Editoriais / Opiniões
Eleitor exige menos insultos e mais
propostas
O Globo
Lula e Bolsonaro transformaram a campanha
eleitoral numa guerra suja — e evitam assumir compromissos
Um desavisado que assista à propaganda
eleitoral dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL)
pode pensar que se trata de uma disputa de MMA, tamanha a quantidade de golpes,
à esquerda e à direita, e a agressividade. Quem vai a nocaute nessa luta é o
eleitor. E seu desejo de conhecer as propostas que o ex e o atual presidente
têm — ou deveriam ter — para resolver os graves e urgentes problemas
brasileiros.
Lamentavelmente, a disputa mais acirrada
que emergiu do primeiro turno, a rejeição de ambos e o alto percentual de
eleitores decididos têm levado as campanhas a lançar mão de insultos, golpes
baixos, mentiras deslavadas ou frases fora de contexto para tentar vencer. A
propaganda eleitoral foi tomada por uma guerra suja. No vale-tudo para atrair
votos, o medo e o terrorismo eleitoral ganharam lugar de destaque.
A propaganda na TV geralmente tem começado pela artilharia pesada, para só depois abordar, de modo superficial, planos de governo. Os dois lados não economizam adjetivos. A propaganda de Lula chama Bolsonaro de mentiroso e desumano. A de Bolsonaro tacha Lula de ladrão e corrupto. A petista levou ao ar um vídeo em que Bolsonaro dizia, em 2017, que “comeria um índio sem problema nenhum” — a peça foi suspensa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A bolsonarista divulgou imagens que associam Lula a ritos satânicos, também proibidas pelo TSE.
Apesar do esforço da Justiça Eleitoral, as
campanhas têm sido bem-sucedidas na guerra suja. Quando a propaganda é vetada,
ela já se espalhou. Enquanto a baixaria campeia, o país carece de propostas
viáveis. Nos poucos minutos dedicados a falar o que farão, os candidatos
prometem mundos e fundos, sem explicar como adequar as promessas à realidade.
Reportagem do GLOBO constatou que eles evitam assumir compromissos em áreas
essenciais, como corrupção ou economia.
Tanto Lula quando Bolsonaro falam em manter
o Auxílio Brasil em R$ 600, embora não haja previsão orçamentária para isso.
Projetos de programas assistenciais têm sido ventilados, mas questões críticas
ficam de lado. Não se sabe como indicarão as chefias da Procuradoria-Geral da
República e da Polícia Federal, que alternativa propõem ao teto de gastos, como
será a política de combustíveis, quais mistérios haverá, nem mesmo se
corrigirão a tabela do Imposto de Renda.
Ambos dizem priorizar a educação. Mas o que
isso significa na prática? A área de ciência e tecnologia, essencial ao
desenvolvimento, continuará fazendo figuração? De onde tirar verbas para
fortalecer o SUS? Como gerar empregos num mundo em recessão? Que será feito
para reduzir o desmatamento? Qual será a política de segurança, para além do
debate sobre armas? Qual será a postura em relação à corrupção? Como tratar a
carência de moradia? Haverá compromisso com rigor fiscal? Que será feito do
orçamento secreto?
Lula e Bolsonaro são figuras conhecidas. De
pouco adianta escarafunchar o passado deles em busca de gafes. Mais importante
é apresentarem compromissos objetivos para resolver os problemas do Brasil,
para que sejam cobrados depois. Ataques e xingamentos podem virar memes ou
engajar a militância, mas não servem ao país. Faltam duas semanas para o
pleito. Lula e Bolsonaro, que hoje se enfrentam no primeiro debate televisivo,
prestariam um serviço aos brasileiros se apresentassem menos insultos e mais
propostas.
Brasil é crítico para deter populismo
autoritário na América Latina
O Globo
Eleição brasileira traz risco de retrocesso
institucional, segundo organização que pesquisa democracia
Quem acompanha os regimes políticos na
América Latina teme que o continente mergulhe num novo ciclo de autoritarismo,
dependendo do desfecho da eleição brasileira. É o caso do Instituto para a
Democracia e Assistência Eleitoral (Idea Internacional), segundo o qual o
Brasil está hoje no grupo de “democracias imperfeitas”, ao lado de Argentina,
Costa Rica, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Panamá e República Dominicana.
