nos supermercados e lojas, sensores substituindo
vigilância humana etc. Para não lembrar os exércitos quase sem soldados (exceto
o russo).
Lula foi sincero ao dizer que não tem
solução para o problema. Ex-torneiro mecânico, já viu de perto a navalha — sua
profissão foi extinta há muito. Por causa da robotização e do encurtamento das
etapas de produção.
Não se pense que o agronegócio será a
salvação da lavoura. Lá também a mecanização reduziu drasticamente a
necessidade de mão de obra.
Enquanto a digitalização é uma opção para a
baixíssima produtividade do trabalhador brasileiro — equivale quase à metade de
um alemão —, de outro lado será (caso já não seja) um dos maiores problemas
sociais a ser enfrentados pelo país. Faltam educação e treinamento. Haja vista
os paraquedistas caindo feito mangas e quebrando galhos em Ipanema e
Copacabana.
3) Estado social. Diversas cidades nos
Estados Unidos e na Europa já adotam o programa da renda mínima. Junto à
recapacitação de mão de obra.
4) Água. O agronegócio não paga imposto de
exportação da soja. A plantação intensiva no Cerrado usa quantidade brutal de
água e provoca a destruição da fauna e flora.
Plantando, tudo dá. Até faltar água.
Bozo já respondeu: não tem gente passa do fome no Brasil. Ele não vê ninguém pedindo pão. Kkkkk
ResponderExcluirBozo não lê e menos ainda um livro do Piketty.
ResponderExcluirO autor faz um comparação velada entre o coiso e Lula. Deve ser por dever de ofício, pra parecer equilibrado.
ResponderExcluirLula é muito mais capacitado pra resolver os problemas elencados pelo autor. No ambiente, por exemplo. Lula protege, bozo destrói. Estado social é com Lula; bozo o desmonta.
Lula ainda não tem solução pra informatização da produção mas com certeza a procura; bozo sequer sabe o q é isso.
Etc.
Enfim, um equilíbrio artificial por dever de ofício posto q inexistente.
Ele usou de ironia,claro,ao dizer que Bolsonaro já deve ter lido tal livro,rs.
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