Folha de S. Paulo
Presidente se aproveitou da ação de
extremistas e agora faz jogo duplo para conter danos
O esforço de contenção de danos montado
após o ataque
do ex-deputado Roberto Jefferson a policiais federais dá a dimensão
que o episódio representa na campanha de Jair Bolsonaro (PL). O caso cola uma
marca de violência a um dos principais itens da plataforma política do
presidente.
Pouco depois que o
político atirou e lançou granadas contra agentes que preparavam sua
prisão, Bolsonaro declarou repúdio à ação armada do ex-parlamentar. Na mesma
frase, no entanto, o presidente reclamou da existência de "inquéritos sem
nenhum respaldo na Constituição".
Foi o início de uma tentativa desastrada de se desvincular do aliado, mas sem abandonar o ambiente de enfrentamento com o STF (Supremo Tribunal Federal). Bolsonaro tenta se equilibrar nessa corda bamba porque precisa manter a visibilidade do conflito institucional que fabricou, sem absorver muitos danos de uma só vez.
Jefferson se notabilizou por uma combinação
de ataques verbais a ministros do Supremo e ameaças de ruptura democrática a
partir da violência armada. O ex-deputado reproduz uma cultura que é difundida
pelos setores mais radicais do bolsonarismo e dialoga também com a operação
política formal do próprio presidente.
O embate com o STF é um elemento central
para Bolsonaro nesta eleição. O presidente acusa ministros do tribunal de se
comportarem de forma autoritária, insinua a existência de um conluio para
favorecer Lula (PT), convoca a população a reagir e sugere que pretende se
reeleger para enquadrar a corte.
A cartilha do presidente alimenta atores
dispostos a participar dessa briga. Em 7 de Setembro de 2021, Bolsonaro chamou
o ministro Alexandre de Moraes de canalha, disse que não cumpriria suas
decisões e afirmou que jamais seria preso. As mesmas frases poderiam ter sido
ouvidas na casa de Roberto Jefferson neste domingo (23).
Ao longo dos anos, o presidente também deu
amparo à ideia de que uma ação armada pode ser necessária para defender o que
ele entende como liberdade ("repitam aí:
‘eu juro dar a minha vida pela minha liberdade’"). Não por acaso,
Bolsonaro já se
referiu a Moraes como ditador.
Nessa linha, o presidente tirou proveito da
ação de personagens como Jefferson nos últimos tempos. Ao atuar como
garoto-propaganda do extremismo, o ex-deputado ajuda a manter viva uma ameaça
de ruptura institucional, mesmo que Bolsonaro não tenha força para executar um
plano do tipo.
A atuação terceirizada permite que o
presidente agite seu eleitorado fiel e preserve um certo grau de tensão no ar,
mas também consiga se afastar desses porta-vozes ou simular um movimento de
recuo sempre que se sentir desgastado.
Numa transmissão ao vivo, Bolsonaro repetiu
suas queixas sobre a atuação da corte e mentiu
ao dizer que não existia uma única foto sua com o aliado –embora as
visitas do ex-deputado ao Palácio do Planalto estejam na
agenda oficial da Presidência.
Ao mesmo tempo em que se distancia da
figura do ex-deputado, Bolsonaro também tenta dar um ar de institucionalidade a
sua reação ao caso, com o objetivo de evitar que apoiadores sintam que ele
abandonou uma posição firme sobre o STF.
Foi o que o presidente buscou ao anunciar
que enviaria o ministro da Justiça ao Rio para "acompanhar o andamento
deste lamentável episódio". Anderson Torres, aliás, fez o mesmo jogo duplo
ao tratar o caso como um "momento de tensão", não como o
descumprimento de uma ordem judicial e um ataque a policiais sob seu
guarda-chuva.
O comitê de Bolsonaro sabe que, nos
próximos dias, os eleitores vão avaliar as conexões entre o comportamento do
presidente, sua plataforma e o ataque realizado por Jefferson. A principal
preocupação de auxiliares é que o caso afaste grupos avessos a sinais de
radicalização e anule os esforços feitos pela campanha para pintar Bolsonaro
como uma vítima do STF.
Jefferson é Bolsonaro sem poder, violência pura e disposta a tudo! Milicianos armados e violentos... A cara do bolsonarismo, ou na verdade seu focinho!
ResponderExcluirA cara de um e o focinho do outro,sem tirar nem por.
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