O Estado de S. Paulo
Bolsonaro usou todas as armas, mas não conseguiu ainda virar o jogo
No jargão militar a palavra “culminar”
significa atingir o ponto máximo, mas sem ter alcançado o objetivo. Nesse
sentido, o que aconteceu no 7 de Setembro foi um sinal de que a atual ofensiva
de Jair Bolsonaro culminou.
A demonstração de força gerou as
pretendidas imagens de nutrido apoio. E a sensação, entre apoiadores de
Bolsonaro, de que as pesquisas “mentem”. Como não acreditar que está com a
reeleição garantida, se foi capaz de colocar tanta gente na rua?
Manifestações dessa magnitude ajudariam, teoricamente, a virar um jogo eleitoral até aqui desfavorável para Bolsonaro. O problema é a distância em que ele se encontra de um ponto de inflexão em relação a Lula.
Essa distância está bastante clara em dois
números. O primeiro é a taxa de rejeição. Nunca antes neste país alguém se
elegeu com uma taxa de rejeição como a de Bolsonaro (a de Lula é mais baixa). E
que teima em permanecer alta. Seus apoiadores podem se perguntar como é
possível, olhando em volta, acreditar numa taxa de rejeição tão alta. O
problema para eles é que, olhando em volta, só enxergam outros apoiadores.
O segundo número é igualmente eloquente. É
pequena a distância que separa a intenção de voto estimulada da intenção de
voto espontânea, tanto para Lula como para Bolsonaro. Séries históricas
confiáveis demonstram que ambos estão bem próximos de seus respectivos “tetos”
de votos. O “teto” é atingido quando é pequena a distância entre o voto
espontâneo e o estimulado.
Ou seja, chegaram até onde dava, e não
existe muito espaço para Lula e Bolsonaro alterarem o que as pesquisas dizem
que eles possuem hoje. Ocorre que é grande a vantagem do “teto” de Lula em
relação ao “teto” de Bolsonaro. Essa vantagem tem variado (nos últimos tempos
em favor de Bolsonaro), mas se manteve sólida nos últimos 12 meses.
Portanto, para ser o “evento decisivo” numa
corrida eleitoral, a mobilização do 7 de Setembro em favor de Bolsonaro teria
de conseguir alterar o quadro mais geral. É a persistente liderança de Lula nas
camadas mais pobres, inclusive no Sul e Sudeste. Dependendo da base de dados
que se utiliza, essa faixa supera a metade do eleitorado – e é justamente a
faixa menos envolvida ou “arrebatada” nos embates político-eleitorais.
E a mais suscetível ao custo de vida e
bondades do governo, algo que até aqui não funcionou (pelo menos não na
proporção esperada) em favor de Bolsonaro. As ferramentas da ofensiva já foram
todas colocadas em campo: ajuda emergencial, uso da máquina pública, maciça
barragem de artilharia de propaganda e, culminando no 7 de Setembro, a grande
mobilização de rua.
A esperança agora é o tempo até o segundo
turno.
Ele continua tão repelente como um mata mosca móvel.
ResponderExcluirImprestavel, eu afirmo.