Editoriais / Opiniões
A intolerável ameaça de Bolsonaro
O Estado de S. Paulo
A poucos dias da eleição, o presidente continua ameaçando descumprir a vontade do eleitor. O País não pode ser refém do golpismo. As instituições têm os instrumentos para puni-lo
O presidente da República, Jair Bolsonaro,
manifestou mais uma vez sua disposição de não respeitar a vontade do eleitor
caso esta lhe seja desfavorável. Este jornal, que considera a alternância no
poder e o respeito às instituições como algumas das mais preciosas bases da
democracia, entende que é inaceitável que qualquer candidato, sobretudo na
condição de presidente da República, lance suspeitas infundadas sobre o
processo eleitoral e sobre a lisura da Justiça Eleitoral, tentando, assim,
deslegitimar o resultado das urnas.
No Jornal da Record, quando o repórter
lhe perguntou se aceitará o resultado das eleições caso seja derrotado,
Bolsonaro respondeu: “Olha, eu vou esperar os resultados”. Na sequência, ainda
levantou suspeitas sobre a imparcialidade da Justiça Eleitoral. Escancaram-se,
assim, suas pretensões golpistas. As instituições precisam estar em alerta
máximo.
Seguindo a cartilha do mau perdedor, Bolsonaro começou já em 2020 suas agressões ao sistema eleitoral, afirmando que as urnas eletrônicas eram suscetíveis de fraude. Depois, foi além, e, sem nenhum indício digno de nota, muito menos prova, disse que as eleições de 2014 e as de 2018 foram fraudadas.
Bolsonaro afirma que as urnas não são
auditáveis. Mentira: elas têm 10 camadas de auditoria e seu código-fonte é
aberto à inspeção das instituições. Afirma que as urnas são vulneráveis a
ataques de hackers. Mentira: elas não entram em rede nem são acessíveis
remotamente.
Se é lamentável que as instituições e as
inúmeras demonstrações de integridade das urnas não tenham contido a estratégia
sediciosa do presidente da República, é também um sinal do fracasso do
bolsonarismo que ele não tenha logrado arrastar o mundo-político institucional
para suas teses – e práticas – conspiratórias. Nenhum ator político relevante –
nem sequer seus asseclas do Centrão –, nenhum dos Poderes da República, nenhuma
instituição da sociedade civil corrobora sua desconfiança. Ainda assim, o
presidente incitou o Ministério da Defesa, na tentativa de implicar as Forças
Armadas, a realizar uma “apuração paralela” e flagrantemente inconstitucional
das urnas. Chegou ao absurdo de convocar embaixadores internacionais para
declarar que nossa democracia é fraudulenta.
É paradigmático que em 2021, quando o
coronavírus ainda dizimava a vida de milhares de brasileiros e fustigava a
economia do País, Bolsonaro tenha sequestrado a agenda do Congresso para uma
pauta natimorta e sem nenhum clamor popular: o voto impresso. “Vai ter voto
impresso em 2022 e ponto final”, disse na ocasião em mais um arroubo
autoritário. “Se não tiver voto impresso, é sinal de que não vai ter eleição.”
Nada exprime melhor, quase que literalmente, a cortina de fumaça
ininterruptamente regurgitada pelo Palácio do Planalto para disfarçar o seu
desgoverno que a fuligem preta dos blindados mobilizados por Bolsonaro para
intimidar o Parlamento no dia da votação sobre o voto impresso.
A ex-presidente Dilma Rousseff exprimiu os
sentimentos de muitos políticos – incluindo o do próprio clã Bolsonaro – ao
afirmar que “pode fazer o diabo quando é hora das eleições”. O presidente vai
além, e se mostra disposto a fazer o diabo para subvertê-las. Bolsonaro, que
encerrou sua carreira militar com ameaças de bombas a quarteis, agora ameaça
implodir o resultado das urnas.
É inaceitável que paire, após três décadas
de redemocratização, o fantasma do golpe sobre as eleições. Ainda que Bolsonaro
reedite com estonteante frequência suas acusações fraudulentas, não é tolerável
normalizar esta atmosfera de exceção.
