Editoriais / Opiniões
Chantagem golpista
Folha de S. Paulo
Bolsonaro flerta com adulteração do STF,
que teria dificuldade em levar adiante
É difícil imaginar uma tese golpista que
Jair Bolsonaro (PL) não esteja disposto a abraçar ou, no mínimo, a permitir que
prospere. Assim se dá agora com o projeto para elevar o número de ministros do
Supremo Tribunal Federal.
A proposta foi retirada do baú autoritário
na esteira das vitórias de bolsonaristas e assemelhados nas disputas para o
Legislativo. Um desses casos foi o do próprio vice-presidente da República,
Hamilton Mourão (Republicanos), um general da reserva saudoso dos confortos da
ditadura e eleito senador pelo Rio Grande do Sul.
Se Mourão defendeu sem
pudores a adulteração da principal corte do país, Bolsonaro
entrega-se a rodeios desde sexta-feira (7), quando despejou mais uma saraivada
de ataques sobre os tribunais superiores. Naquele dia, disse que examinaria o
tema após o segundo turno da corrida presidencial.
O mandatário retomou o
assunto neste domingo (9), em tom abertamente chantagista.
"Se eu for reeleito e o Supremo baixar um pouco a temperatura",
condicionou, em seu estilo tortuoso, "talvez você descarte essa
sugestão".
Na hipótese de reeleição, recordou, terá a oportunidade de ampliar de 2 para 4 seus indicados entre os 11 ministros do STF; pelo projeto aventado, haveria outras 5 novas indicações a fazer.
Trata-se de um roteiro conhecido e
celebrizado no continente pelo caudilho venezuelano Hugo Chávez —precursor da
ditadura à qual Bolsonaro sempre associa seus arquirrivais petistas.
Em vez das velhas quarteladas, o governante
se aproveita de momentos de elevado apoio popular ou congressual para
enfraquecer, passo a passo, os freios a suas vontades —Judiciário, imprensa,
oposição. Mesmo formalmente mantidos, os ritos democráticos vão se tornando
mera fachada.
Ainda que consiga uma virada no segundo
turno e conquiste nas urnas um novo mandato, Bolsonaro teria óbvias
dificuldades em levar adiante tal empreitada infame.
Uma reforma do STF depende de mudança
constitucional, o que demanda apoio de 60% da Câmara dos Deputados e do Senado.
Por fortalecido que esteja, o bolsonarismo autoritário não dispõe de tantos
votos, nem a precária popularidade do líder parece capaz de mover os
parlamentares.
A sociedade brasileira tem dado mostras
consistentes de defesa dos valores democráticos, ainda que com críticas
compreensíveis ao desempenho dos Poderes. As instituições, do mesmo modo,
resistem a investidas do populismo.
O que não se tem, infelizmente, é um presidente que rechace de pronto qualquer proposta capaz de aviltar o regime que garante as liberdades e o respeito à lei.
Perdão por fumar
Folha de S. Paulo
Indulto de Biden a condenados por porte de
maconha ajuda a expor injustiças
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden,
anunciou perdão judicial a todos os
condenados por porte de maconha em âmbito federal. O indulto
tem mais valor simbólico, já que a maioria dessa prisões se dá nos estados. Por
isso, Biden também fez um apelo para que os governadores sigam o exemplo.
A medida se ampara na visão de que não faz
sentido criminalizar a maconha, que deveria ser regulada como o álcool. O
proibicionismo, além de ineficaz, conflita com direitos como a soberania do
indivíduo sobre o próprio corpo.
Ainda mais importante é o aspecto social da
medida. O uso recreativo da maconha já é legalizado em 19 estados dos EUA,
enquanto o uso medicinal é autorizado em 37. Entretanto condenados pelo porte
têm dificuldade de acesso a emprego, moradia e educação.
Na prática, ser fichado é condição que
prejudica sobretudo os pobres e a população negra —que, dadas as barreiras
históricas, concentra-se nas camadas de renda mais baixa. Não raro se vê a
legalização da maconha como mero desejo narcisista de jovens brancos de classe
média e alta. A questão vai além, nos EUA ou no Brasil.
Aqui, pesquisa feita pela Agência Pública,
que analisou cerca de 4.000 sentenças sobre crimes relacionados a drogas no
estado de São Paulo em 2017, revelou que negros são condenados portando
quantidades menores de drogas.
