Folha de S. Paulo
O apoio do PT a ditaduras é condenável, mas
nunca se traduziu em tentativas de replicá-las
Muitos, com razão, ficam apreensivos ao
ver Lula apoiar
ditaduras de esquerda. Esse suposto apoio é às vezes aumentado pela propaganda
de direita. Mesmo assim, há uma evidente condescendência quando o regime é de
esquerda: Cuba, Venezuela, Nicarágua. A política de cooperação econômica nos
anos PT tinha a mesma benevolência.
Por pior que seja a condescendência petista com ditaduras de esquerda, contudo, é preciso reconhecer: não houve, nos treze anos de governo PT, tentativa de replicar aqui o que foi feito em Cuba, Venezuela ou Nicarágua.
Não que tudo fosse às mil maravilhas: a
retórica que trata a imprensa como inimiga, o discurso polarizante, tudo isso
existiu também nos anos PT. Mas o que foi feito naqueles anos parece
brincadeira de criança perto da violência de agora, e quem o atesta são os (e
especialmente "as") jornalistas que foram alvo tanto da militância
petista quanto da bolsonarista.
Certas instituições saíram fortalecidas dos
governos petistas, como Polícia Federal e Ministério Público. Os ministros do
Supremo indicados por governos PT (em especial o governo Dilma) são os que mais
se destacam no combate à corrupção, inclusive a corrupção do PT. O aceno a uma
esquerda antidemocrática latino-americana é lamentável, mas não se traduziu em
ditadura aqui.
De Bolsonaro não se pode dizer o mesmo. A investida
contra as instituições da democracia é constante. E já tem total clareza do
inimigo a vencer: o STF está na mira. O próprio Bolsonaro, o senador eleito
General Mourão, o deputado reeleito Ricardo Barros, todos já passam a mesma
mensagem: se
o Supremo não se curvar ao bolsonarismo, vão aumentar o número de cadeiras,
o que daria para Bolsonaro o poder de selecionar os novos ocupantes. Como ele
próprio já afirmou, seu principal critério é a lealdade do novo ministro.
Sem um Supremo atuante, o campo está aberto
para tudo aquilo que foi barrado ao longo dos últimos anos: decretos ainda mais
agressivos para venda e circulação de armas de fogo —sem nenhuma fiscalização—,
formação de milícias pró-governo, ataques e ameaças a pessoas que ousem se
contrapor ao presidente, liberação formal do vale-tudo ambiental, intrusão
ideológica direta na educação, restrições à liberdade de expressão, inundação
da comunicação com fake news,
ameaças e discurso de ódio. Ricardo Barros já fala em leis para punir
institutos de pesquisa. A intimidação estará permitida.
Bolsonaro não tirou essa estratégia da
cartola. É
o livro de regras do populismo antidemocrático, que pode ser de direita ou
de esquerda. Quando a ditadura é de direita, Bolsonaro apoia e até bajula, como
fez com Viktor Orbán na Hungria.
E copia seus métodos em casa. Orbán também
acabou com a independência do Judiciário. Na Hungria, só restaram grupos de
mídia controlados por amigos do primeiro-ministro. Leis eleitorais foram
alteradas para garantir a reeleição perpétua do partido dominante, que também
domina os recursos para financiar seus aliados, além de ter criado ao seu redor
um círculo de oligarcas apoiadores do regime. Mesmo as universidades estão sob
vigilância. E é com esse governo que Bolsonaro diz ter "afinidades".
O apoio do PT a ditaduras de esquerda é
condenável. Nunca se traduziu, contudo, em tentativas de copiar seus métodos
aqui dentro. Se tentar - por exemplo num "controle social da mídia"
—há todo um Congresso bolsonarista para barrá-lo. É por isso que, neste
momento, a maior ameaça de venezuelização do Brasil está em Bolsonaro.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBolsonaro, o CANIBAL da Democracia! Mas não se preocupem, ele é inofensivo... É a Tchutchuca do Centrão, tão dócil que lambe os pezinhos e os dedinhos do Arthur Lira, também baba noutras partezinhas do presidente da Câmara...
ResponderExcluirO colunista já escreveu outro artigo dizendo que Lula é melhor que Bolsonaro.
ResponderExcluirAliás,o artigo do jornalista é excelente.
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