O Estado de S. Paulo
Não está claro se o líder nas pesquisas compreendeu as mudanças dos últimos 20 anos
Lula mantém nos debates e entrevistas uma
referência central para dizer como governaria em 2023: o que ele pegou em 2003.
Ocorre que o Brasil e o mundo mudaram muito e, para pior, do ponto de vista de
um presidente da República. Vamos a algumas mudanças decisivas (a lista não é
exaustiva).
A questão fiscal se agravou e virou um
sério dilema representado pela quebra de um consenso social, que foi o de criar
no Brasil um estado de bem-estar sem a capacidade de financiar crescentes
gastos sociais. Lula estaria obrigado a combinar política monetária
contracionista (para evitar inflação) com uma política fiscal expansionista
(para fazer transferência de renda). Ainda não disse como.
No já ruim sistema de governo, o Legislativo avançou sobre o Executivo de maneira inédita e usurpou instrumentos de poder real. Emendas impositivas e do relator mudaram a característica da relação entre Planalto e Congresso, talvez de forma definitiva. O presidente, reconhece Lula, se tornou refém. Para governar, teria de alterar essa relação, mas não disse como.
O STF se tornou protagonista político. O
próprio Lula é bom exemplo: foi e saiu da cadeia por decisões do STF. O
ativismo judicial não é novidade, mas se acentuou com enorme velocidade nos
últimos anos. Lula sempre disse que sabia lidar
com a política, mas não com o Judiciário,
que estaria obrigado a enfrentar. Não disse como.
Partidos se enfraqueceram e pouco cumprem
do que se imaginou que fosse seu papel constitucional. São ridiculamente mais
de 30, numa maçaroca ideológica agravada pelo fato de que o sistema eleitoral
não ajuda a reduzir a distância entre representantes e representados. Ambos os
fatores têm peso no fracionamento do Legislativo e complicam a formação de
maiorias sólidas. Além de muito conversar, Lula precisa dizer como alteraria o
quadro.
Violência política não é novidade no
Brasil. Mas Lula assumiria enfrentando uma oposição nutrida, aguerrida,
motivada, mobilizada e liderada por um clã que provavelmente terá problemas na
Justiça. Lula fala em pacificar o País, ao mesmo tempo que participa ativamente
de festival de pauladas cuja escalada é preocupante. Não disse como conseguiria
essa pacificação.
Por último (neste texto) vivia-se há 20
anos o período dos “dividendos da paz” com o fim da Guerra Fria e o boom das
commodities. A China é hoje uma superpotência desafiando a ordem que os EUA
chefiaram, e a guerra da Ucrânia é a expressão de nova e perigosa guerra fria.
Lula precisaria dizer quais são os interesses do Brasil, que nunca foram
idênticos aos do PT, nesse quadro internacional de enorme tensão.
A opinião dele sobre o Putin é preocupante. Se não se modernizar procurando aprender sobre política externa ficará eternamente produzindo o besteirol que resultou na frase de Pele: Lula quando tem a boca fechada é um poeta. A leitura faz muita falta para ele e nem sempre, como ele pensa de si mesmo, é um brilhante inventor de frases. Eu não sou mais humano, sou uma idéia . Kkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirTem muito a modernizar. É uma lástima que o Brasil não tenha uma política externa de acordo com a época. Na Internet vai bem mas na mentalidade retrógrada tem um caminho muito longo a percorrer.
ResponderExcluirÉ,o quadro geral piorou,e muito!
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