No caso da maconha, 71% deles foram
condenados, em média, com o porte de apenas 145 gramas. Já entre brancos, 64%
possuíam em média 1,14 kg —uma diferença, portanto, de quase oito vezes.
Esses dados revelam uma grave lacuna da Lei
de Drogas, de 2006, que impediu a prisão do usuário, mas não delimitou a
quantidade que diferencia o uso do tráfico. Assim, juízes proferem sentenças
baseando-se em elementos ditos "contextuais", como local do flagrante
ou nível de escolaridade e condição econômica do acusado.
Esse mecanismo leva diretamente à prisão de
mais negros e pobres, dado o racismo prevalente na sociedade brasileira e a
presença do narcotráfico em comunidades carentes, nas quais a população parda e
preta predomina.
O mundo está revendo o estatuto legal da maconha, mas aqui governantes e legisladores permanecem com medo do debate ou aferrados a tabus conservadores. Enquanto isso, o proibicionismo superlota prisões e fornece mão de obra para facções criminosas.
Carcomendo a democracia
O Estado de S. Paulo
Ao pretender aumentar número de cadeiras do Supremo para apinhá-lo de ministros que lhe sejam ‘leais’, Bolsonaro quer desidratar o Poder que ainda freia seus devaneios autoritários
O presidente Jair Bolsonaro cogita apoiar
mudanças na Constituição para aumentar o número de ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF), em indisfarçável tentativa de estabelecer naquela
corte, caso ele seja reeleito, uma maioria capaz de tornar “constitucional”
toda e qualquer iniciativa do governo.
A ideia foi defendida pelo vice-presidente
Hamilton Mourão, senador eleito pelo Rio Grande do Sul, e o presidente, quando
questionado sobre o assunto, não desmentiu. Antes, confirmou que a discussão do
tema é uma forma de pressão sobre o STF, tido e havido pelo bolsonarismo como
grande foco de oposição ao governo – o presidente já chegou a dizer que o
Supremo “interfere demais e atrapalha muito o destino do País”. Se o Supremo
“baixar um pouco a temperatura”, disse Bolsonaro, o assunto poderá ser retirado
da pauta bolsonarista em um eventual segundo mandato. Onde se lê “baixar a
temperatura”, leia-se render-se às vontades golpistas de Bolsonaro.
A reforma do Judiciário é uma pauta
relevantíssima, que este jornal inúmeras vezes defendeu. No entanto, o que
Bolsonaro pretende não é reforma, e sim a desidratação de um dos freios
constitucionais ao Poder Executivo – e talvez se torne o único, dado que o
sucesso bolsonarista nas urnas deu ao presidente, caso se reeleja, uma
confortável base no Congresso. Quando Bolsonaro diz que, se ganhar um novo
mandato, “vamos trazer essa minoria que pensa que pode muito para dentro das
quatro linhas da Constituição”, fica clara sua disposição de intimidar os
ministros do Supremo que ousarem contrariá-lo.
Sua vontade é pública: Bolsonaro chegou a
encaminhar um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, um
de seus principais desafetos no Supremo, e o processo só não foi adiante porque
o comando do Senado não permitiu. Na próxima legislatura, com ampla presença
bolsonarista no Senado, essa barreira possivelmente deixará de existir.
Restariam poucos obstáculos para o projeto autocrático de Bolsonaro.
Seja qual for o cargo que ocupam, os
políticos precisam entender que, no Estado Democrático de Direito, vigora o
princípio da separação de Poderes. O Judiciário é independente. Nem o Executivo
nem o Legislativo mandam na Justiça. A discordância de uma orientação do
Supremo não é resolvida com a ameaça de aumentar o número de ministros do
Supremo e, assim, obter um novo posicionamento do tribunal. Quem age assim
afronta a Constituição de 1988 que, ao dispor sobre as cláusulas pétreas,
estabelece que “não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir a separação dos Poderes”.
A ameaça é muito grave, envolvendo aspecto
central do funcionamento do Estado Democrático de Direito. Competência do
Judiciário, a aplicação da Constituição não pode estar sujeita a pressões do
Executivo ou do Legislativo.
Em função do princípio da separação dos
Poderes, uma maioria parlamentar, circunstancial, deve ser rigorosamente
incapaz para alterar uma orientação jurisprudencial. No entanto, o bolsonarismo
afirma com todas as letras que, motivado pela votação nas urnas e a pretexto de
acabar com o “ativismo judicial”, pretende “enquadrar” o STF, nas palavras do
líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), em entrevista à
GloboNews.
