Folha de S. Paulo
Candidatos reforçam discurso, mas encontro
dificilmente produzirá avalanche a favor de um deles
Na última oportunidade de assegurar o voto
dos eleitores que ainda não decidiram o voto no segundo turno, Lula (PT)
e Jair
Bolsonaro (PL) levaram ao debate
da TV Globo uma rajada de ataques que tinham o objetivo de ampliar a
rejeição do adversário.
O petista fez um investimento para dar à
reta final da disputa a cara de um plebiscito sobre a continuidade do governo.
Em praticamente todos os blocos, Lula perguntou repetidamente a Bolsonaro sobre
as realizações de sua gestão –aproveitando a hesitação do rival para acusá-lo
de fazer poucas entregas e não apresentar propostas.
Foi uma tentativa de levar a discussão para um terreno que o PT acreditava ser mais fértil antes do segundo turno. O comitê de Lula achava que o eleitor julgaria o governo Bolsonaro e encerraria rapidamente sua gestão, mas a dinâmica da corrida elevou o antipetismo a fator de definição de voto de uma parcela razoável do eleitorado.
Lula já havia testado esse caminho no
primeiro debate do segundo turno, quando conseguiu um bom desempenho ao
relembrar as decisões de Bolsonaro durante a pandemia. Ele voltou ao tema nesta
sexta-feira (28), acrescentando tópicos como política externa e meio ambiente
–duas áreas em que Bolsonaro é internacionalmente rejeitado.
Numa fala teatral, o ex-presidente chegou a
pedir desculpas à TV Globo pelo comportamento do oponente. Depois, afirmou que
faltava a Bolsonaro uma postura de presidente.
Bolsonaro só acordou para a tática no
quarto bloco, em mais um momento em que Lula viu seu tempo esgotado e entregou
o palco para o adversário. Bolsonaro tentou apagar a imagem de um governo
ineficiente citando a
criação do Pix, a anistia de dívidas do Fies e a transposição do rio São
Francisco.
Essa trilha seria importante para capturar
o voto de indecisos que estão em cima do muro em relação ao desempenho do
governo. Segundo o Datafolha, 23% dos brasileiros consideram a gestão Bolsonaro
regular, e está nesse grupo uma boa fatia de eleitores que não firmaram escolha
para domingo (30).
A aposta na rejeição ao campo rival pode
ajudar a evitar que o adversário consiga o apoio desses eleitores, mas é
difícil saber se o discurso é suficiente para conquistar o apoio deles.
O principal golpe desferido por Bolsonaro
foi uma tentativa de descolar de Lula o eleitor que pode votar no ex-presidente
para derrotá-lo, mas nutre
alguma antipatia pelo PT. Fazer com que um contingente razoável desses
brasileiros deixe de votar ou migre para o voto nulo pode fazer a diferença na
busca pela reeleição.
Bolsonaro tratou de vincular o petista à
coloração vermelha. Além de dizer que o ex-presidente apoiava ações de invasão
de terras, chamou o adversário de "abortista" ao menos quatro vezes.
Lula afirmou que não endossava a ocupação de áreas produtivas e fez uma
declaração contrária ao aborto.
Em todos esses embates, Lula e Bolsonaro
buscaram levar o encontro para terrenos confortáveis –e afastar temas
considerados mais espinhosos. A consequência foi uma enxurrada de assuntos
diferentes sobre a cabeça do eleitor e uma série de perguntas deixadas sem
resposta.
Só no bloco de abertura, com 30 minutos, os
dois candidatos passaram por tópicos como salário mínimo, 13º salário, os processos
contra Lula, as acusações de "rachadinha" contra a família Bolsonaro,
o ex-ministro Antonio Palocci, o ex-deputado Roberto Jefferson, a política
externa brasileira, programas de financiamento do BNDES, o metrô de Caracas, a
suspeita de propina transportada em pneus para o ex-ministro da Educação e
reuniões bilaterais no exterior, para ficar numa lista resumida.
Não assisti o debate.
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