Folha de S. Paulo
E se Bolsonaro vencer? Será preciso refazer
o país desde o fim
Os números da
pesquisa Datafolha indicam que Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) tem chance de se sagrar vitorioso no
primeiro turno. Fossem os 50% a metade exata, poderia faltar o seu voto,
leitor. O embate se dá só no domingo, e a experiência indica que a gente só
acerta as previsões que antecedem as 48 horas depois do fato consumado. Neste
espaço, quando ainda se discutia a quimera da "terceira via", antevi um
embate bem mais acirrado entre os dois primeiros colocados do
que apontam as pesquisas. A ver. Certamente subestimei a disposição fanática
de Jair
Bolsonaro para a truculência contraproducente.
Caso as coisas se resolvam em favor de Lula
no dia 2 ou no dia 30, muitas linhas se produzirão para saber o que mais pesou
na definição do resultado. Foi o petista a conduzir uma campanha quase sem
erros —como avalio—, ou foi sua nêmesis a cometer toda sorte de desatinos para
manter unidos seus celerados? O que lhe terá garantido o conforto do segundo
lugar também terá impedido a sua vitória. "E se Bolsonaro vencer,
Reinaldo?" Bem, caras e caros, aí será preciso, um dia, refazer o país
desde o fim.
Há pelo menos três semanas se intensificaram as cobranças —oriundas mais das viúvas e dos viúvos da Lava Jato do que do mercado— para que o petista apresente o tal plano detalhado de governo, ou, então, afirma-se, o eleitorado estaria lhe dando "um cheque em branco", metáfora que, convenham, precisa, quando menos, ser atualizada. Vai ser o quê? Chave do Pix? Quem sabe o "aggiornamento" das figuras de linguagem induzam senão à modernização do pensamento, ao menos a uma perspectiva realista.
Tenho cá, como todo mundo, as minhas
ilusões sobre o futuro, mas o realismo é meu modo de ser otimista. Quando Lula
afirma que é preciso saber com que Congresso teria de governar para chegar a
minudências de um plano de governo, isso não é desconversa, mas reconhecimento
dos limites da realidade.
O Orçamento de 2023, por exemplo, é uma
peça de ficção, com a chancela de Paulo Guedes, que começou a sua trajetória no
governo como reformador do mundo e termina como corretor imobiliário de praias,
escrevendo a sua própria versão de "Bancarrota Blues", de Chico
Buarque. Eu o imagino, afetando uma inteligência que jamais terá, a cantar,
estalando polegar e dedo médio para acompanhar o ritmo: "Ninguém me tira
nem por mal/ Mas posso vender/ Deixe algum sinal"... É o Pestana do
liberalismo chinfrim. Explica-se por que tucanos e petistas o renegaram e foi
justamente Bolsonaro a lhe dar guarida.
Não há dinheiro previsto para pagar os R$
600 do Bolsa Família —"Auxílio Brasil" é bolsonarês arcaico. Os R$
200 a mais fazem parte do Pix de R$ 41 bilhões que Bolsonaro enviou para si
mesmo, junto com os benefícios pagos para caminhoneiros e taxistas. A tal PEC
apelidada de "Kamikaze" e a do ICMS dos combustíveis são
escancaradamente ilegais e concorrem para falsear Orçamento, teto de gastos,
preços, inflação, crescimento, arrecadação, tudo. Nada ficou no lugar. E se vem
exigir de Lula que detalhe, em meio ao mar revolto, cada trecho da trilha
quando —e se— chegar à terra firme? Pior: alguns donos do dinheiro que
condescenderam ou aplaudiram as lambanças do biltre reforçam a pressão. E há,
sim, os de boa-fé a fazer cobranças, mas representam a exceção.
Também não é despropositado que Lula apele
a seu compromisso passado com a Lei de Responsabilidade Fiscal para sinalizar a
indisposição para a lambança. Não prometeu, em 2002, alçar o Brasil a
"grau de investimento", condição reconhecida pelas três principais
agências de classificação de risco entre 2008 e 2009. Já o luminar da Escola de
Chicago chegou propondo a revolução liberal e termina seus dias como mascate do
nosso litoral. Se Bolsonaro perder, fiquemos atentos, restam ainda dois ou três
meses para planejar o dilúvio.
Estão aí os números do Datafolha.
A maioria entende, por ora, que o grande plano de governo é a democracia, tese
a que resistem as viúvas e os viúvos da Lava Jato. Ou não teriam colaborado
para jogar o Brasil no buraco com seu moralismo obtuso e autoritário, que é
sempre o túmulo da moral.
Broxonaro mente e Guedes justifica as mentiras do chefe! Por que um sujeito rico como o ministro serve de capacho pro genocida?
ResponderExcluirVc. Explicou o Guedes direitinho, ele é burro. Em vez dessa dinheirama no fim do governo, deveria ter deixado os pobres comer carne e não sopa de osso(inacreditável). Tomar yogurt de vez em quando (por que só eles podem?). Quanto a Disney, não foram muitos os que foram lá (dava para ele suportar). Essa dupla do mal vai ter que encarar essa derrota como carma. Vc. sempre esteve certo a respeito do bozo e ninguém acreditou, seu faro estava certo.
ResponderExcluirÓtimo artigo!
ResponderExcluirAnálise sensata de Reinaldo Azevedo.
ResponderExcluir