Pelos critérios do Idea, o Uruguai é o único país democrático no continente. No
outro extremo, estão Venezuela, Nicarágua, Cuba e Haiti, considerados regimes
autoritários.
A depender do resultado do segundo turno, o
Brasil poderá entrar no grupo dos países “híbridos” — Honduras, Guatemala, El
Salvador, Bolívia, Paraguai e México —, caracterizados por terem um regime
legítimo na origem, mas depois ultrapassarem os limites da democracia e se
tornarem autoritários.
Por enquanto, o Brasil ainda integra o
grupo onde os governos foram eleitos democraticamente, e há apenas distorções
no exercício do poder. O exemplo mais óbvio é a pressão do Executivo sobre o
Judiciário, como as ameaças recorrentes do presidente Jair Bolsonaro contra o
Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas há
também o orçamento secreto, por meio do qual o Executivo compra apoio no
Legislativo, e a invasão do Judiciário em competências do Executivo ou do
Legislativo.
No atual ciclo de autoritarismo
latino-americano, como noutras partes do mundo, o regime endurece não mais com
tanques nas ruas e não necessariamente com militares no poder. A democracia é
corroída por dentro por governos populistas, cujo objetivo é controlar
Judiciário e Legislativo. Um sinal do risco é a proposta de ampliar o número de
ministros do STF que circula na campanha de Bolsonaro, típica da corrosão
democrática em países como Venezuela, Polônia ou Hungria.
A democracia brasileira está, nas palavras
do argentino Mario Riorda, presidente da Associação Latino-Americana de
Pesquisadores de Campanhas Eleitorais (Alice), “estressada”. Um estresse que
decorre da falta de respostas a demandas da sociedade. “Em duas décadas e meia,
os principais problemas de quase todos os países continuam sendo pobreza,
corrupção, inflação e insegurança”, afirmou Riorda ao GLOBO. Para ele, os
protestos que começaram em 2019 no Chile e se espalharam por Colômbia, Bolívia,
Equador e Argentina são um alerta.
O pior que pode acontecer é a eleição de autocratas que passam a governar acima da Constituição, mesmo que, no início, com apoio popular. Um exemplo é El Salvador. Elegeu em 2019 Nayib Bukele, que desde março governa em estado de exceção. Já prendeu mais de 50 mil à margem da lei e mantém um índice de aprovação entre 70% e 80%. El Salvador vive uma situação típica, que termina numa ditadura autocrática e violenta. O Brasil tem experiência histórica com falsas soluções políticas que se traduzem em perda de liberdade e retrocesso institucional. Precisa evitar esse caminho.
Na mesma
Folha de S. Paulo
Datafolha mostra estabilidade e poucos
votos sem dono na corrida presidencial
Ao fim da segunda semana de campanha do
segundo turno, não há mudança nas intenções de voto para presidente da
República, segundo a
pesquisa Datafolha. Pela proporção de votos válidos, Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) permanece com os 53% da semana passada; Jair Bolsonaro (PL),
com 47%.
Consideradas as parcelas do total de votos,
Lula tem 49%, Bolsonaro 44%, indecisos são 2% e os ora dispostos a votar branco
ou nulo são 5%. Cerca de 6% dizem que ainda podem mudar o voto.
A aprovação ao governo, que nunca foi
majoritária, encontra-se
em patamar de pico —possivelmente refletindo a conjuntura de
respiro da inflação e do desemprego.
Consideram a gestão boa ou ótima 38% dos
brasileiros aptos a votar, enquanto quase idênticos 39% a tacham de ruim ou
péssima. Recorde-se que, em dezembro do ano passado, a reprovação era de 53%.
No momento, o que se pode dizer é que se
trata de um quadro de estabilidade com poucos votos sem dono. A algazarra da
campanha, de baixeza rara, não parece ter alterado as propensões do eleitor.
Nesse contexto, a taxa de rejeição dos
finalistas entre os votantes em geral e entre os que escolheram outros
candidatos no primeiro turno dá indício mais relevante de como podem surgir
mudanças.