Mas só notas de repúdio não bastam. Há
meios legais para punir eventuais atentados ao processo eleitoral. Há a
legislação eleitoral, há a Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito e há
a Lei dos Crimes de Responsabilidade. Bolsonaro já é investigado pelo TSE por
difundir informações falsas sobre o processo eleitoral. A Constituição legou ao
Ministério Público, à Polícia Federal, ao Judiciário e ao Congresso todos os
instrumentos necessários para impedir que as ameaças de Bolsonaro à liberdade
política dos brasileiros e seus crimes contra a vontade do eleitor não fiquem
impunes.
O resgate da diplomacia
O Estado de S. Paulo
Mesmo degradado por lulopetismo e bolsonarismo, patrimônio diplomático está à disposição de cidadãos para defender e alicerçar interesses do País na construção da nova ordem global
A necessidade é a mãe da invenção. Um
século antes dos teóricos das relações internacionais arquitetarem o conceito
de soft power, o Barão do Rio Branco – consciente de que nossa Nação foi
erguida na periferia do mundo por colonizadores da periferia da Europa
mesclados a povos periféricos da América e da África, e de que seu lugar no
mundo não seria definido por seu poderio bélico ou econômico – fundou os
pilares da diplomacia republicana no “poder inteligente”: a paz e a
prosperidade como fim; o Direito como base; a negociação, a persuasão, o
comedimento, o apreço às organizações multilaterais e à colaboração
internacional como meios.
Com essas “armas” a República traduziu
necessidades internas em possibilidades externas, garantindo a integridade do
território, construindo pontes comerciais e cooperando para uma ordem global
baseada em regras. Com a arte do consenso, Rio Branco consolidou nossas
fronteiras e mais tarde Juscelino Kubitschek, por exemplo, aproveitou brechas
na bipolaridade Leste-Oeste.
Esses ideais foram corporificados no
Itamaraty e consagrados na Constituição. Os quadros rigorosamente selecionados
e formados do Itamaraty são modelo de excelência para o serviço público por sua
competência e credibilidade. Sua tradição universalista e pragmática de não
intervenção em outros Estados, observância dos tratados e condução técnica,
isenta e não dogmática dos interesses nacionais foi cristalizada nos princípios
constitucionais da adesão aos valores da democracia, da autodeterminação dos
povos, da solução pacífica de conflitos e da cooperação para o progresso
humano. Com eles, FHC se valeu das políticas domésticas de consolidação da
democracia, estabilidade da moeda, responsabilidade fiscal, abertura econômica
e respeito aos direitos humanos para elevar o País a um novo patamar no palco
global.
Esse patrimônio foi dilapidado pelo
lulopetismo e o bolsonarismo, que – excetuado o hiato de Michel Temer –
governaram o País nos últimos 20 anos e são favoritos a governá-lo por mais 4.
Pretextando “autenticidade”, Lula da Silva e Jair Bolsonaro deram azo a
vulgaridades e indiscrições que conspurcaram a liturgia do cargo. Mais do que
afinidades de estilo, há as de método: ambos submeteram interesses de Estado
aos de governo e os de governo aos de suas facções. Seu voluntarismo e
sectarismo – particularmente evidentes no alinhamento de Bolsonaro ao
reacionarismo norte-americano e no de Lula a toda forma de “antiamericanismo” –
produziram, com feições diversas, o mesmo resultado: isolamento e desperdício
de oportunidades.
Com instrumentos retrógrados, forjados em
mentalidades esquerdistas e direitistas dos anos 60 e 70, nem Lula nem
Bolsonaro têm condições de orientar o País em meio às metamorfoses de um mundo
multipolarizado em plena revolução digital. Nem por isso o Brasil deixa de ser
uma democracia multiétnica de dimensões continentais, que têm as chaves para
equacionar o tripé – alimentar, energético e ambiental – no qual repousam os
anseios da humanidade por um desenvolvimento sustentável.
Se não se pode esperar que a energia e a
lucidez para defender os interesses do País e restaurar seu protagonismo na
Torre de Babel contemporânea venham do centro do poder, do Planalto, elas devem
vir de sua periferia. Amparados pelos municípios, onde a cidadania viceja, e
Estados, que gerem os temas de interesse da população (saúde, transporte,
segurança, educação), a Academia pode construir pontes culturais com as nações,
assim como o empresariado pode construir pontes comerciais. Essas forças
difusas devem convergir no Congresso, a quem cabe defender a independência e a
excelência do Itamaraty e fiscalizar operações com recursos nacionais.
