De outra parte, o Campo Democrático não
está entendo as alterações que se processam no terreno das forças produtivas. É
espantoso ver como o bolsonarismo obteve resultados eleitorais positivos nas
áreas mais avançadas da economia brasileira. O PT ganhou nos grotões; é a nova Arena,
quase. Precisamos encarar isso. O agronegócio, por exemplo, foi atacado o tempo
todo pelo lulopetismo, quando, na verdade, representa o setor mais dinâmico da
nossa economia hoje. Para alguns, a solução parece estar no Jeca Tatu.
Apostou-se no pré-capitalismo contra o capitalismo. E por aí fomos. Deu no que
deu.
Nunca é demais lembrar que o nazismo
explodiu no país mais desenvolvido e culto da Europa naquele momento. Ou seja,
na Alemanha. Mas a pátria de Goethe e Marx era também aquela que apresentava
suas instituições em frangalhos. A Inglaterra era igualmente desenvolvida e
culta (afinal, a Revolução Industrial eclodira por lá e o poeta William
Shakespeare também). Mas, suas instituições liberais-democráticas conseguiram
barrar a sanha autoritária. Que sirva de lição para nós, sobretudo neste
momento.
Sem nos debruçarmos sobre a nova economia,
que tem na automação e no trabalho por contra própria duas áreas muito
sensíveis, não iremos a parte alguma mais. O mesmo vale para a defesa
intransigente do quadro democrático. Um campo político que se reivindica do
progressismo não pode, de maneira alguma, apoiar ditaduras de quinta categoria
como aquelas da Nicarágua e da Venezuela, dirigidas por delinquentes. Adolfo
Hitler representava isso: o lumpesinato, a ascensão dessa escória ao poder. Não
há tortura de direita, nem tortura de esquerda: o que existe é tortura. Mais: a
corrupção está para a economia como a tortura está para a política.
O Campo Democrático, independentemente dos
resultados das eleições presidenciais neste segundo turno, em outubro, tem que
fazer uma reflexão profunda sobre muitos aspectos da nossa trajetória, pelo
menos desde a redemocratização para cá. Repensar o papel do trabalho, entender
melhor como combinar direitos sociais e direitos individuais, atentar para o
papel do fator religioso. A sociedade está mudando, sinalizando para algo novo
e os partidos políticos não estão percebendo.
*Ivan Alves Filho, historiador, documentarista e jornalista, autor de 20 livros em que se destacam Memorial dos Palmares, História Pré-Colonial do Brasil, Brasil, 500 anos em documentos, Velho Chico mineiro, O historiador e o tapeceiro, O caminho do alferes Tiradentes e A saída pela Democracia
Que texto SURPREENDENTE! Maravilhoso! É muito bom ver novas ideias sendo discutidas ou apresentadas de forma tão clara e objetiva! A esquerda petista nos legou Lula e alguns avanços sociais importantes, mas também nos trouxe uma corrupção gigantesca e práticas políticas realmente LAMENTÁVEIS! Se temos que apoiar Lula agora por falta de qualquer outra opção, faremos isto. Mas isto não nos impede de PENSAR CRITICAMENTE e apontar todos os erros e problemas que o lulopetismo já nos trouxe! Parabéns ao autor e ao blog que divulgou este texto tão interessante!
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