Folha de S. Paulo
Cabe ao eleitor decidir se acatará ou não o
apelo dos candidatos
Há uma coisa óbvia a respeito das eleições, mas que
precisa ser lembrada: políticos em campanha sempre pedem votos. Se pedem votos,
pedem aos eleitores que votem neles, não em seus concorrentes. Isso é da
essência da disputa eleitoral e, portanto, da democracia. Um candidato só é
mais votado porque seus eleitores não votaram em outros, dos quais se faz um
esforço legítimo para "roubar" votos.
Logo, pedir voto
útil a eleitores nada mais é do que dizer o que sempre se diz em
campanhas eleitorais: "Votem em mim, não em meus adversários".
Na democracia, cabe apenas ao eleitor decidir se acatará o apelo dos candidatos. Se deixa de votar em sua alternativa favorita, nada mais faz do que exercer sua liberdade de escolha. E pode ter razões várias para decidir que, nas circunstâncias de uma eleição, valha mais a pena optar por uma candidatura que, sob conjunturas diferentes, não seria escolhida —ao menos não no primeiro turno.
Fazemos rotineiramente escolhas assim em
várias esferas da vida, ponderando que em certas situações o ótimo é inimigo do
bom. Isso é não só racional, mas legítimo econômica, política ou moralmente
—dependendo do que estiver em jogo. Alguns chamariam de subótimas tais
escolhas; resultam de restrições objetivas ao tomador de decisão —isto é, são
externas a quem decide, dependendo mais da situação posta do que da vontade da
pessoa. Dadas tais restrições, escolhas subótimas se tornam as melhores
possíveis.
Enfatizo o "possíveis", pois é
sabido que a política é a arte do possível. Daí, escolher
entre o desejável e o razoável, ou entre o desastroso e o desagradável, se
impõe aos agentes políticos, sejam eleitores comuns ou políticos profissionais.
Isso nos ajuda a entender o voto útil. Se eleitores de uma candidatura
consideram que sua opção favorita não tem chance efetiva de vitória, podem
avaliar se faz sentido votar numa opção subótima. O cálculo depende do que está
em jogo na eleição.
Se estão em disputa apenas programas de
governo distintos, porém legítimos, ou níveis desiguais de competência política
de candidatos, faz sentido votar na opção favorita, deixando para um segundo
turno a inevitável escolha subótima.
Contudo, se o que estiver em jogo for coisa
muito mais fundamental —por exemplo, a democracia—, aí certamente é melhor
votar para salvaguardar o fundamental. Afinal, se o fundamental é perdido,
perde-se o resto também. Noutros termos: se
a democracia for posta em risco, há o perigo de futuramente não ser
possível seguir fazendo escolhas ótimas —ou sequer subótimas.
Tal situação faz com que, neste momento,
surjam apelos ao voto útil em Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
Dado o caráter
autoritário do bolsonarismo e suas ações já em curso para solapar a
democracia, talvez o mais prudente seja eliminar o quanto antes a ameaça, sem
pagar para ver. Quanto mais o tempo passa, mais se intensificam as ações
antidemocráticas do atual presidente. Logo, havendo segundo turno, Jair
Bolsonaro (PL) terá mais tempo para aprofundá-las.
Não é só isso. Já tendo sido eleitos
congressistas, deputados estaduais e governadores, o questionamento do
resultado apenas do segundo turno da eleição tende a lhes mobilizar menos na
defesa do processo eleitoral e, portanto, da democracia.
Eis porque encerrar a contenda no primeiro
turno significa não só eleger um candidato melhor ou pior, mas defender o
próprio regime. É o que está em jogo.
*Cientista político, é professor da
FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio
Vargas), pesquisador do CNPq e produtor do canal/podcast “Fora da Política Não
há Salvação”
O colunista tem razão! Candidato pede voto para si, por muitos motivos e através de diversas maneiras. Cabe ao eleitor decidir a que pedido vai atender! Quando o genocida pede meu voto, lembro de todas as barbaridades que ele fez durante a pandemia! Ele não quis resolver o problema no Brasil, só piorou a situação que era grave mundialmente! Desrespeitou a OMS e os especialistas! Acreditou nas mentiras do Trump e de pseudocientistas. Pra ele, só a cadeia!
ResponderExcluirEu sou pelo voto útil também.
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