Nutrindo-se da herança de Rio Branco – da
fé na “força do Direito”, da “cordura, desinteresse e amor da justiça”
entranhados na tradição diplomática nacional –, esses agentes podem contribuir
para reintroduzir o Brasil “na esfera das grandes amizades internacionais a que
tem direito pela aspiração de sua cultura, pelo prestígio de sua grandeza
territorial e pela força de sua população”.
Deixem o BC trabalhar em paz
O Estado de S. Paulo
Candidatos ameaçam intervir nos juros, desconhecendo a teoria, a prática e os padrões da política monetária no Brasil
Responsável principal pelo combate à
inflação, o Banco Central (BC) destacou-se nos últimos 20 anos, na
administração federal, pelo empenho e pela eficiência no cumprimento de suas
funções. Desviou-se de seus padrões, no entanto, por menos de dois anos, quando
a presidente Dilma Rousseff interferiu em sua política, abrindo espaço para uma
disparada de preços. A autonomia da instituição, consagrada há muito tempo em
economias avançadas, só seria oficializada no Brasil em fevereiro de 2021, com
a aprovação da Lei Complementar n.º 179. Mesmo assim, candidatos à Presidência
da República têm falado em promover mudanças na atuação do BC e até, no caso do
pedetista Ciro Gomes, em fixar limites para os juros. Mais moderado, mas também
com amadorismo, o petista Lula da Silva propõe ampliar os objetivos da
autoridade monetária.
A proposta de uma “lei antiganância”,
anunciada pelo candidato Ciro Gomes, expressa uma combinação de voluntarismo e
de ingenuidade econômica. Resumo da ideia: “Você toma R$ 100 emprestados e, qualquer
que seja o prazo, quando você pagar R$ 200, a lei determina a quitação”. Não
basta boa intenção para salvar uma ideia. Tabelamento de juros já foi tentado,
nunca deu certo e, em muitas ocasiões, prejudicou quem precisava do crédito.
Mas essa é apenas a fórmula mais tosca de interferência no sistema financeiro.
A sugestão do candidato Lula é mais
sofisticada, mas um tanto redundante. O BC precisa, segundo ele, buscar algo
mais que a estabilidade dos preços. Precisa, disse o petista, cuidar também de metas
de emprego e de crescimento econômico. Sugestões desse tipo são geralmente
inspiradas no famoso duplo mandato do Federal Reserve (Fed), o banco central
americano. Mas pessoas informadas sobre o assunto conhecem dois fatos nada
misteriosos: em primeiro lugar, o Fed normalmente leva em conta o objetivo de
emprego compatível com uma certa meta de inflação (hoje fixada em 2%), que
normalmente é o ponto de referência mais importante. Em segundo lugar, os
dirigentes do BC, no Brasil, costumam avaliar, em suas deliberações, os
impactos da política monetária no ritmo da atividade econômica e no nível de
emprego.
Esse comportamento é tradicional. Além
disso, a Lei Complementar n.º 179, depois de indicar como objetivo fundamental
a estabilidade de preços, acrescenta, num parágrafo, a seguinte determinação:
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental, o Banco Central do Brasil também tem
por objetivos zelar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro,
suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno
emprego”.
Os candidatos à Presidência da República agirão muito bem se abandonarem as pretensões de intervir na política monetária e de regular de forma voluntarista o mercado de crédito. Farão bem se observarem as experiências acumuladas no Brasil e no exterior, deixando de lado ideias já desacreditadas na academia, nas administrações sérias e nos mercados. Em termos mais simples, deixem o BC trabalhar em paz.
Partidos têm de abrir mais espaço a suas
candidatas
O Globo
Maioria trata candidaturas femininas como
mera obrigação — e muitos nem sequer cumprem a lei
O Brasil aproxima-se de mais uma eleição
cujo resultado, muito provavelmente, manterá o desequilíbrio crônico de gêneros
no Legislativo. As mulheres são apenas 14,6% do atual Congresso — parcela muito
aquém dos 51% que, de acordo com o IBGE, representam na população. Não está
prevista nenhuma alteração substancial nesse percentual, apesar de todas as
políticas de incentivo a candidaturas femininas.
