O Estado de S. Paulo
A ideia de punir os institutos de pesquisa deveria arrepiar qualquer democrata
“Agente não consegue ver outra coisa a não
ser as eleições serem decididas amanhã e com uma margem superior a 60%”, disse
Bolsonaro no sábado que antecedeu o primeiro turno das eleições. O resultado de
48% dos votos para Lula e 43% para Bolsonaro foi tomado como surpresa para
muitos, que viam nas últimas pesquisas uma ascendente para Lula. Houve
empolgação dos aliados do petista, que reservaram a Avenida Paulista caso a
vitória ocorresse já no domingo.
Não é claro que as pesquisas tenham errado mais por dificuldade em selecionar uma amostra mais representativa do eleitorado ou se os bolsonaristas estavam envergonhados para declararem verdadeiramente seu voto para os pesquisadores. Independentemente disso, após o erro das pesquisas no 1.º turno houve aumento da procura por institutos que menos erram. É a mentalidade do livre mercado funcionando ativamente no jogo sequencial do mercado de pesquisas: ganha clientes quem acerta, perde quem erra.
Bolsonaro resolveu dobrar a aposta na crítica ao sistema eleitoral brasileiro. “Até o gráfico da evolução que foi feito aqui levando-se em conta cada porcentual de voto que era computado criou figura geográfica (sic) uniforme bem típica de algoritmo, muito parecido com aquela do segundo turno de 2014 do Aécio Neves”, disse o presidente, em uma live nas redes sociais. Bolsonaro continua atentando contra o sistema eleitoral brasileiro.
O líder do governo na Câmara, deputado
Ricardo Barros (PP-PR), apresentou um projeto de lei para punir institutos de
pesquisa que erraram nas previsões das eleições. Defende que os institutos
possam responder criminalmente caso estejam acima da margem de erro das
pesquisas. A intuição diz que os institutos agora teriam incentivos para
divulgar pesquisas com maiores margens de erro, claro.
Esta é uma iniciativa que deveria arrepiar
os cabelos de qualquer democrata. Controle sobre o trabalho intelectual com
punição por um erro que depende da aleatoriedade do universo é não apenas
perigoso, mas revelador de ignorância estatística. O governo continua
trabalhando com uma agenda antiliberal e que desmoraliza nosso sistema
democrático.
Ganhando ou perdendo, Bolsonaro já é uma
ameaça para a democracia brasileira. O enfraquecimento das instituições, do
accountability orçamentário, a normalização de uma direita radical, a descrença
no sistema eleitoral e a ruína de um debate sobre políticas públicas são
heranças que deixarão sua marca nos próximos anos.
*Professora do INSPER, ph.d. em economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook
Bolsonaro rima mesmo com ignorância: ignorância estatística, ignorância em saúde, ignorância científica e cultural quase completa! Mas ele é muito bom em contar cédulas de dinheiro vivo pra comprar dezenas de imóveis com a grana que amealhou comandando as RACHADINHAS FAMILIARES!
ResponderExcluirMesmo perdendo a herança é maledeta.
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