Valor Econômico
Apoios de Zema e Tebet talvez estejam
superestimados
A campanha do segundo turno entre o
presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
traz concretamente dois fatos novos até o momento: o engajamento do governador
de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), pela reeleição de Bolsonaro e o apoio da
terceira colocada, senadora Simone Tebet (MS), a Lula. Nenhuma das outras
variáveis é tão importante quanto essas duas. E essas duas, talvez, estejam
sendo superestimadas.
Afora isso, tudo é menor e de alcance mais
limitado, ante o fato de esta ser uma eleição com uma cristalização do
eleitorado com características únicas.
Com o primeiro turno do domingo retrasado, o Brasil realizou sua 13ª eleição presidencial em circunstâncias democráticas, dentro de uma sequência que se inicia em 1945, interrompida durante o regime militar e retomada em 1989. Em nenhuma delas houve a polarização que se registra agora, em que a soma percentual entre o primeiro e o segundo colocado resultou em 91,6% dos votos válidos.
Tanto Lula quanto Bolsonaro já queimaram
seus principais cartuchos. A começar de Lula: ele já fez um movimento ao
eleitor de centro, com a colocação de Geraldo Alckmin como seu vice, conduziu
uma campanha eleitoral sabendo jogar no mesmo campo de disputa suja de seu
adversário, com o ingresso de André Janones em seu time, cativou a nostalgia de
seu eleitor tradicional com a promessa de picanha para todos. Por fim, na
rodada decisiva, recebeu o apoio da terceira colocada, Simone Tebet, que teve
4% dos votos, sendo que, tendo ele obtido 48,4% no primeiro turno, o que mais
pode fazer para crescer?
As primeiras pesquisas divulgadas do
segundo turno mostram que o potencial de transferência de votos de Simone para
ele é bastante relativo, para dizer o mínimo. A emedebista tornou-se uma figura
nacional nesta eleição e ao apoiar de forma decidida Lula se credencia a
exercer algum papel em um eventual governo petista, mas quem é o seu eleitor? É
muito parecido com o bolsonarista típico.
O voto em Tebet foi relativamente uniforme
em todo o Brasil, com um peso maior em São Paulo. Ela teve entre os paulistas
1,6 milhão de votos, 33% do seu total, quando São Paulo representa 22% do
eleitorado nacional. Pudera: pouco saiu do Estado durante sua campanha
eleitoral.
Na capital, teve 8,1% dos votos. Dentro da
capital, chegou a 14,1% em Pinheiros; 14,8% na Saúde e 15,6% no Jardim
Paulista. Três áreas ricas onde Bolsonaro ficou com votação abaixo do seu total
nacional. Os menores índices de Tebet na capital foram nas áreas mais pobres,
como Cidade Tiradentes (5,1%) e São Mateus (5,5%), regiões onde Lula conseguiu
maioria absoluta, como o PT usualmente consegue. Em outras palavras: Simone
Tebet tirou votos de Bolsonaro. É bastante duvidoso pensar que a maior parte
dos eleitores da senadora a seguirão no apoio a Lula.
Quanto a Zema: o governador reeleito em
Minas Gerais apostou todo seu capital político na virada da eleição em Minas.
Como já é de conhecimento amplo, a eleição presidencial mineira reproduz com
similaridade impressionante o quadro nacional desde 1950. Até Zema aparecer, os
governadores em Minas buscavam se adaptar ao quadro nacional, e nunca
modificá-lo, ainda que sobre eles caísse a sombra da traição. Neste sentido
Zema se propõe a uma tarefa inédita e engajou prefeitos, que foram às redes
sociais. Já houve um que ameaçou corte de pagamentos de salários se não houver
vitória local de Bolsonaro. Houve outro que prometeu um jejum pessoal de três
dias sem tomar Coca-Cola.
A tarefa é difícil quando se olha o mapa da
votação no Estado. É plausível que Lula perda a vantagem estreita de 500 mil
votos que conseguiu no Estado, mas parece certo que a diferença será menor
ainda.
Minas Gerais tem 552 municípios com menos
de 10 mil eleitores. Lula superou Bolsonaro em 440 deles. As opções parecem
muito consolidadas em um e outro caso. Bolsonaro arrasou no sul e sudeste do
Estado. Seu maior sucesso foi na turística São Roque de Minas, por exemplo, na
Serra da Canastra, onde conseguiu 69%. No perfil majoritário dessas cidades,
contudo, só deu Lula. O ponto mais alto foi Presidente Kubitschek, no Vale do
Jequitinhonha, onde o petista fez nada menos que 82%.
Para Zema mudar o voto nestas cidades, ele
precisa transformar a lógica de decisão do voto dos eleitores dos grotões. Este
eleitor, dependente de programas sociais, com menor instrução, baixa renda e
menor tendência a ser evangélico, não foi seduzido pela catadupa de benesses
sociais anunciadas por Bolsonaro. Votou em Lula, não só em Minas, mas no
Nordeste.
A força maior de Bolsonaro em Minas se
registrou nos grandes centros, menos sujeitos a influência de padrinhos
políticos. O atual presidente ficou em vantagem nas maiores cidades mineiras,
mas a curta distância. Bolsonaro ganhou de Lula em Belo Horizonte (47% a 42%) e
Contagem (48% a 42%), mesmo com os prefeitos locais alinhados ao petista, e teve
vitórias igualmente apertadas em Uberaba (46% a 44%) e Uberlândia (46% a 45%),
com prefeitos bolsonaristas.
Tanto a carta de Zema quanto a de Simone
Tebet, portanto, têm suas limitações. Lula pode resistir em Minas e Bolsonaro
pode avançar sobre o eleitorado da terceira via, ao contrário do que esperam as
campanhas do petista e do presidente.
Outras variáveis inesperadas são trazidas
pela movimentação dos candidatos. Bolsonaro, por exemplo, cometeu uma sucessão
de quatro erros nos últimos dias, de acordo com o cientista político Carlos
Melo, do Insper, que colabora com a XP. Dois foram suas visitas ao Círio do
Nazaré e à Basílica de Aparecida, mal recebidas pela Igreja Católica e
acompanhadas por presença de Bolsonaro em eventos evangélicos. No caso de 12 de
outubro, no mesmo dia. A baderna provocada pelos seus apoiadores em frente à
basílica só piorou as coisas. O terceiro erro foi retomar a briga com o
Supremo, reciclando a proposta de aumento da composição da corte. O quarto foi
relacionar o Nordeste ao analfabetismo. Bolsonaro não perdeu votos com nada
disso, mas deixou de avançar. E é ele que precisa avançar, não Lula.
"Romeu Zema (Novo), pela reeleição de Bolsonaro e o apoio da terceira colocada, senadora Simone Tebet (MS), a Lula"
ResponderExcluirVerdade. Zema postou fotos com Lula no 1o turno e no 2o bandeou-se pro bolsonaro - enganou os mineiros.
Tebet não enganou ninguém.
Há uma grande diferença de caráter entre esses dois.
"Bolsonaro não perdeu votos com nada disso"
ResponderExcluirRáRáRáRáRáRá
Desculpe. Na falta de um embasamento desta afirmação eu não resisti.
Simone Tebet é a verdadeira mulher de verdade,amo!
ResponderExcluir