sábado, 15 de outubro de 2022

Ascânio Seleme - Deus virou um detalhe na campanha eleitoral

O Globo

É vergonhoso, se não criminoso, o que a campanha do presidente tem feito nos templos de igrejas evangélicas em todo o país

Em que verdadeiramente creem os bolsonaristas que se dizem cristãos mas que defendem a sua fé atacando adversários políticos com o ódio peculiar dos acólitos do capitão? Me refiro aos que compõem a tropa de choque e são do tipo que vimos em Aparecida do Norte. Eles vestem camisas da seleção ou se enrolam em bandeiras nacionais, repetem “mito, mito, mito”, são agressivos e desrespeitosos, agridem jornalistas e outras pessoas que julgam ser opostos. No santuário, esta turma atacou repórteres da TV Aparecida, que pertence à Igreja Católica, vaiou a homilia de Dom Orlando Brandes e perseguiu um jovem que vestia uma camisa vermelha.

De uma coisa se pode ter certeza, estas pessoas não pensam em Deus, em Cristo ou na Aparecida quando protagonizam cenas como aquelas. São apenas militantes que tentam intimidar os outros aos gritos, com olhos injetados, babando de ódio. A baderna que provocaram no santuário demonstra até que ponto o bolsonarismo é capaz de chegar invocando falsamente a religião como pretexto. O leitor sabe que o presidente do Brasil usa a religião como instrumento político-eleitoral, embora seja, como já escrevi aqui, o candidato menos cristão entre todos os que concorreram com ele no primeiro turno. Até o falso padre Kelmon é mais cristão que Bolsonaro.

Estes bolsonaristas da linha de frente são tão estúpidos, grosseiros e anticristãos quanto o seu líder. Creem que com as confusões que provocam conquistam votos. Imaginam que aos pontapés e empurrões conseguem convencer os indecisos. Acreditam que a intimidação é instrumento legítimo de pressão. E, pior, dizem falsamente que do outro lado seus adversários cometem as mesmas barbaridades e por isso se julgam lutadores do bem contra guerreiros do mal. São invariavelmente idiotas.

Na homilia que causou a ira dos bolsonaristas obscurantistas, Dom Orlando Brandes afirmou que pátria amada não é pátria armada e, sem elevar o tom da voz, denunciou o que chamou de dragão do ódio e da mentira. Foi o suficiente para provocar o festival de vaias, agressões e baixarias que se viu em seguida do lado de fora da basílica. Aquelas pessoas são tão reacionárias quanto o deputado estadual paulista Frederico D’Avila (PSL), que chamou o arcebispo de vagabundo, canalha e pedófilo e o Papa de vagabundo. Estes ultradireitistas dizem, aos berros ou em caixa alta, que Brandes usou o altar para fazer política.

São hipócritas. Ninguém nunca usou tanto o altar para fazer política quanto Bolsonaro e seguidores como esse deputado que, por juízo do eleitor, não se reelegeu. É vergonhoso, se não criminoso, o que a campanha do presidente tem feito nos templos de igrejas evangélicas em todo o país. O abuso é sistêmico, intensíssimo e produz espetáculos grotescos como o protagonizado na Assembleia de Deus em Goiânia por Damares Alves, que denunciou um falso esquema de tortura, exploração sexual e tráfico de crianças na Ilha de Marajó.

São nessas igrejas, erguidas com dinheiro do fiel para dar glória a Deus, que se encontram os outros evangélicos bolsonaristas, os humildes, os de boa fé, os ingênuos, os fragilizados sociais que acreditam que apenas o caminho apontado pelos seus pastores pode levá-los à prosperidade e, posteriormente, ao paraíso. E o rumo indicado pela grande maioria dos pastores evangélicos passa necessariamente pelo voto em Bolsonaro. E, preste atenção, não se trata de mensagem subliminar, mas de nomeação direta mesmo. Nessas igrejas, cultua-se o bolsonarismo, não o cristianismo. Na pregação eleitoral em que se transformaram os cultos, Deus é apenas um detalhe.