Não tem faltado esforço da Justiça
Eleitoral para que haja uma maior participação da mulher na política,
iniciativa aceita a contragosto pelos partidos. Por lei, elas devem representar
no mínimo 30% das candidaturas e receber igual proporção do fundo eleitoral.
Para as eleições de domingo, já havia sido homologada até o início da semana a
candidatura de ao menos 9.890 mulheres, de acordo com o Tribunal Superior
Eleitoral.
É certo que se trata de um número recorde, acima das 9.204 candidatas de 2018 e das 8.123 de 2014. Mesmo assim, o contingente feminino se mantém estagnado na faixa dos 30% fixados em lei. Nas eleições de domingo, haverá 34% de candidatas, apenas dois pontos percentuais acima dos 32% de 2018, que ficaram um ponto acima dos 31% de 2014.
Os partidos não têm mostrado afinco para
ampliar as candidaturas femininas às Casas Legislativas para além do patamar
mínimo de 30% fixado na legislação de 2009. É sintomático que a maioria das 32
legendas tente apenas cumprir burocraticamente a cota. Muitas nem isso têm
feito.
Levantamento do GLOBO constatou que 84 chapas para deputado estadual ou federal de 23 partidos — praticamente todos com bancada no Congresso — a descumprem. Entre eles PL, MDB, PSD, União Brasil, Novo, a federação PSDB-Cidadania, a federação PT-PCdoB-PV, PSOL-Rede, e vários outros. Mesmo em partidos de esquerda, campo que dá prioridade ao equilíbrio de gênero, há dificuldades em atrair mulheres para a política. Na disputa pelo Planalto há cinco mulheres (Simone Tebet e Mara Gabrilli, pela coalizão MDB/federação PSDB-Cidadania/Podemos), Soraya Thronicke (União Brasil), Vera Lúcia (PSTU) e Sonia Manzano (PCB). Pelas pesquisas, nenhuma tem chance de ir ao segundo turno.
Não basta apenas uma candidata se
apresentar ao partido ou ser convidada. É preciso, para regularizar a
candidatura, obter os recursos do fundo eleitoral. Outro levantamento do GLOBO
constatou na semana passada que aproximadamente uma em cada três candidatas
ainda não havia recebido o financiamento de sua campanha. Estavam nessa
situação 2.743 mulheres. As legendas com mais candidatas à espera de dinheiro
do fundo eram PROS, PRTB e PMB.
A três dias do primeiro turno, ainda não
surgiu nenhum caso de “candidatas laranjas” como em 2018 no então PSL, do
candidato à Presidência Jair Bolsonaro. Candidaturas femininas eram lançadas
apenas para obter acesso ao dinheiro do fundo, sem transferi-lo à campanha.
Será um avanço se a ação da Justiça Eleitoral, do Ministério Público e da PF em
2019 tiver servido para intimidar novos golpistas. Mas avanço para valer só
haverá quando os partidos passarem a levar a sério o desequilíbrio de gênero e
fizerem de suas candidatas protagonistas da política.
Brasil precisa criar uma política de Estado
para preservar a Amazônia
O Globo
Para deter crime e devastação, região
deveria estar no topo da agenda do próximo presidente
A Amazônia precisa
estar no topo da agenda do próximo presidente. Mais que dobrou a emissão de gás
carbônico da floresta entre 2019 e 2020, segundo o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe). Setembro foi o pior mês de queimadas desde 2010.
Cientistas já haviam constatado que o Leste emite mais gases de efeito estufa
do que absorve. Agora, o mesmo ocorre no Oeste, lado mais preservado. O
calendário do imenso desastre ambiental na Amazônia avança rápido, à revelia
dos políticos.
A omissão do Estado e a dimensão do esforço
necessário para recuperar a região — entregue à exploração ilegal de madeira,
ouro e terra — estão expostas em trabalhos do Instituto Igarapé, do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública e do Centro Soberania e Clima, com apoio do
Instituto Clima e Sociedade. Duas pesquisas fazem o inventário dos problemas
que inibem a presença do Estado na região. Reverter o quadro não é simples, mas
é vital para o futuro do Brasil, do continente e do planeta.
