O Estado de S. Paulo
Hoje sem rumo e com milhões empobrecidos, o
Brasil poderá retomar o avanço a partir de 2023, se dispuser de um governo de
fato
Um bife e uma salada – para todos. Com
essas palavras, o ministro francês Valéry Giscard d’Estaing, magro e saudável,
contou a um robusto brasileiro, numa charge publicada há algumas décadas, a
fórmula da boa alimentação. Desigualdade, pobreza e fome eram temas
inevitáveis, naquele tempo, quando o lagarto calango, desconhecido na maior
parte do Brasil, se tornou fonte de proteína para nordestinos. A fórmula
simples, comida para todos, é requisito básico da ordem civilizada. Com a mesma
simplicidade, qualquer candidato poderia desenhar um programa para o novo
mandato presidencial. As necessidades, agora, são elementares e singelas. A
mais urgente, depois de quatro anos sem rumo, será a implantação de um governo.
E governar é muito diferente de mandar e de usar meios públicos, embora esse
fato, como tantos outros, seja ignorado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Governar é mais do que executar leis, administrar o dia a dia e manter a ordem. É definir objetivos, atender a demandas, desenhar planos e programas e construir o futuro. A maior parte dessas tarefas foi negligenciada a partir de 2019. O ministro da Economia, Paulo Guedes, nega a fome e acusa até o Banco Central de errar para baixo nas projeções de crescimento econômico. Mas é incapaz de ir além dos ataques e das bravatas e de apontar um rumo para o País. Nada fez, em quase quatro anos, para reverter a desindustrialização do Brasil – um dos primeiros, mais evidentes e mais importantes desafios para quem tiver de cuidar dos assuntos econômicos.
O retrocesso da indústria brasileira pode
ter começado há mais de 20 anos, mas ficou mais evidente há cerca de uma
década. Em julho, a produção industrial foi 17,3% menor que a de maio de 2011,
pico da série registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). A curva oscilou nesse período e pareceu, em alguns momentos, indicar
uma recuperação, mas a tendência foi mesmo de recuo. Alguns distraídos
confundem a desindustrialização do Brasil com a mudança observada em países
mais avançados, onde se fala de uma era pós-industrial.
Distraídos continuam falando, também, de um
suposto compromisso liberal de Paulo Guedes, como se liberalismo, na economia
contemporânea, consistisse em combater direitos trabalhistas e em cortar
tributos indiretos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Mas a
bobagem maior é reduzir o debate à aplicação de rótulos.
Muito mais séria é a discussão, ainda com
pouco efeito, sobre o custo Brasil, os entraves à modernização e à
competitividade e os obstáculos à integração no mercado global. Quase nada se
avançou nesse front, nos últimos anos. Falou-se muito sobre reforma tributária,
mas pouco se discutiu, no Executivo, a funcionalidade dos tributos. Pouco
atento à realidade das cadeias de produção e de circulação de bens, o ministro
da Economia chegou a defender a adoção do cumulativo, regressivo e desastroso
“imposto único”, já conhecido pela sigla CPMF.
É indispensável, sim, redesenhar o sistema
de tributos, a partir, porém, de boas propostas, algumas já apresentadas por técnicos
competentes. Também é preciso cuidar dos custos e da eficiência da
administração, mas isso requer muito mais que a limitada reforma de RH
projetada pelo Ministério da Economia. O retorno ao desenvolvimento econômico e
social depende de uma ampla reversão das políticas do atual mandato.
Não haverá modernização, nem prosperidade,
sem a reabilitação das políticas de educação e saúde, estraçalhadas nos últimos
quatro anos. Nem o financiamento de creches foi respeitado. Além disso, o
Executivo federal terá de se reconciliar com a cultura e com a atividade
acadêmica. O presidente – ninguém deveria esquecer – declarou guerra à ciência
e à tecnologia no começo de seu mandato, quando atacou o Instituto Nacional de
Pesquisa Espacial (Inpe) por mostrar, com imagens de satélite, o aumento de
queimadas na Amazônia.
Ao facilitar a devastação ambiental, o
presidente prejudicou a reputação do setor mais competitivo da economia
brasileira, o agronegócio, e deu argumentos ao protecionismo europeu. Combinada
com outras ações diplomaticamente desastrosas, a negação dos valores
ambientalistas contribuiu para deformar a imagem do País. Além disso, a ação
presidencial foi particularmente eficaz na aproximação com governos
autoritários. A visita de Bolsonaro a Vladimir Putin pouco antes da invasão da
Ucrânia foi um dos pontos mais altos dessa política.
Apesar dos elogios à ditadura militar, da
valorização da tortura e dos esforços para desacreditar o sistema eleitoral, o
presidente foi incapaz, até agora, de reverter a experiência democrática das
últimas décadas. Judiciário e Congresso funcionam e a imprensa permanece atenta
e vigorosa. A poucos dias das eleições, parece razoável apostar em tempos mais
luminosos, com valorização da democracia, reconstrução do governo e retorno ao
caminho do desenvolvimento e da criação de oportunidades, a partir de uma
agenda tão elementar quanto a garantia de comida para todos.
*Jornalista
O silencio da imprensa em relação a ditadura do STF com seu verdugo Alexandre de Moraes perseguindo e calando todos opositores é uma vergonha
ResponderExcluirAbaixo a ditadura do STF!
Viva as liberdades democráticas!
Lula ladrão seu lugar é na prisão!
ResponderExcluirConcordo com anônimo acima e também sinto falta do posicionamento firme contra ditadura do Daniel Ortega da Nicarágua que hoje persegue prende padres e bispos e vandalismos templos sagrados da igreja católica destruindo imagens de Santos e colocando fogo nas igrejas
ResponderExcluirLula e Daniel Ortega afundaram o foro de São Paulo, organização socialista que quer unificar a América Latina num grande país comunista , inclusive com moeda única
O gado desesperado. Num tem preço.
ResponderExcluirQ prazer!
O vara curta preso. E o gado mugindo...
O papagaio bolsonarista acima concorda com ELE MESMO...
ResponderExcluirBolsonaro foi mesmo um DESASTRE, como bem mostrou o colunista! Paulo Guedes não teve capacidade de planejamento e nem qualquer resistência aos impulsos demagógicos e antidemocratas do genocida! Bolsonaro prometeu carta branca pro Guedes, mas este sempre foi vassalo do capitão e do Centrão. Não foi chamado de Tchutchuca, mas foi tão bobo da corte quanto o miliciano mentiroso! Lula tem razão: são 2 fantoches do Centrão!
O papagaio bolsonarista das 4 primeiras mensagens, todas escritas por ele mesmo.
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