O Globo
Muita gente ainda surpresa com a
competitividade de Bolsonaro. Subestima-se o antipetismo; o principal motor a
promover o candidato. Outros motores: o bolsolão, também chamado orçamento
secreto, e a derrama de bilhões, na forma da PEC Kamikaze, que o bolsolão
comprou no Parlamento e que ora resulta em que a população financie o esforço
concentrado pela reeleição.
Subestima-se o antipetismo a ponto de o PT
haver aprovado essa emenda constitucional; que autorizou o governo a distribuir
assistências bilionárias em plena campanha.
Subestima-se o antipetismo a ponto de o PT
não ter acionado o TSE contra o pacotão de bondades por meio do qual o governo,
formalizando os abusos de poder político e econômico, extinguiu qualquer
paridade de armas. A subestimação que chancela a covardia; o medo de uma ação
contra os benefícios eleitoreiros ser explorada pelo zap profundo bolsonarista
como gesto petista de hostilidade aos mais pobres.
Tudo será — tudo é — explorado. Mas qual o pior risco? Denunciar o atentado à lei eleitoral e barrar abusos empilhadores de votos, e então ir defender o lance em termos narrativos, ou deixar correr uma disputa desequilibrada pelo jorro dos bilhões?
A campanha petista preferiu se dedicar às
ações judiciais contra mentiras, o que devolveu a Bolsonaro o lugar de agente
antiestablishment; aquele contra o qual se associariam tribunais superiores e o
PT. Bolsonaro, o sócio de Arthur Lira, Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto, de
repente reencarnando a persona do antissistema...
São escolhas. A de pelejar no terreno
bolsonarista, o da briga de rua, rebatendo mentiras com mentiras e dando ao
adversário a gestão da pauta. Uma escolha.
Se o presidente alcançar a reeleição, terá
sido mais pelos efeitos da PEC Kamikaze e de outras boiadas que a porteira
arrombada (com ajuda do PT) deixou (e deixa) passar do que pelos estragos das
fake news.
Bolsonaro é, sempre foi, competitivo. Tem
base social. Como não chegaria forte a esta reta final? Que presidente,
disputando a reeleição, não chegou? Todos chegaram. E venceram.
Isso quererá dizer que vai decretada a
vitória de Bolsonaro? Não. Diz que decretado sempre esteve que seria parelho.
Mas houve a pandemia, Andreazza. Não
contaria para lhe frear as chances? Sim. Até que o mundo real se impusesse, e o
primeiro turno anistiasse os criminosos da pandemia. A mensagem foi clara. As
pessoas querem esquecer a peste. (E gostariam, não sendo petistas, de saber se
um Meirelles dirigirá a economia sob Lula.)
É verdade que Bolsonaro chegou — posição
inédita ao incumbente — em segundo lugar. Qual o peso do vírus — da forma
perversa como o tratou — para esse revés? Ou a dificuldade de Bolsonaro terá
derivado sobretudo de haver enfrentado não apenas um ex-presidente, mas um que
é Lula?
Lula desafia o antipetismo, cuja
subestimação permitiu a Bolsonaro concorrer financiado pelo Tesouro. Desafia
também, pois, erros e soberbas de sua campanha improvisada. Aquela que
apresentou uma carta aos evangélicos escrita por Gilberto Carvalho.
A força personalíssima de Lula posta contra
o antipetismo e a campanha de Lula. É o que se joga.
Esta corrida eleitoral não é a da rejeição.
Isso é coisa do passado. É a do desprezo. Do horror. São sentimentos que
petrificam. Que interditam quase completamente as circulações. As posições
estão tomadas. As tendências — as indecisões — sendo mais resguardos, talvez
dissimulações, que votos ainda em formação.
Daí meu ceticismo sobre se o caso Roberto
Jefferson — ato de terrorismo por um apoiador próximo do presidente — seria
capaz de provocar algum trânsito eleitoral relevante; funcionar como gatilho
para que Bolsonaro perdesse votos ou deixasse de consolidar os que se lhe
movem.
O antipetismo continua se revelando; e com
grande força de anulação sobre ocorrências negativas. O antipetismo relativiza
barbáries. Está estabelecido.
Para superá-lo, para vencê-lo de modo a
provocar consequências eleitorais a partir dos tiros de Jefferson, a campanha
petista deveria ter conseguido transformar em solo seu uma grande virtude da
história de Lula no poder: goste-se ou não, seus governos foram previsíveis.
Ofereceram estabilidade; contra um período, o de Bolsonaro, em que o próprio
presidente foi — é — o gerador de distúrbios.
O eleitor brasileiro, aquele de um
conservadorismo difuso, que já votou em Lula e Dilma, é sensível a esse
discurso; o da segurança para olhar adiante e planejar o passo. A campanha
petista teria de se constituir sobre essa diferença para que pudesse
capitalizar a percepção do ato criminoso de Jefferson como propriedade
bolsonarista.
Sem enfrentamento estrutural, combatido só
com embalos, o antipetismo relativizará tudo. E será Lula contra o antipetismo
e contra a subestimação do antipetismo.
"Subestima-se o antipetismo; o principal motor a promover o candidato. Outros motores: o bolsolão, também chamado orçamento secreto, e a derrama de bilhões, na forma da PEC Kamikaze, que o bolsolão comprou no Parlamento e que ora resulta em que a população financie o esforço concentrado pela reeleição."
ResponderExcluirMais um erro de avaliação. O antipetismo não é o principal. Não mesmo.
Note q qd Lula tinha a máquina, ele dominava. Conclusão óbvia, a não ser pra quem redige mal: a máquina é mais importante/ forte do q o antipetismo.
Qd LULA for presidente, a máquina tb fará seu trabalho.
O antipetismo é forte e a máquina do governo também.
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