Os quatro anos de governo Bolsonaro
permitiram que se consolidassem alianças entre, de um lado, madeireiros e
garimpeiros ilegais e, de outro, organizações criminosas. Estas são
responsáveis pela segurança nos garimpos, nos acampamentos e por inúmeros
negócios ilegais que se estabelecem nesses locais. Os rios que cortam a
Amazônia são usados pelo tráfico de drogas, que tornou os crimes ambientais
ainda mais graves. Hoje estão presentes na região todas as principais facções
criminosas do país, além das regionais.
A maior parte do aparato policial está
restrito às grandes cidades. Governos estaduais precisariam de meios para
deslocá-lo com rapidez, de modo a coibir o crime em todo o território. Mas as
condições são precárias. Há dois anos, as polícias civil e militar contavam com
apenas quatro aviões e dois helicópteros para sobrevoar os 5 milhões de quilômetros
quadrados da Amazônia Legal, além de 182 embarcações para navegar em 20 mil
quilômetros de rios. A certas localidades, leva-se mais de duas semanas de
barco para chegar. Enquanto isso, o crime dispõe de pelo menos 1.269 pistas de
pouso clandestinas, segundo levantamento com base em imagens de satélite — um
quarto delas situadas a uma distância de menos de 20 quilômetros de garimpos
ilegais.
Os estudos fazem mais de 90 sugestões
objetivas para o Estado poder governar a Amazônia, divididas em três eixos:
carências estruturais e de governança, combate aos crimes ambientais e combate
aos crimes violentos. Tais ações resultariam na desarticulação do sistema
econômico que se beneficia do desmatamento, para então erguer e valorizar
cadeias produtivas assentadas na preservação. “É preciso uma nova lógica de
desenvolvimento econômico para a região”, afirma a diretora de pesquisa do
Igarapé, Melina Risso.
Nada disso foi feito durante o governo Jair Bolsonaro. Ao contrário, houve o desmonte da estrutura de fiscalização e combate à devastação, incentivando a destruição da floresta e as atividades ilegais. O Brasil não pode mais perder tempo para cuidar da região. É estratégico e urgente.
Tristes episódios
Folha de S. Paulo
Não há como afirmar que campanha é mais
violenta, mas motivo de temor é sabido
Nos últimos dias e semanas, lamentáveis
casos de violência associados a motivações políticas, de gravidade
variada, tornaram-se
mais frequentes no noticiário.
O primeiro caso a chamar a atenção nacional
se deu em julho, ainda na pré-campanha, na cidade de Foz do Iguaçu (PR), onde um
policial penal bolsonarista matou a tiros um guarda municipal petista.
Neste setembro, em dois homicídios a faca,
outro simpatizante do presidente confessou ter matado, segundo a polícia, um
eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Confresa (MT), e um apoiador de
Jair Bolsonaro (PL) foi assassinado por um simpatizante do PT em Rio do Sul
(SC), por razões ainda não inteiramente esclarecidas.
Também está sob investigação outra morte de
um lulista, em Cascavel (CE). Em meio aos exemplos extremos há ainda relatos ou
evidências de ameaças, agressões e balas disparadas contra militantes,
candidatos e comitês eleitorais.
É impossível afirmar com segurança se o
número de crimes por motivos políticos neste ano destoa dos registrados em
períodos anteriores, dada a ausência de estatísticas e até de apurações
conclusivas. Trata-se de um um país de 215 milhões de habitantes e triste
tradição de violência, com média de mais de 100 homicídios ao dia.
As causas de preocupação, no entanto, são
conhecidas no atual cenário de polarização ideológica e discursos
radicalizados. Se o PT dispõe há tempos de uma militância inflamada, não raro
intolerante e agressiva, Bolsonaro e seus seguidores elevaram a truculência a
um novo e alarmante patamar.
Segundo o
Datafolha, 40% dos brasileiros aptos a votar consideram elevada a
probabilidade de haver violência no dia da eleição —o primeiro turno ocorre no
domingo (2)— e 9% dizem que podem deixar de votar por medo.
Os temores estimularam algumas providências
por parte do Judiciário. O Tribunal Superior Eleitoral proibiu o
manejo de armas de fogo a menos de 100 metros dos locais de votação,
com exceção para agentes de segurança em serviço; o Supremo Tribunal Federal
derrubou normas baixadas por decretos que facilitavam o acesso a armas.