Os pastores dizem ao seu rebanho cego que Lula vai fechar templos evangélicos por ser comunista. Rematada sandice. É mais fácil Bolsonaro, se reeleito, mudar a composição do STF com o apoio do Congresso do que Lula ter amparo parlamentar para atentar contra igrejas e religiões. Em horas como esta, é importante desmistificar e desmentir homens públicos e seus seguidores. Desmentir pastores e falsos padres. Mentir é feio. Mentir em nome de Deus é pecado. Mentir deliberadamente para auferir benefícios pessoais, pecuniários ou políticos, é crime.

Hedionda

A falsa denúncia de Damares Alves sobre tortura, exploração sexual e tráfico de crianças na Ilha de Marajó é mais do que escatológica. É hedionda, como sua autora. O caso de Damares é de Justiça, não de mídia. Como será o nosso convívio com esta mulher no Senado? Tem parlamentares que importam, outros que apenas fazem figuração no plenário. Não adianta ficar gongando cada porcaria que ela disser ou fizer. Ignorar inteiramente suas bizarrices, mas denunciar seus crimes, este é o melhor caminho.

Hedionda 2

Só para registro. A distância entre a Ilha de Marajó e Caiena, na Guiana Francesa, é de 735 quilômetros. Para a Guiana, segundo a hedionda Damares, seriam levadas as crianças sequestradas em Marajó. Se der tudo certo, gasta-se 47 horas e 32 minutos para percorrer esta distância, entre a floresta, os rios amazônicos e a costa norte brasileira. Segundo o Google Maps, o viajante terá que pegar duas balsas, dois ônibus, além de ter de recorrer a carro ou motocicleta para cumprir percursos menores não assistidos por transporte coletivo. Marajó fica no Pará. Entre o Pará e a Guiana ainda se estende o Amapá.

Propostas dos candidatos

Algumas pessoas insistem para que os candidatos detalhem suas propostas de governo. Para outras, a síntese programática de cada um já basta: Lula — democracia; Bolsonaro — autocracia.

Tim tim

Na reunião de Lula com Fernando Henrique no apartamento deste em São Paulo, na semana passada, teve uísque e comidinhas. Foram duas horas e meia de bate-papo. Fazia tempo que FH não se soltava tanto, parecia rejuvenescido. Até piada ele ouviu e contou. À saída, o ex-presidente disse ao candidato: “Força, Lula. O Brasil precisa de você”. O PT lamenta que não tenha sido gravado o encontro histórico.

Não funcionará

Bolsonaro pediu aos militantes que permaneçam ao redor das sessões eleitorais depois de terminada a votação e que de lá só saiam depois da divulgação do resultado. Para quê? Não sei. Talvez para empastelar os locais. Burrice. Às dez da noite não restará nada a fazer no lugar. E, mais, não funcionará. O militante bolsonarista só opera em grupo, em manada. Individualmente só se manifesta se estiver armado.

Pânico petista

É o próprio PT quem se encarrega de espalhar o pânico entre seus apoiadores. Primeiro, petistas disseram a jornalistas que 20% dos eleitores que votaram em Lula no primeiro turno são “volúveis”. Agora, gente da campanha tem dado entrevista afirmando que o seu maior temor é que a rejeição de Lula suba mais e empate com a de Bolsonaro. Se o empate de fato ocorrer, Bolsonaro também encostaria em Lula na intenção de votos, podendo até ganhar a eleição no dia 30. Os dados das pesquisas apontam outra coisa, mas espalhar pavor parece ser especialidade de alguns petistas. Dizem que mobiliza a militância.

Ministro obediente

O verborrágico ministro da Defesa, o ex-general Paulo Sérgio Nogueira, calou-se depois da fiscalização que as Forças Armadas fizeram sobre as urnas eletrônicas no primeiro turno. Sabe-se que não deu em nada, apenas comprovou-se a inviolabilidade do sistema. Mas, por ordem do presidente, o resultado não foi divulgado, e o ex-general emudeceu. Se tiver que dizer alguma coisa, repetirá o patético ex-ministro da Saúde: “Um manda e o outro obedece”.