Para “enquadrar” o Supremo, Bolsonaro
planeja nomear somente ministros que respeitem o critério da “confiança de
lealdade mútua”. Ou seja, devem trabalhar não em defesa da Constituição, mas em
favor das pautas de interesse do governo e, em particular, do presidente. Com
isso, o Supremo passa a ser uma extensão do Poder Executivo.
Não à toa, o regime militar, quando
precisou “enquadrar” o Supremo, tratou de aumentar o número de ministros. E
também não à toa, foi com esse mesmo princípio que o chavismo subjugou o
Judiciário e instalou de vez sua ditadura na Venezuela. Bolsonaro, desde sempre
inconformado com o fim da ditadura militar, sabe muito bem o que está fazendo –
e é preciso urgentemente que os brasileiros que prezam a democracia saibam
também.
O teste de estresse da Justiça Eleitoral
O Estado de S. Paulo
O período eleitoral justifica medidas duras contra abusos da liberdade de expressão, mas, se publicações não forem inequivocamente inverídicas e descontextualizadas, é censura
O combate à desinformação nunca foi
tarefa fácil, tanto mais na era das redes digitais e em momentos de comoção
social, como na crise pandêmica ou em disputas eleitorais. Os oportunistas e
liberticidas sabem disso, e manobram numa zona cinzenta, pressionando a
liberdade de expressão ao limite da legalidade. Quatro anos após o último
pleito, a presunção do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Luiz Fux – “falar que pode haver fake news já é uma fake news”
–, soa ainda mais ingênua e arrogante. E temerária: a remoção de conteúdos é
remédio excepcional, que na circunstância ou dosagem erradas se torna veneno.
Em uma palavra: censura.
O ministro do TSE Paulo de Tarso
Sanseverino determinou a remoção de 31 publicações que associam o candidato do PT
à Presidência, Lula da Silva, ao ditador da Nicarágua, Daniel Ortega. O
ministro afirma que as publicações continham “conteúdos manifestamente
inverídicos em que se propaga a desinformação de que o candidato Luiz Inácio
Lula da Silva defendeu a invasão de igrejas, perseguiria os cristãos, bem como
apoiaria a ditadura da Nicarágua”.
O caso expõe os riscos de uma atmosfera
volátil criada pela combinação de uma jurisprudência incerta com o apetite das
campanhas por baixarias.
Em 2021, o TSE modificou sua resolução
sobre condutas ilícitas em campanha eleitoral, incluindo o veto à divulgação de
fatos sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados. Com base
nisso, o Tribunal tem removido conteúdos divulgados por apoiadores das
campanhas, em especial a bolsonarista e a lulopetista.
O próprio Jair Bolsonaro, por exemplo,
compartilhou um suposto áudio do líder do PCC, afirmando: “Marcola, chefão do
PCC, confessa que Lula é o melhor para o crime organizado”. Por outro lado,
entre as redes petistas circula uma publicação que sugere que Bolsonaro vai
acabar com o feriado de Nossa Senhora Aparecida. O deputado federal André
Janones, que apoia Lula, postou uma imagem adulterada que atribui ao portal de
notícias G1 a informação de que num governo Bolsonaro o ex-presidente Fernando
Collor seria ministro da Previdência e confiscaria o benefício dos aposentados.
Este é um exemplo evidente de conteúdo “inverídico e descontextualizado”. O
vídeo publicado foi recortado e tirado do contexto original, em que Bolsonaro advertia
justamente os supostos riscos de Collor se tornar ministro em outro governo.
Outro exemplo foi a postagem do senador
Flávio Bolsonaro dizendo que “Lula e PT apoiam invasões de igreja e perseguição
de cristãos”. A afirmação foi feita não com base em qualquer declaração de Lula
a respeito de igrejas ou padres, mas simplesmente em manchetes de jornal
citando a perseguição religiosa promovida na Nicarágua do ditador Daniel
Ortega.
A postagem foi removida por ordem do TSE.
Mas nesse roldão entrou também um post da Gazeta do Povo no Twitter.