Entidades chegaram a defender medidas
restritivas ainda mais amplas, que atingiriam caçadores, atiradores esportivos
e colecionadores (os chamados CACs), além dos clubes de tiro. É duvidoso,
porém, que haja tempo hábil para examinar e sobretudo pôr em prática regras
muito draconianas, se é que elas seriam de fato eficazes.
Espera-se, pois, que a diligência do poder
público, em todas as instâncias, e a civilidade de eleitores e candidatos
concorram para mais uma eleição pacífica no mais longo período democrático do
país.
Garimpo sem controle
Folha de S. Paulo
Atividade dispara fora da lei, e nos
últimos anos com o beneplácito de Bolsonaro
A atividade de garimpo, infelizmente,
tornou-se sinônimo de extração ilegal e clandestina de minerais. Ele avança
sobre a floresta amazônica, acima de tudo, com ameaça especialmente grave para
populações indígenas.
O diagnóstico se encontra em relatório da
iniciativa MapBiomas,
que reúne instituições de pesquisa, empresas e ONGs no mapeamento de usos e
transformações do território nacional. Constatou-se que, de 2010 a 2021, o
garimpo expandiu-se mais que a mineração industrial, praticada legalmente.
A garimpagem atingia no ano passado 196 mil
hectares (ou 1.960 km²), quando em 2010 ainda eram 99 mil ha. Mais de 91% da
devastação por ela induzida se deu na Amazônia, gerando imagens chocantes de
rios e igarapés desfigurados.
Já a mineração convencional passou de 86
mil para 170 mil ha no período, a maior parte disso concentrada em Minas
Gerais. A destruição causada pela garimpagem afeta sobretudo Pará e Mato Grosso
(92% do total mapeado).
Se fosse só pela área degradada, o dano do
garimpo poderia parecer limitado, afinal ela corresponde a pouco mais que a
superfície do município de São Paulo. Sua proliferação, porém, vai além das
árvores derrubadas em torno das lavras.
Retroescavadeiras, dragas e jatos usados
para revolver o terreno e separar minerais como ouro e cassiterita afetam
irremediavelmente os corpos d’água. Sedimentos assoreiam e poluem os rios, não
raro contaminados também por mercúrio a envenenar os peixes e as pessoas que os
consomem.
Ainda maior é a chaga social que a
atividade deixa em seu rastro. Garimpeiros não se detêm diante das divisas de
terras indígenas, que viram a exploração desregrada aumentar 625% na década
considerada pelo MapBiomas.
Mais que inutilizar rios e igarapés para
consumo de água, pesca e navegação, o garimpo leva doenças e conflitos para as
aldeias. Assassinatos e estupros se avolumam. Grupos indígenas se dividem,
contra e a favor da exploração mineral, que ao final só traz renda para parcela
pequena da comunidade.
No governo de Jair Bolsonaro (PL), por fim,
as invasões de terras indígenas contam com a omissão interessada do mandatário.
Ele se opõe até a órgãos de Estado, como o Ibama e a Polícia Federal, quando
estes exercem a obrigação de coibir a atividade, determinando que interrompam a
destruição das máquinas do garimpo.
BC poderá ter de rever estratégia após as
eleições
Valor Econômico
Um fator desinflacionário como a manutenção
dos cortes do ICMS sobre bens essenciais, será mantido, ganhe Lula ou Bolsonaro
A ata da reunião do Comitê de Política
Monetária que encerrou o ciclo de alta dos juros em 13,75% aponta três fatores
essenciais para que a inflação caminhe para meta no horizonte relevante, que
inclui 2024: os efeitos de políticas monetárias muito mais restritivas que o
previsto no cenário externo, o grau de ociosidade da economia e a perspectiva
da inflação de serviços. O cenário de riscos para a inflação é simétrico, mas
talvez possa deixar de sê-lo com o desfecho em breve da eleição presidencial.
O acelerado ritmo de aumento de juros nos
Estados Unidos, na zona do euro e nas economias desenvolvidas em geral (exceto
Japão) teria, segundo a ata, “impacto desinflacionário no médio prazo”, ao
esfriar a economia e, por conseguinte, os preços das commodities e dos bens em
geral. No entanto, a “reprecificação” dos ativos no curto prazo “adicionam
incerteza sobre o efeito na inflação brasileira”.
