terça-feira, 20 de setembro de 2022

Vera Magalhães - Restam poucas cartas na manga para Bolsonaro reverter rejeição

O Globo

O que a última pesquisa Ipec mostra é que houve uma leve melhora de Jair Bolsonaro (PL) em vários indicadores até 29 de agosto, mas as ações e o histórico do presidente parecem ter neutralizado, desde então, os muitos esforços para torná-lo competitivo eleitoralmente e reverter sua rejeição.

A estagnação da lenta melhora de Bolsonaro se deu depois do até aqui único debate presidencial de que participaram ele e o líder nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no qual o presidente deixou a estratégia de associar o petista à corrupção de lado para atacar mulheres — jornalista e candidatas.

Desde então, outros reveses se apresentaram para a campanha à reeleição do presidente. Aa despeito da redução dos preços dos combustíveis, tão alardeada, se mantém alta a inflação de alimentos.

Bolsonaro apostou tudo no aumento de 50% do Auxílio Brasil e prometeu manter o benefício, mas mandou o Orçamento ao Congresso sem garantir o valor; além disso, outros programas sociais como Farmácia do Povo e Casa Verde e Amarela tiveram cortes de recursos.

Discurso sobre corrupção

A revelação, pelo UOL, do patrimônio imobiliário construído pelo clã Bolsonaro, em parte em dinheiro vivo, abalou ainda mais o já comprometido discurso de que não há corrupção no governo.

Diante desses acontecimentos, o presidente apostou tudo no 7 de Setembro, que também não parece ter surtido o efeito desejado de libertar um certo voto envergonhado ou renitente.

O que o Ipec mostra, sobretudo depois da virada de agosto para setembro, é a consolidação da liderança de Lula, que vem fazendo uma campanha cerebral, calculada para, a cada etapa, gerar fatos positivos que acalmem o mercado financeiro e o setor produtivo (industrial e do agro) e consolidar a percepção de que constrói em torno de si uma frente ampla.

A investida de Bolsonaro de um discurso feroz de fake news anti-Lula junto ao público evangélico foi eficaz: o presidente lidera com larga margem nesse segmento. Mas parece ter gerado um “efeito rebote” no eleitorado católico, que crava, segundo o Ipec, 53% de votos no petista.

Entre as mulheres, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro vai a 23 pontos. O petista também alarga a vantagem entre os mais pobres, no Nordeste, entre pretos e pardos e no segmento dos menos escolarizados. Bolsonaro cresce entre os que têm ensino superior.

Os ganhos eventuais de Bolsonaro em grupos específicos não subsistem diante do incremento em sua rejeição, de 46% para 50% desde que o Ipec passou a divulgar levantamentos semanais, em 15 de agosto.

Restam poucas alternativas

O problema para o presidente é que restam poucas cartas na manga de agora em diante. Até a questionável viagem ao exterior na reta final da campanha parece ter sido um tiro que saiu pela culatra, uma vez que, enquanto o presidente quebrou vários protocolos do funeral da rainha Elizabeth 2ª e ainda recebeu nova decisão da Justiça Eleitoral contrária à sua campanha, Lula aproveitou para avançar na pregação pelo voto útil e produziu um encontro com oito outros ex-candidatos a presidente de diferentes ideologias reunidos em torno de sua candidatura, alguns deles ex-opositores bastante vocais.

De agora em diante, Lula deve intensificar essa construção. A chegada de Henrique Meirelles ao barco pode ajudar a quebrar a resistência ao petista junto ao PIB, que ainda está majoritariamente com Bolsonaro, o que poderia drenar votos diretamente do presidente para seu adversário, algo que até aqui não se viu.

Da mesma forma, os acenos na direção de apoiadores e eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) podem surtir efeito na reta final da campanha, como se viu em 2018.

Diante desse movimento, Bolsonaro e ministros tendem a intensificar ataques a institutos de pesquisas, e o presidente vai voltar com tudo a questionar a Justiça Eleitoral, o que já recomeçou a fazer em Londres.

3 comentários:

  1. Se tivesse escolhido um Meirelles em vez do Guedes,!tudo seria diferente, mas acabou nessa rejeição sem limites. Guedes odeia pobres e está na posição de ministro somente para correr atrás do dólar e outras regalias.

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  2. Rejeição monstruosa a um monstro! Quanto mais o monstro é reconhecido como tal, mais monstruosa se torna sua rejeição. O final é a cadeia, onde o monstro pagará por seus tantos e tão medonhos crimes!

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