Folha de S. Paulo
Os fins justificam os meios, assegura a
crença de pessoas que se imaginam moralmente superiores
"O tema dessa campanha não é economia,
são os temas propostos por Bolsonaro, o que significa que o presidente venceu o
debate desta eleição". Ciro
Nogueira, ministro da Casa Civil, não erra no diagnóstico. Na TV e
nas redes sociais, a campanha de Lula emula a linguagem do bolsonarismo.
Segundo a síntese do ministro, "Lula não está lutando no campo dele; está
travando uma eleição no campo adversário".
A gosma oriunda da campanha bolsonarista espalhou-se por toda a comunicação eleitoral, dos dois lados. Sob o "efeito Janones", a campanha lulista transitou da qualificação de "genocida", aplicada ao presidente desde a pandemia, para sugestões de que ele teria inclinações ao canibalismo e à pedofilia. Jogo empatado? Diferentes pesquisas, que registram discretas quedas nos índices de rejeição a Bolsonaro, indicam que não. O jogo "no campo adversário" sempre serve ao adversário – eis uma regra universal da política.
A interpretação de texto, mesmo elementar,
evidencia níveis deploráveis de distorção. Na entrevista antiga ao New York Times,
Bolsonaro pretendia associar (falsamente) indígenas brasileiros à prática do
canibalismo e impressionar o interlocutor exibindo-se (pateticamente) como
tolerante à diversidade cultural.
Já as declarações do presidente sobre as
meninas venezuelanas, expressas na sua vulgaridade habitual, simplesmente
atestam arraigados preconceitos, tanto sobre mulheres quanto sobre refugiados.
O "janonismo", porém, escolheu acusar o presidente de ser um
potencial devorador de índios e um adepto, real ou virtual, da pedofilia.
Os expedientes
tóxicos do "janonismo" não comoveram o eleitorado.
Entretanto, entusiasmaram comentaristas "progressistas" engajados,
aberta ou veladamente, na campanha lulista. A turma, muito culta, nada entendeu
sobre a relação entre meios e fins.
Os fins justificam os meios, assegura uma
crença ingênua adotada por pessoas que se imaginam moralmente superiores. De
fato, os meios qualificam e moldam os fins. O "carluxismo" é um meio
eficiente para produzir um governo extremista, inclinado ao preconceito e
propenso ao golpismo. O "janonismo", imagem espelhada do
"carluxismo", não é um meio apropriado para gerar um governo
democrático, capaz de respeitar a pluralidade social e a divergência política.
O PT não é neófito na prática de campanhas
difamatórias. Nos idos de setembro de 2014, operando em nome de Dilma Rousseff,
João Santana montou a célebre peça de TV na qual Marina Silva expropriava a
comida dos pobres, transferindo-a aos banqueiros. O recurso à linguagem do
esgoto funcionou –e a política brasileira enveredou por um labirinto escuro.
O paralelo é, contudo, imperfeito. A
propaganda imunda de 2014 surtiu efeito pois situava-se, ainda, nos limites da
esfera da política: o alvo não era a pessoa da candidata, mas sua proposta de
conceder independência ao Banco Central. Hoje, o "janonismo",
imitação do "carluxismo", move-se no terreno da difamação pessoal.
Numa ofensiva recente, a campanha de
Lula divulga um
vídeo no qual Bolsonaro homenageia Alfredo Stroessner,
acompanhado pela notícia de que o ex-ditador paraguaio era um "pedófilo
que mantinha meninas como escravas". No caso, o tema não é exatamente a
ditadura, mas a pedofilia. A absorção da linguagem bolsonarista tem implicações
que ultrapassam o 30 de outubro.
A vida política não se encerra, apoteoticamente,
no segundo turno. Depois dele, o Congresso votará leis relevantes, o STF
pronunciará sentenças cruciais, os eleitores voltarão às urnas em novas
eleições municipais, estaduais e federais. Sempre será possível asseverar que
algo decisivo –inclusive a democracia– pende por um fio. A alegação utilizada
para justificar o jogo sujo "no campo adversário" ressurgirá em
múltiplas oportunidades. O bolsonarismo terá triunfado –mesmo após a derrota.
"A gosma oriunda da campanha bolsonarista"... O colunista escreve sobre aquela coisa fedorenta emitida por Bolsonaro? Aquele esgoto "in natura" que sai da boca dele e da sua campanha? Pro colunista, será que gosma é sinônimo de m...?
ResponderExcluirSou capaz de enumerar pelo menos 10 coisas muito significantes que os governos do PT legou aos brasileiros. E nenhuma do Bozo. Todo mundo está cansado da degeneração desse atual governo. Para que coisa mais deprimente do que foi a Macha das Vadias no Brasil, pois essa campanha se transformou nisso, uma vadiagem perfeita. O linguajar se transformou em uma coisa tão deprimente que é impossível não comparar e lembrar como a Macha serviu para degradar às mulheres. Se o que pretendiam eram isso as mulheres no país conseguiu isso com louvor.. Realmente, uma coisa muito nojenta. Faltou nessa campanha mostrar o que o PT fez de positivo. Principalmente um ministro igual o Guedes, da economia, useiro em
ResponderExcluirnao respeitar Leis algumas e usar a criatividade para perseguir e fazer malandragens. Um sujeito que orgulha em não gostar de pobres. Um sujeito que sugeriu restos de comidas de restaurantes para alimenta-lós, como se fosse pouco colocá-los na fila de ossos.
Lula para ser completamente bom deveria ouvir menos o PT, pois esse se tornou cafona e não conseguiu aguentar as mesquinharias de bozo e sua turma de maus.
A campanha do Lula desceu o nível,mesmo assim usaram falas reais do presidente,não há fake news.
ResponderExcluirDesde uns 12 anos para cá , a esquerda passou a fazer o que a direita sempre explorou: a privatização do discurso político, o rebaixamento do discurso público a questões de afeto, morais ("identitárias"). Décadas de degradação política e intelectual do ensino, impulsionadas por todos os atores, ajudaram. O resultado está aí: o povo se digladiando para escolher entre um líder popular que entrou no Clube, se tornou coordenador de quadrilha e, vai brigar até a morte, para não sair dos holofotes; e um aventureiro totalmente desqualificado, que todavia encarna encarna parcela muito expressiva do que se tornaram os brasileiros.
ResponderExcluirEm relação ao comentário acima, tenho dúvida sobre quem é quem... Suponho que a sequência seja L e B, mas poderia também ser B e L...
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