A rejeição ao nome do presidente candidato
à reeleição continua majoritária, a julgar pela declaração dos entrevistados,
em 51%; a do ex-presidente petista, em 46%. A recusa a Bolsonaro, constata-se,
é maior entre aqueles que declaram ter votado em Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes
(PDT).
De mais notável é a opinião do eleitor
sobre o que seria de sua vida no caso da eleição de Lula ou de Bolsonaro —os
resultados são mais díspares do que aqueles das intenções de voto. Em caso de
vitória do petista, a vida "ficaria melhor" para 41% dos eleitores.
Na hipótese de reeleição do presidente, para apenas 27% dos entrevistados.
Dadas as margens de erro, as inconstâncias
da taxa de absenteísmo eleitoral e as duas semanas para a decisão, pode-se
dizer apenas que ainda se trata de uma eleição que pode ter um resultado por
margem muito estreita.
Considerada a rejeição persistente e
majoritária ao nome do presidente da República, as pesquisas neste momento
indicam um ligeiro favoritismo de Lula. Mas nada que permita prognósticos
seguros.
Ainda virão os debates, com seus riscos de
passo em falso. Além do mais, o país viverá também uma quinzena quase inteira
de tentativas de degradação da imagem do adversário, de mentiras e propaganda
de guerra virtual, com novidades que dificultam o policiamento dos malfeitos,
de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral.
Saúde no rótulo
Folha de S. Paulo
Novas regras para embalagens de alimentos
facilitam escolha dos consumidores
Passaram a vigorar em todo o país as novas normas
de padronização para rótulos de bebidas e alimentos industrializados,
aprovadas há dois anos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Doravante, tais produtos terão de trazer
nas embalagens alertas para a presença excessiva de nutrientes considerados
críticos para a saúde, como sódio, gordura saturada e açúcar. Trata-se de
iniciativa benéfica para o bem-estar dos brasileiros e já adotada com bons
resultados em outros países.
A principal mudança será a inclusão do
ícone de uma lupa na parte frontal dos rótulos de bebidas e alimentos cujos
teores desses elementos forem superiores aos preconizados pela Anvisa.
Também será obrigatório a identificação da
presença de açúcares totais e adicionados, bem como a declaração do valor
energético e nutricional por 100 g ou 100 ml do produto —a fim de que o
consumidor possa comparar de forma simples os diferentes produtos.
Por fim, com o intuito de melhorar a
legibilidade do rótulo, a tabela nutricional passará a ter apenas letras pretas
sobre um fundo branco, realçando o contraste.
Fornecer informações claras, precisas e
completas acerca dos alimentos, como estipula a nova norma, responde não só a
um direito básico do cidadão como pode representar um passo importante no
combate às doenças relacionadas à má alimentação.
Afinal, o consumo excessivo de açúcar,
sódio e gordura saturada está diretamente associado ao aumento da obesidade e
de problemas cardiovasculares (a principal causa de morte no Brasil), além de
outras doenças crônicas não transmissíveis, como o diabetes.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde,
52% da população adulta apresentava ao menos uma dessas doenças em 2019. Já a
obesidade vem crescendo de forma acentuada nas duas últimas décadas.
Hoje, 57% dos brasileiros com 18 anos ou mais apresentam sobrepeso, e 22% estão obesos.
Embora as novas regras já estejam valendo para novos produtos, os artigos hoje
à venda terão prazo de até três anos para adaptação.
É possível que as mudanças, se plenamente implementadas, venham a contribuir para tornar os alimentos industrializados mais saudáveis. A principal consequência, contudo, será dar aos consumidores a possibilidade de exercer seu direito de escolha de forma mais consciente e informada.
A voz da sociedade civil
O Estado de S. Paulo
Organizações sociais, entidades de classe e especialistas têm participado ativamente da formulação de propostas para desenvolver o País, em contraponto ao silêncio dos candidatos
A campanha eleitoral deste ano, até aqui,
tem sido um deserto de ideias sobre o que fazer para resolver os problemas do
País. Por parte dos candidatos, claro. Porque propostas e gente qualificada
para buscar soluções são o que não falta. Nos últimos meses, a sociedade
civil brasileira vem participando ativamente do debate público, com sugestões
de todo tipo em diversas áreas. Tamanha mobilização, desejável inclusive quando
os governos se mostram capazes de responder aos desafios nacionais, torna-se
ainda mais necessária diante dos impasses em que o Brasil se encontra.