Zema ouve bem

O curioso governador de Minas Gerais disse esta semana que reconhece os exageros orais de Bolsonaro, mas acrescentou: “nunca vi falas ameaçarem a democracia”. O “petefóbico” Romeu Zema ouve bem mas não enxerga nada.

Jejum eleitoral

O prefeito de Divinópolis (MG), Gleidson Azevedo, um político ainda mais bolsonarista que o governador do estado, fez uma promessa de ficar 21 dias sem beber Coca-Cola se o presidente se reeleger. Diante do enorme sacrifício deste cristão sincero, Bolsonaro já pode ficar tranquilo.

Ulysses Guimarães

Há 30 anos, no dia 12 de outubro de 1992, o Brasil perdia o deputado Ulysses Guimarães, um dos seus melhores filhos. O homem que gritou seu “ódio e nojo da ditadura” conviveu por dois anos com Jair Bolsonaro na Câmara. Não deve ter notado sua insignificante presença.

Que fim levou?

Alguém viu, sabe por onde anda, que fim levou Ciro Gomes? O ex-candidato sumiu desde que declarou apoio ao seu partido, logo depois do primeiro turno. Estaria no Brasil?

A nazista do Paraná

Não se ouviu uma palavra sequer dos apoiadores do movimento Escola sem Partido sobre o gesto da professora Josete Biral (PR) no Colégio Sagrada Família, em Ponta Grossa. Em vídeo espalhado pela internet, a mulher aparece batendo continência e em seguida estendendo o braço em saudação nazista. Talvez porque essa turma ache que as escolas só não podem conviver com partidos e ideologias de esquerda. Com o nazifascismo, tudo bem.

Dados para refletir

Segundo o Conselho Internacional de Transporte Limpo, 20% dos mais ricos do mundo usam 80% dos assentos dos voos disponíveis globalmente. Destes, 2% são viajantes frequentes e ocupam 40% do total. Na África do Sul, 8% da população branca detém 79% das terras agricultáveis do país, de acordo com Johann Kirsten, diretor do Bureau de Pesquisa Econômica do país. No Brasil, bom, no Brasil você sabe.

4 comentários:

  1. "Nessas igrejas, cultua-se o bolsonarismo, não o cristianismo." Estas são as igrejas dos pastores safados que pedem propina em BARRAS DE OURO ou bíblias, como a igreja do pastor ex-ministro da Educação Milton Ribeiro que recebia semanalmente estes pastores e os introduziu no MEC A PEDIDO DIRETO DE BOLSONARO. É o mesmo tipo de igreja do "padre" (na verdade PALHAÇO) Kelmon, cabo eleitoral do GENOCIDA e candidato laranja, marionete dos Bolsonaro, que se apresentava como enviado de algum deus e interlocutor dele com seus eleitores!
    A CANALHICE RELIGIOSA é a mais revoltante, pois a mentira é escancarada, e os MAUS EXEMPLOS falam mais que milhões de palavras bíblicas que estes papagaios balbuciam sem realmente seguir! Pastores canalhas!

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  2. O ministro da Defesa é um perfeito CAPACHO do GENOCIDA! Um general fraco que não tem respeito pelas tropas que diz comandar! Atendeu todos os interesses eleitoreiros do candidato Bolsonaro, questionando as urnas eletrônicas e a lisura das eleições, e agora se omite na conclusão sobre o primeiro turno! Mais um general ridículo e INCOMPETENTE como Eduardo Pazuello, cúmplice do GENOCIDA na pior gestão da pandemia entre todas as nações do mundo! Ambos envergonham os verdadeiros MILITARES, e servem apenas como MILICIANOS subservientes ao capitão das rachadinhas!

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  3. Damares quase consegue ser mais asquerosa que Bolsonaro... O nível de ambos é subterrâneo, certamente extravasaram do mesmo esgoto que o pastor Everaldo que batizou o Minto antes de ser condenado e encarcerado! O pastor recepcionou na nova religião a criatura que batizou no rio Jordão em Israel, e também vai recepcionar na vida prisional o miliciano quando este sair da presidência e começar a cumprir sua longa pena!

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  4. Damares já disse,sem provar,que no Brasil há hotéis-fazendas para a prática de zoofilia.

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