O Globo
Os últimos dias foram de choque
generalizado em relação à avalanche de sujeira e mentiras que tomou conta da
propaganda eleitoral e das redes sociais dos candidatos à presidência. De
repente, como se 2018, 2014 ou 1989 nunca tivessem acontecido, começamos a nos
espantar com o fato de que ninguém está discutindo proposta nenhuma para o
futuro do Brasil.
Ato contínuo, o país passou a debater
arduamente: vale a pena responder às fake news de Bolsonaro com mais fake news?
Revidar ataques baixos com mais baixaria é solução para diminuir a rejeição?
Existe mentira do bem e mentira do mal? Cadê a ética, gente?! Onde é que isso
vai parar?
Sinto informar, mas são perguntas erradas
para o momento.
Claro que não existe mentira do bem, quanto mais mentira baseada em homofobia. Mentir supostamente em nome de Deus, inventando histórias escabrosas para provocar terror em crianças e famílias não é apenas uma podridão inominável. É crime.
Por outro lado, responder a ataques com
flores e amor tampouco vai resolver alguma coisa. Se há uma lição que qualquer
pessoa que já acompanhou uma grande campanha eleitoral no Brasil aprendeu é
que, por mais sujas e feias que sejam, campanhas negativas funcionam.
Foi assim que Collor tirou Lula do prumo em
1989, da mesma forma que Dilma e João Santana aniquilaram Marina Silva em 2014.
Jair Bolsonaro elevou a prática a um outro patamar em 2018, com as mamadeiras
fálicas e a invenção do "kit gay". Não havia razão para supor que,
quando a coisa apertasse, ele não recorreria de novo ao mesmo método. Seus aliados,
inclusive, nunca esconderam que fariam isso. Até avisaram.
A agressividade da reação petista também
não deveria surpreender – embora escancare a incoerência de quem, no palanque,
prega o amor, mas na TV e nas redes sociais, declara guerra e confessa inventar
fake news para combater as do adversário.
Nas palavras de um aliado de Lula que não
concorda com isso, entrar na guerra suja é fundamentalmente uma escolha ética,
e todas as vezes que o PT teve que fazer essa escolha o resultado foi o mesmo.
Com as pesquisas indicando que a rejeição
de Lula está em aumentando e a de Bolsonaro diminuindo, os petistas recorrem ao
que está à mão. E o que está à mão é André Janones (Avante-MG), que tem feito o
que se espera dele.
O que deveria mesmo espantar é o despreparo
com que chegamos a este momento. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo. Em
maio, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que “aqueles que se utilizarem
desses instrumentos (de desinformação) podem ter o registro de suas
candidaturas cassado, ou mesmo perder o mandato”.
Desde então, o TSE mandou censurar
reportagens sobre diálogos grampeados em que o líder do PCC, Marcola, discute
cenários eleitorais e diz que "não dá nem para comparar" Bolsonaro a
Lula. Moraes disse que as matérias divulgavam fake news ao sugerir Marcola
declarava voto em Lula – até porque, preso em uma penitenciária de segurança
máxima, ele não pode votar. Multou também sites de vários bolsonaristas.
Mas o presidente da República e o deputado
mineiro Nikolas Ferreira continuaram disseminando o mesmo mesmo conteúdo,
gerando uma situação que o próprio Nikolas ironizou no Twitter: "Caso
venha a deletar, o vídeo, só no Instagram, atingiu 30 milhões de visualizações.
O TSE ainda não consegue fazer as pessoas "desverem". O recado foi
dado."
Nikolas tocou num ponto vital: o volume de
postagens com fake news, desinformação e ataques é praticamente imparável.
A quantidade de canais de distribuição e
sua organização sem hierarquia facilita o engajamento. Além de Bolsonaro ter
muito mais seguidores do que Lula em suas redes – mais exatamente 54 milhões,
contra 22,2 milhões do petista, sem contar o WhatsApp – a forma como ele se
comunica, fazendo vídeos diários em que dispara variadas mensagens, alimenta o
discurso de milhares de seguidores que gravam seus próprios vídeos para inundar
as redes. A estética meio tosca completa o pacote, gerando proximidade e
pertencimento.
Parece claro que, nesse novo universo, não
basta dar ordens que não serão cumpridas, adotar o mesmo grau de agressividade
ou recorrer a novas mentiras igualmente cabeludas.
Dominar o método, mais do que reproduzir o
conteúdo, tende a ser bem mais produtivo. Entender que, já que é cada vez mais
difícil esconder ou parar o ciclo da informação, não há outra forma senão falar
de tudo, ao invés de querer controlar tudo.
Manter os canais de diálogo azeitados vale
muito mais do que aparecer às pressas na época da eleição. E aceitar que, numa
guerra suja, ocupar as trincheiras certas pode valer mais do que apregoar
superioridade moral.
Bolsonaro é mais sujo que pau de galinheiro! E mesmo daqueles galinheiros antigos que nunca viram algumas gotas de água...
ResponderExcluirPra macular Bolsonaro ninguém precisa de fake news,quanto ao vídeo do deputado,ele já foi eleito,não teve serventia nenhuma,mesmo assim,eu acho que o Janone errou.
ResponderExcluir