Organizações sociais, entidades de classe e
especialistas com diferentes formações produziram diagnósticos e um abrangente
repertório para fazer o País avançar, seja do ponto de vista das políticas
macroeconômicas, seja a respeito de questões setoriais em educação, saúde,
ciência, meio ambiente ou segurança pública, entre outras áreas. Por óbvio, há
ideias ótimas e outras nem tanto. O que mais importa, entretanto, é a
mobilização para debater temas que dialogam diretamente com as perspectivas de
crescimento econômico e de desenvolvimento social − em contraponto ao silêncio
dos candidatos e a suas estratégias eleitorais.
Muitas das propostas apresentadas pela
sociedade civil já ganharam destaque aqui neste espaço, como é o caso do
documento Contribuições para um governo democrático e progressista,
elaborado, entre outros, pelos economistas Bernard Appy e Pérsio Arida − com
foco na reforma do Estado, em mudanças no sistema tributário e na proteção contra
a pobreza extrema. Ou da agenda legislativa para 2023 sugerida pelo Centro de
Liderança Pública (CLP), que identificou 14 projetos prioritários em tramitação
no Congresso sobre temas como reforma administrativa, mercado de carbono e
desmatamento ilegal.
Recentemente o Instituto Brasileiro de
Ciências Criminais (IBCCrim) divulgou carta aos candidatos a presidente da
República com uma série de proposições. Entre elas, uma que também vale para os
futuros governadores: o instituto defende o uso de câmeras na farda de agentes
de segurança pública, como já ocorre na Polícia Militar de São Paulo, por se
tratar de “medida que se mostrou eficaz na redução de homicídios de civis e
policiais”. O IBCCrim advoga a necessidade de coleta de dados para subsidiar a tomada
de decisões − o que se mostra extremamente apropriado no caso das câmeras,
considerando que há candidatos que prometeram dispensar o uso do equipamento.
A educação, área a ser priorizada em
qualquer projeto de desenvolvimento nacional e que, infelizmente, foi
desprezada no governo do presidente Jair Bolsonaro, acaba de ganhar valiosa
contribuição. Referência no debate educacional, o Cenpec lançou o Manifesto
por políticas públicas efetivas de valorização docente. Trata-se de documento
que sistematiza reflexões de especialistas reunidos em agosto − e aponta saídas
para melhorar a atuação dos professores, sabidamente o principal fator de
aprendizagem dos alunos. Vale listar três recomendações do manifesto: rever o
sistema de contratação de professores, favorecendo a sua fixação em uma única
escola; desestimular a contratação de professores temporários, problema
recorrente em diversas redes públicas, inclusive na de São Paulo, a maior do
País; e limitar a jornada de trabalho a 40 horas semanais.
Dar voz à sociedade civil e ouvir o que cada segmento tem a dizer são iniciativas que contribuem para o êxito das políticas públicas. Primeiro, porque ampliam a percepção de gestores e legisladores, agregando informações e pontos de vista que, do contrário, seriam ignorados; segundo, e tão ou mais importante, o envolvimento dos atores sociais na etapa de discussão resulta em maior engajamento na hora de implementar as ações. A campanha eleitoral deste ano, tão polarizada na disputa por votos, também se notabiliza pela omissão dos candidatos em relação a propostas para o País. Mas, se quiserem um cardápio variado de boas ideias, basta recorrer ao que os cidadãos organizados estão oferecendo.
Depravação eleitoral
O Estado de S. Paulo
A asquerosa exploração de supostos casos de violência sexual contra crianças como arma eleitoral pela senadora eleita Damares Alves mostra não haver limite moral no bolsonarismo
A senadora eleita Damares Alves
(Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,
está empenhada na campanha para a reeleição do presidente Jair Bolsonaro. No
último sábado, falando a fiéis de uma igreja evangélica em Goiânia (GO),
Damares não hesitou em fazer uso, com fins unicamente eleitorais, de supostas
violências e perversidades sexuais de que crianças brasileiras teriam sido
vítimas. No afã de conquistar votos para o presidente, a futura senadora
demonstrou que a cruzada eleitoral bolsonarista não tem limites morais nem
resquícios de civilidade e respeito pelas crianças que diz defender.
