O Globo
Agora, como há 50 anos, a maioria não pode
comemorar a Independência. No futuro devemos evitar tiranos, tiranetes e
desvios dos militares
Querida Independência. Não a posso
comemorar. De novo. Como há 50 anos, no sesquicentenário. Não que eu não
queira. Sou impedida pela mesma interdição. Naquele triste 1972, a data foi
roubada pelos militares, que a transformaram na apologia da ditadura que nos
esmagava. Agora, em plena democracia, as Forças Armadas participam novamente do
roubo. Elas se prestam ao inaceitável papel de se acumpliciar com um presidente
que usa a pátria e o poder armado como parte da sua propaganda eleitoral e da
sua campanha antidemocrática. Assim, completa-se a sina da nossa separação. Na
minha vida, terei passado por duas datas redondas, 150 e 200 anos, com o mesmo
sentimento de tristeza cívica.
No entanto, sempre soube que a verdadeira independência não é aquela que se marca no calendário, mas o movimento que tem raízes mais profundas e reais. Não um grito, não um rio, não um quadro a óleo. Venho das Minas dos conjurados e sei onde nasceu a ideia de um país autônomo e republicano. Entendo mais a história que se conta modernamente e que junta as conjuras e os levantes, as revoluções perdidas e os quilombos, a resistência dos divergentes e o resgate dos personagens esquecidos, como as mulheres, os pretos, os indígenas.
Por quem dobrarão os sinos amanhã? Por quem
os canhões darão os 21 tiros, os aviões se exibirão no ar, e os navios se
postarão nas águas da Guanabara? Não me pergunte, caríssima Independência, como
foi que os chefes militares nesses 200 anos aceitaram fazer tal ultraje ao povo
brasileiro e enfeitar o comício de uma facção política que tenta acuar o resto
do país. Amanheço nesta véspera ainda esperançosa de que os militares recobram
o brio e não aceitem ser o espantalho da Nação.
Uma data como esta tão completa nos obriga
à reflexão, para entender melhor o passado e programar o futuro. O ano de 1972
foi terrível. Os ossos de Dom Pedro foram recebidos pelo ditador Medici, enquanto
os porões dos quartéis militares torturavam. Hoje, o coração de Dom Pedro
passeia entre nós levado por outro imerecido portador. Portugal nos empresta a
cada 50 anos os restos de Dom Pedro e os entrega a mãos erradas. E o que isso
significa, senhora Independência? Uma atávica incapacidade de jogar os laços
fora, e o insistente oportunismo político. Enquanto isso, a figura do primeiro
Pedro continua desentendida. O país oscila entre vê-lo como o militar
libertador ou como o “demonão” devasso.
A realidade é mais complexa que os
estereótipos, a história real, mais interessante que a oficial. O rei que
morreu aos 36 anos de tuberculose tendo comandado dois países, liderado o
movimento de independência de um em relação ao outro, vencido uma revolução liberal
contra o próprio irmão, legando os dois tronos aos seus filhos, é bem mais
fascinante do que certos detalhes da sua vida. O acordo em que aceitamos pagar
metade da dívida externa que Portugal contraiu para nos atacar é parte da nossa
ambiguidade.
Querida independência. Este não é um
momento fácil no Brasil. O tempo nos mostra, entretanto, que sempre haverá o
futuro pelo qual trabalhar quando o presente é áspero. A esperança é teimosa
como a verdade. Nos tempos do sesquicentenário, a democracia poderia parecer
uma esperança vã. Mas ela se realizou anos depois. Então sei que haverá outras
independências no futuro.
Um país não se inaugura num dia específico,
por isso a ideia de um Dia da Pátria serve como marcador do tempo, mas não para
registrar a verdade histórica. O Brasil foi sendo feito aos poucos por mais
mãos do que conseguimos contar. Continuará sendo feito nos próximos anos. Não
me entenda mal, prezada Independência. Não cometo a desfeita de ignorar seu
dia. Datas como a de amanhã, o 7 de setembro, servem para pensarmos
profundamente no sentido de tudo o que nos trouxe até aqui e fazermos um pacto
com o futuro. Agora, como há 50 anos, apareceram governantes que se dizem donos
do país. Isso devemos impedir que volte a acontecer. Os tiranos e tiranetes.
Agora, como há 50 anos, as Forças Armadas abusam de seu mandato. Isso é
necessário evitar que se repita.
Senhora Independência, amanhã eu a verei de longe, mas não indiferente. O governante do momento a sequestrou, e isso impede que milhões de brasileiros entrem na festa. Sei que não será sempre assim tortuosa a nossa história. Haverá o dia de uma celebração mais harmoniosa no futuro. Até breve.
Tristeza cívica! Eis o sentimento tão bem declarado pela jornalista, diante da estupidez do governo federal neste momento em que poderíamos comemorar 200 anos de independência, mas somos ameaçados por um canalha eleito que arrasta lideranças militares para o esgoto donde veio, ameaçando nossa frágil democracia.
ResponderExcluirDia sete será o dia da palhaçada,aliás,hoje.
ResponderExcluirTanto ódio, tanto ressentimento, semelhante ao fervor de fanáticos da seita negra , nenhuma palavra que preste, ninguém tem coragem de defender esse Bandido , o Lula ladrão , que do Palácio do Planalto coordenou o maior assalto ao Brasil, roubou todas as estatais e seus fundos de pensão, o PT deixou o Brasil em recessão, 12 milhões de desempregados e um desalento moral profundo
ResponderExcluirA cúpula da quadrilha do PT deve estar apavorada com as últimas pesquisas da Quest que já ponta Bolsonaro na frente do Lula na região Sudeste, o Sul, o Centro-Oeste e o Norte Bolsonaro já é maioria faz tempo
A recente pesquisa do Instituto Paraná aponta empate técnico Lula 40% e Bolsonaro 36,7%
A última Fronteira será o nordeste que vai mostrar que não aceita mais o ladrão mentiroso
Pelo andar da carruagem não me surpreenderia o presidente reeleito no primeiro turno