Para a inflação, o ativo relevante é o
dólar, que disparou em relação às principais moedas, chegou a subir mais de 2%
em um único dia (segunda-feira) e situa-se na casa dos R$ 5,35. Estar no fim do
ciclo de aperto monetário e não no meio do caminho, como o Fed, ou no início,
como o Banco Central Europeu, traz alguma vantagem - ter uma taxa de juro real
maior do que as taxas externas, o que amortece o impacto da valorização da
moeda americana.
Este parece ser o caso, com o real e o rublo figurando entre as poucas moedas que escaparam da desvalorização no ano. A menos que as altas de juros lá fora produzam ondas de instabilidade inesperadas, o real, que já perdeu bastante valor, parece já ter feito a maior parte do caminho da desvalorização. O fortalecimento do dólar teria efeito mitigado sobre a inflação doméstica, ao contrário do que ocorreu intensamente no ano passado. Por outro lado, a alta do dólar age como amortecedor para que o elevado juro real doméstico exerça seu poder natural de fortalecer o real, o que aceleraria a desinflação em curso.
Ou seja, um repique da inflação para longe
das metas é pouco provável, mas o cenário é muito incerto.
O bom desempenho da economia no segundo
trimestre e a recuperação rápida do mercado de trabalho levantaram dúvidas
sobre se o país já teria ultrapassado sua taxa de expansão potencial, de resto
baixa - analistas citam algo entre 1,5% e 2%. Se for o caso, o processo de
desinflação levaria mais tempo, assim como a manutenção da taxa de juros atual
para levar a inflação à meta.
O Banco Central elaborou um cenário
alternativo e insinuou que esse ainda não é o caso, ressalvando que “medidas de
grau de ociosidade de uma economia possuem elevada incerteza”. O BC supôs que o
hiato do produto fosse zero no terceiro trimestre, isto é, a economia opera a
plena capacidade, e o resultado foi que a inflação projetada para 2023 seria de
4,9% e de 3% em 2024. Estes números são superiores aos 4,6% e 2,8%,
respectivamente projetados pelo Copom, com base em um câmbio de R$ 5,20 e as
expectativas constantes do Focus.
Em relação aos serviços, os prognósticos do
Copom são mistos. A inflação menor retira inércia dos preços do setor, enquanto
que, a maior atividade econômica eleva “os riscos de pressões mais
persistentes”. Mesmo com a menor taxa desde novembro de 2021, a inflação de
serviços em agosto atingiu 8,75% em 12 meses, pouco abaixo dos 8,87% de julho.
O efeito da alta dos juros, que não atingiu ainda sua plena força, tende a
derrubar essa inflação, mas esse efeito está sendo protelado pelos estímulos à
demanda concedidos em meio ao frenesi eleitoreiro do governo Bolsonaro.
A bússola do BC terá de procurar outro norte após as eleições. Um fator desinflacionário, presente no balanço de riscos, como a manutenção dos cortes do ICMS sobre bens essenciais, será mantido, ganhe Lula ou Bolsonaro (em cujo orçamento de 2023 está também a desoneração de impostos federais sobre combustíveis). Por outro lado, ambos prometem mais despesas e, no caso de Lula, com o fim do teto de gastos. Lula também deve buscar uma reação contracíclica ao desaquecimento da economia ancorada em gastos públicos em um momento em que o BC não venceu a batalha de levar a inflação à meta. Prometeu ainda retomar a política de valorização do salário mínimo, com aumentos reais, que tendem a aquecer o setor de serviços. Os riscos fiscais crescem e o BC poderá ter de rever sua estratégia em breve.
"presidente da República, Jair Bolsonaro, manifestou mais uma vez sua disposição de não respeitar a vontade do eleitor caso esta lhe seja desfavorável"
ResponderExcluirEle q tente o golpe. Será preso mais cedo. Não haverá anistia!
"Atividade (garimpo) dispara fora da lei, e nos últimos anos com o beneplácito de Bolsonaro"
ResponderExcluirTudo do bozo é fraudulento. TUDO!
LULA LÁ NO PRIMEIRO TURNO!
FORA BOZO!