Em sua fala a fiéis evangélicos, a
ex-ministra citou supostos casos de tráfico internacional de crianças, a partir
da Ilha de Marajó, no Pará, que envolveriam mutilações corporais para a
exploração sexual. O uso do termo “supostos” para tratar das violências e
perversidades relatadas por Damares deve-se ao fato de que, até o momento, não
houve confirmação de que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos tenha, de fato, recebido as referidas denúncias, o que levanta
suspeitas sobre a veracidade das declarações da senadora eleita.
Se tais informações ainda carecem de
confirmação, a imoralidade do gesto de Damares está plenamente verificada. A
senadora eleita trouxe para o calor da campanha eleitoral um tema que mesmo o
mais despudorado ou obtuso agente público deveria saber que deve ser tratado
com a máxima discrição e com muita responsabilidade.
Sendo verdadeiras as denúncias, o
Ministério que Damares dirigiu deveria ter feito o possível para mitigar o
sofrimento das vítimas e encaminhar os casos para investigação e punição. No
entanto, não há como saber se isso foi feito. Procurada pelo Estadão, a
assessoria da senadora eleita indicou três documentos − relatórios de Comissões
Parlamentares de Inquérito na Câmara, no Senado e na Assembleia Legislativa do
Pará − nos quais as denúncias estariam registradas. A reportagem procurou, mas
não localizou os casos citados. No Pará, o Ministério Público e a Polícia Civil
já pediram informações ao governo federal, pois igualmente não as tinham. O
mesmo fez a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, em Brasília. Se as
denúncias existem, esses órgãos obviamente querem ter acesso a elas para poder
agir.
Diante da crescente desconfiança de que
teria inventado as denúncias, Damares afirmou, em entrevista à Rádio
Bandeirantes, que se baseou em conversas com moradores da Ilha de Marajó. “Eu
não estou denunciando, eu estou trazendo à luz o que já estava denunciado”,
disse ela, que foi alvo de uma notícia-crime por parte de advogados que cobram
punição, caso se confirme a mentira.
Por ora, o que se sabe é que Damares não
viu problema em usar situações de extremo sofrimento e crueldade envolvendo crianças
de 3 ou 4 anos para fazer campanha. No sábado, o templo da Assembleia de Deus
Ministério Fama estava cheio e havia crianças no local. Foi na frente delas que
Damares descreveu os supostos crimes, com detalhes tão abjetos que evitaremos
reproduzir aqui, em respeito ao leitor.
Há quem, diante disso, atribua à senadora
eleita algum tipo de perturbação mental, mas que ninguém se iluda: o que um
observador incauto poderia tomar por loucura não passa de método. Damares disse
que “o inferno se levantou” contra Bolsonaro depois que o presidente mandou
tomar providências para proteger as crianças. “A guerra contra Bolsonaro que a
imprensa levantou, que o Supremo Tribunal Federal levantou, que o Congresso
levantou não é uma guerra política, é uma guerra espiritual”, bradou ela.
Parece insanidade, mas não é: a mensagem depravada do bolsonarismo afinal se
disseminou, resistente a qualquer contraprova, e agora não são poucos os
eleitores que passaram a acreditar que não têm alternativa senão votar no
“mito” para impedir nada menos que o estupro de bebês.
Sim, não há limites para a imoralidade
bolsonarista. Valer-se da violência contra crianças, mesmo que imaginária, para
evocar teses grotescas e conquistar votos é prática repulsiva de quem não tem
apego moral de qualquer espécie. Nada de bom se constrói sobre essa base
degenerada.
Gasolina barata, gás caro
O Estado de S. Paulo
Quem tem carro está feliz, mas quem precisa de gás para cozinhar paga acima do preço internacional
Pôr algum alimento na panela já é um duro
desafio para muita gente, no Brasil, mas conseguir comida pode ser apenas parte
do problema. Cozinhar também pode ser uma façanha complicada, porque o gás
destinado ao fogão está 25% mais caro que no exterior.
