Folha de S. Paulo
Países protestantes foram os primeiros a se
afastar dessas instituições
Alguns pastores e fiéis devem
estar orgulhosos. Conseguiram levar a religião para a linha de frente da
disputa eleitoral. Pelo menos desde 2010, candidatos presidenciais vinham
fazendo genuflexões para líderes religiosos na tentativa de cair-lhes nas boas
graças e faturar alguns votos a mais. Este ano, porém, o fenômeno ganhou dimensões
inauditas. É isso mesmo que queremos para o país?
Aqueles que nos preocupamos com condições objetivas de bem-estar da população costumamos ver a religiosidade com cautela. A literatura, afinal, mostra de forma inequívoca que quanto mais religioso é um país, mais pobre ele tende a ser. A exceção notável são os EUA. Cuidado, estamos aqui falando de correlação, um conceito traiçoeiro. Quando duas variáveis estão correlacionadas, qualquer uma pode ser a causa da outra ou ambas serem fruto de outros fatores.
No caso em questão, a hipótese mais aceita
é que a pobreza facilite a expansão da religião, não que a religião cause
pobreza, embora não se possa afastar inteiramente essa possibilidade. Um bom
argumento em favor da tese da facilitação é que, dentro de um país, pessoas
pobres que se tornam religiosas tendem a se sair economicamente melhor que seus
pares que não aderiram a uma fé. Os mecanismos pelos quais isso ocorreria vão
da rede de auxílio mútuo formada pelas comunidades religiosas aos hábitos
saudáveis, como não beber ou usar drogas, que as igrejas valorizam.
Em algum momento da história europeia, algo
parecido ocorreu entre nações. Os países que mais abraçaram o
protestantismo acabaram mais ricos que os demais. Há um interessante
debate sobre os mecanismos que explicariam essa diferença. A pegadinha, para os
entusiastas da fé, é que os países que primeiro adotaram o protestantismo
também foram os primeiros a se afastar da observância religiosa, depois que
suas populações enriqueceram e se instruíram.
Cuidado com o que desejas.
Religião e política,uma combinação explosiva.
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