Folha de S. Paulo
Ao votar, você responde por si mesmo e por
todos
Ciro Gomes,
candidato do PDT à Presidência, está empenhado em combater o "fascismo de
esquerda". Não se sabe exatamente o que é isso. Pregar voto útil seria uma
das expressões desse mal. Fosse assim, ter-se-ia a solução, não o problema. O
voto útil estaria para o "fascismo de esquerda" como o golpe para o
fascismo de direita. Então se faça a luz. Mas é preciso ir das palavras que
movem para os exemplos que arrastam.
Na quarta, em entrevista à Rede Vida, Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, voltou a fazer uma ameaça nem tão velada ao STF. Depois de reclamar de decisões do tribunal relativas a seus decretos ilegais sobre armas e a inquéritos que apuram agressões à ordem democrática, foi enigmático, como de hábito, com a garrucha da cintura: "Acredito que, depois das eleições, a gente resolva essa parada aí".
Vale dizer: está informando que, se
reeleito, continuará a investir no choque entre Poderes e vai procurar abalroar
o tribunal. No próximo mandato, o presidente de turno terá duas indicações para
a corte. Nos círculos bolsonaristas, fala-se de forma nem tão velada que, se
reeleito, Bolsonaro precisa ampliar o número de ministros para garantir a
maioria de que precisa para golpear as instituições.
Em Ariranha, no interior de São
Paulo, um
pesquisador do Datafolha foi covardemente agredido por Rafael
Bianchini, um bolsonarista convicto. Desferiu socos e pontapés, chamando o
outro de "vagabundo" e acusando o instituto de só entrevistar quem
vota no Lula. O Datafolha não é o único alvo. Brasil afora, pessoas a serviço
de Ipec e Quaest, entre outros, já relataram ameaças. Estimulados pelo
presidente e por ministros, seus partidários sustentam que essas empresas estão
a serviço do candidato do PT.
Luiz Henrique Crestani é empresário em
Santa Catarina. Postou um vídeo no Instagram em que ele e sua
mulher alvejam uma imagem de Lula com balas saídas de umas
geringonças enormes —espingarda semiautomática ou fuzil, sei lá. Acima da
imagem do candidato do PT à Presidência, há um convite, com o verbo no modo
imperativo, o que caracteriza, de forma inequívoca, uma incitação: "Atire
no ladrão".
O casal está num clube de tiro. Havia 159
entes dessa natureza no país até a chegada de Bolsonaro ao poder. Hoje, há mais
de 2.000. As lojas de armas e munições saltaram de 1.862 em junho de 2020 para
2.937 no mesmo mês deste ano. É a máquina multibilionária da morte. "Povo
armado jamais será escravizado", prega Bolsonaro em todo canto. É o único
presidente da história a defender a luta armada.
Em nota enviada à coluna de Malu Gaspar, de
O Globo, Crestani se revela o "cidadão de bem" destes tempos. Diz não
ser a "favor da violência e nem de agressões a quem quer que seja" e
que apagou o vídeo porque achou que pode "gerar repercussão para além do que
foi concebido". Sei. Foi concebido para quê?
Um eleitor de Lula foi morto a tiro. Outro,
a facada. Os casos de perseguição e agressão se multiplicam país afora. A cada
dia, os canalhas estão mais abusados e salientes. Guilherme Boulos (PSOL), nome
de projeção nacional e candidato a deputado federal, foi ameaçado
no centro de São Bernardo por um homem armado. Vai ver temia
ser escravizado pelo dirigente do MTST. O que acontece com anônimos que Boulos
não são?
"Sem temor nem perigo" —como
escreveu Padre Vieira ao distinguir os "ladrões que roubam e são
enforcados" dos que "roubam e enforcam"—, empresários convertidos
à seita recomendam a seus pares que demitam os trabalhadores que votam em Lula.
Depois dos exemplos, mais palavras. Sem
chance de chegar ao segundo turno, Ciro está mais empenhado em denunciar o
"fascismo de esquerda" que prega voto útil do que aqueles que tentam
tornar inútil o voto.
Como é mesmo o Sartre de "O
Existencialismo é um Humanismo"? Sim, precisamos de mais livros. Um
trecho: "Escolher ser isto ou aquilo é afirmar, concomitantemente, o valor
do que estamos escolhendo (...). Sou, desse modo, responsável por mim mesmo e
por todos e crio determinada imagem do homem por mim mesmo escolhido; em outras
palavras: escolhendo-me, escolho o homem."
Ciro escolheu o homem. E o homem.
Excelente texto. Não há comparação entre o fascismo de esquerda e o de direita - isso é conversa pra boi, digo, GADO dormir.
ResponderExcluirFora bozo!
Bolsonarismo = violência de todos os tipos!
ResponderExcluirIsto me lembra a boiada que o criminoso Ricardo Salles queria ir passando durante a célebre reunião ministerial de abril de 2020. Canalhas que se aproveitaram duma pandemia pra executar seus piores crimes! O genocida deveria ter cuidado da população brasileira, o criminoso ambiental era responsável por comandar a área ambiental do governo federal. Os malditos mentirosos fizeram EXATAMENTE O CONTRÁRIO do que a população esperava e queria. Receberam excelentes salários e traíram nossa população! CADEIA para estes criminosos!
ResponderExcluirO voto útil é apenas para abreviar o sofrimento,nada de fascismo.
ResponderExcluirAté a Tábata Amaral está pedindo o voto útil.
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