Candidato à reeleição, o presidente Jair
Bolsonaro tem-se vangloriado, em comícios, de haver proporcionado aos
brasileiros a gasolina mais barata do mundo. Proprietários de automóveis podem
até aplaudir, principalmente se desconhecerem ou derem pouca atenção a alguns
detalhes. Para baratear gasolina e diesel, o presidente e seus aliados no
Congresso reduziram tributos, chegando a impor perdas fiscais a Estados e
municípios. Depois, as cotações do petróleo recuaram no mercado internacional,
mas esse ponto é normalmente esquecido nas manifestações presidenciais. De toda
forma, um fato – evidente há muito tempo – se torna mais claro para quem quiser
enxergar: os pobres continuam bem abaixo das principais preocupações e
prioridades do chefe do Executivo.
Os dados oficiais de inflação, elaborados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são inequívocos
quanto à posição amplamente desvantajosa dos mais pobres. Nos 12 meses até
setembro, os preços de combustíveis para veículos diminuíram 17,02%. No mesmo
período, os combustíveis de uso doméstico encareceram 15,79%, e o custo da
alimentação subiu 11,71%. A variação média dos vários grupos de preços, medida
pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 7,17%.
Alguns meses antes havia superado 11%, mas o recuo estatístico, explicável em
grande parte pela contenção dos preços da gasolina, pouco significa para a
maioria das famílias.
O Brasil dos pobres entrou claramente na
pauta do presidente em três momentos. No primeiro, ele foi praticamente
forçado, até por pressão de congressistas, a conceder auxílio emergencial, na
onda inicial da pandemia, aos muito necessitados. A ajuda foi reduzida a partir
de setembro de 2020 e extinta no começo de janeiro de 2021. Foi reativada em
abril daquele ano, quando se tornou muito difícil, para o Executivo,
menosprezar os dados de empobrecimento e de fome. No segundo, o presidente
resolveu renomear o Bolsa Família como Auxílio Brasil e incorporar esse
programa em seu ativo político-eleitoral. No terceiro, o candidato à reeleição
decidiu elevar de R$ 400 para R$ 600 o valor do auxílio, mas só durante o
período eleitoral. No projeto de Orçamento de 2023 foi inscrito o valor de R$
405.
Os preços da gasolina e do diesel estão abaixo dos níveis internacionais, mas o Executivo tem pressionado a administração da Petrobras para evitar qualquer aumento. É muito difícil explicar essa pressão sem mencionar o interesse eleitoral do presidente da República. Enquanto isso, famílias pobres tentam racionar o uso do gás, como contou uma dona de casa ao Estadão. O governo tem recursos para ajudar essas famílias, se quiser incluí-las em sua lista de prioridades. Mas chegaria a mantê-las nessa lista depois da eleição?
Ambos dizem priorizar a educação. Mas o que isso significa na prática? A área de ciência e tecnologia, essencial ao desenvolvimento, continuará fazendo figuração? De onde tirar verbas para fortalecer o SUS? Como gerar empregos num mundo em recessão? Que será feito para reduzir o desmatamento? Qual será a política de segurança, para além do debate sobre armas? Qual será a postura em relação à corrupção? Como tratar a carência de moradia? Haverá compromisso com rigor fiscal? Que será feito do orçamento secreto? Se o Lula fizer o que fez nos seus dois mandatos será muito melhor do que Bolsonaro.
ResponderExcluirEntão essas perguntas foram respondidas.
Essa dúvida nunca existiu.
Foi criada por quem ainda,depois de tudo que se viu nesse mandato de Bolsonaro, por quem ainda o quer como presidente e não tem como justificar tal apoio.
"Lula e Bolsonaro transformaram a campanha eleitoral numa guerra suja — e evitam assumir compromissos"
ResponderExcluirEssa assimetria não existe, Globo.
O genocida e pedófilo é monstro.
Lula é um homem com 36 honoris causa.
O q isso tem com o artigo? Tudo. A guerra suja tem origem no canalha da República. O pessoal do Lula só se defende.
Qd o articulista fala em Lula e Bozo ele esquece o gabinete do ódio; Lula não tem isso, ainda q esteja pelejando - isto é, q esteja REagindo..
Eu não deixaria ESSE velhote com 5 esposas vivas perto de minha filha menor porque ele pode achar q "pinta um clima".
Muito mais, inegavelmente, confiável é o Lula. Só o gado pervertido não vê.