Política Democrática online (48ª edição: outubro/2022)
Reforma tributária e o enfrentamento da
informalidade são desafios da economia
A pandemia da covid-19 provocou tragédias
humanas que afetaram os municípios, os estados e a União de forma sem
precedentes com a rápida transformação da emergência sanitária numa crise
econômica e social de grandes proporções. Isso provocou
recessão econômica; queda do investimento, produção e consumo; fechamento de
empresas; aumento do desemprego e precarização nas
relações de trabalho; ampliação da economia informal; agravamento do
endividamento, inadimplência e calotes de pessoas físicas e jurídicas; ampliação
da vulnerabilidade financeiro-social das famílias; aumento dos gastos públicos,
queda da arrecadação tributária e piora do desequilíbrio estrutural e
conjuntural das contas públicas.
O avanço da vacinação durante 2022 contribuiu para amenizar e retomar positivamente alguns indicadores econômicos, mas o desafio fiscal ainda persiste e a sua superação exige, além da necessária reforma tributária, o enfrentamento da informalidade no Brasil.
Mais claramente coloca-se a questão
de como trazer para o mundo fiscal formal o gigantesco mercado informal, que,
segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2019 as transações de bens e
serviços operadas dentro da economia informal movimentaram R$ 1,2 trilhão. O
montante é equivalente a 17,3% do PIB brasileiro. Valor este superior ao PIB
das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Fica claro, assim, que essas transações
informais de bens e serviços representam uma gigantesca perda de arrecadação
fiscal para os três entes federativos, cujos atuais mecanismos arrecadatórios
não as abraçam fiscalmente, além de provocar enormes prejuízos sociais e
financeiros aos trabalhadores.
Em relação ao mercado de trabalho, o Brasil
registrou uma taxa de informalidade de 39,7% no trimestre até agosto de 2022.
Ou seja, o país atingiu o recorde de 39,307 milhões de trabalhadores atuando na
informalidade no período, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de
Economia e Estatística (IBGE).
O IBGE considera
como trabalhador informal aquele empregado no setor privado sem carteira
assinada, o doméstico sem carteira assinada e o que atua por conta própria ou
como empregador sem CNPJ, trabalhadores por conta própria sem CNPJ, além
daquele que ajuda parentes em determinada atividade profissional. Este
trabalhador informal atua à margem do mundo formal sem beneficiar-se das
garantias constitucionais, como, por exemplo, 13º salário, Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS) ou benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
como auxílio-doença, salário maternidade, Seguro-Desemprego etc.
A retomada sustentável no plano nacional
exige medidas inéditas diante dessa crise inédita e a União, estados e
municípios podem e devem tomar iniciativas que desenhem um ambicioso e
abrangente plano de reativação de sua economia que
pressupõe. Dentre outras variáveis macroeconômicas, a recuperação da saúde
fiscal dos entes federativos (municípios, estados e União) e a elevação
da renda pessoal disponível. E, para tanto, é preciso encontrar as vias para
trazer ao mundo fiscal formal as transações de bens e serviços que se dão no
mercado informal.
Todos sabem da fragilidade fiscal dos
entes federativos (União, estados e municípios) seja para realizar investimento
público para estimular o crescimento seja para ampliar a concessão de
subsídios/benefícios fiscais ao setor privado – essa receita é impraticável nos
curtos e médios prazos.
Portanto, é preciso criar uma nova relação
quantidade/qualidade dos gastos públicos. Isto é: fazer mais e melhor com
menos recursos, aumentando, assim, a eficiência e eficácia da gestão
pública que promovam iniciativas inéditas que, combinadas às ações de
saúde e defesa da vida, possibilitem criar de imediato as bases da retomada do
crescimento e do desenvolvimento e articular os agentes econômicos nacionais e
internacionais para criar um mecanismo de financiamento ao desenvolvimento,
instrumento que será proposto e descrito à frente.
A saúde das finanças públicas é um grande
desafio para a retomada do investimento público e privado, crescimento,
emprego, renda, melhoria dos serviços e desenvolvimento no Brasil. É claro,
também, que a obtenção da saúde fiscal demanda a realização de uma justa reforma
tributária nacional, que recomponha a capacidade financeira dos três níveis do
Estado brasileiro através de ações que potencializem a arrecadação, fortaleça e
aprimore a gestão administrativa do aparato fiscal no combate à sonegação de
tributos – estimada pelo Banco Mundial em 13,4% do PIB.
Para tanto, é preciso criar alternativas
financeiro-fiscais inéditas que permitam, de um lado, a elevação das receitas
públicas sem tirar mais um centavo de imposto do já espoliado, cansado e
insatisfeito contribuinte, e, de outro, recompensar e valorizar cidadãos e
empresas, ou seja, CPF e CNPJ, que terão alívio e retorno financeiro. Nos
próximos artigos, apresentaremos as linhas gerais de uma proposta para trazer
ao mundo fiscal formal boa parte das transações de bens e serviços que se dão
na economia informal.
*Eduardo Rocha, especial para a revista Política Democrática online (48ª edição: outubro/2022)
Sobre o autor
*Eduardo Rocha é economista pela
Universidade Mackenzie, com pós-graduação em Economia do Trabalho pela Unicamp.
** O artigo foi produzido para publicação
na revista Política Democrática online de outubro de 2022 (48ª edição),
produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília
e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da publicação.
Diante de todos esses cálculos toda inflação e todo o déficit público continua nas costas das vítimas beneficiárias do BPC que não permite a inclusão de outros sub benefícios ou penduricalhos em seus ganhos.
ResponderExcluir