Nele, o jornal paranaense afirma que “ditadura apoiada por Lula”, em referência
à Nicarágua, “tira sinal da CNN do ar” – e faz um link a uma matéria sobre o
tema. Ora, é um fato que, sob qualquer padrão da comunidade internacional, o
regime de Ortega é considerado uma ditadura. É um fato que Lula já manifestou
apoio ao governo de Ortega. E é um fato que Ortega tirou a CNN do ar. Nada há
de inverídico ou descontextualizado na publicação.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ)
divulgou nota protestando contra a “censura” e a Associação Brasileira de
Jornalismo Investigativo declarou que vê “com preocupação decisões que colocam
o Judiciário na posição de decidir o que um veículo jornalístico pode ou não
publicar”. Como lembrou a ANJ, “a legislação brasileira dispõe de uma série de
mecanismos para dirimir eventuais abusos à liberdade de expressão, mas neles
não inclui a censura”.
A Justiça Eleitoral está sendo submetida a
um teste de estresse pelo baixo nível das campanhas eleitorais. Por isso mesmo,
precisa atuar com firmeza, mas sem abrir mão do máximo rigor técnico e
prudência. Até para não justificar acusações, essas sim flagrantemente
fraudulentas, que candidatos como Bolsonaro fazem à sua idoneidade, ela precisa
aprender a separar o joio do trigo.
Insistindo no erro
O Estado de S. Paulo
Ao prometer tirar as câmeras das fardas dos PMs, Tarcísio, que se apresenta como ‘técnico’, está só fazendo má política
O candidato a governador de São Paulo pelo
Republicanos, Tarcísio de Freitas, voltou a afirmar que, se eleito, acabará com
o uso de câmeras corporais por policiais militares (PMs). Mais uma vez, como já
havia feito durante a campanha no primeiro turno, o candidato erra ao defender
uma ideia completamente equivocada. O uso de câmeras de vídeo, conforme atesta
a experiência já acumulada pela Polícia Militar paulista em mais de dois anos, produziu
resultados positivos, em especial a redução da letalidade policial.
Eis um ponto crucial que o candidato
Tarcísio parece não compreender. O bom trabalho policial é aquele que se faz
sob escrutínio público, e as câmeras ajudam a garantir que a lei seja cumprida
por aqueles que são pagos para fazê-la cumprir. As repetidas incursões
policiais em favelas que terminam com elevado número de mortos podem ser tudo
menos bons exemplos de atuação das forças de segurança. Como bem sabe todo
profissional da área, investigações e operações bem conduzidas terminam com
criminosos presos − e não executados.
Ao registrar toda a ação policial, a câmera
no uniforme do policial cumpre diversas finalidades. A mais notória é a de
contenção da truculência e da má conduta do agente. Mas há outras. Assim como
servem para punir maus policiais, as gravações produzem provas que atestam a
correção dos profissionais que estão na linha de frente e, por dever de ofício,
se veem em situações em que devem puxar o gatilho.
Aqui reside a maior falácia do discurso
endossado por Tarcísio: o uso de câmeras de vídeo por policiais, ao contrário
do que apregoa o candidato do Republicanos, é fator de melhoria do
policiamento. Ou seja, garante mais e não menos segurança pública, com
profissionalismo e dentro da lei. Ademais, as gravações servem de acervo para o
aperfeiçoamento das abordagens policiais.
Os argumentos favoráveis ao uso das câmeras
têm origem na experiência concreta de milhares de policiais que já utilizam o
equipamento em seu trabalho rotineiro. Não apenas em São Paulo, onde a
iniciativa foi adotada em 2020, mas em Estados como Santa Catarina e Rondônia,
entre outros, conforme já noticiou o Estadão. A isso se soma a experiência
internacional, considerando que as câmeras corporais não são uma invenção
brasileira.
Tarcísio de Freitas cultiva a imagem de técnico bem preparado. Isso parece não se aplicar, no entanto, à área da segurança. Ao atacar uma política pública que, até aqui, produziu bons resultados, e que tem amplo apoio na própria corporação policial, o candidato demonstra estar mais preocupado com a agenda truculenta do bolsonarismo que o apoia do que em formular estratégias racionais de segurança. Faria bem o candidato se ouvisse o atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), seu mais novo aliado “incondicional” neste segundo turno das eleições. Garcia, corretamente, expandiu o uso das câmeras corporais e, recentemente, anunciou a instalação desse tipo de equipamento em viaturas policiais de São Paulo. A promessa de acabar com as câmeras, se efetivada, será um enorme retrocesso.
TSE foi longe demais no combate à
desinformação
O Globo
Intromissão no trabalho de veículos de
imprensa — mesmo quando ruim — configura censura indevida
Está cada vez mais evidente que, no afã de
combater a desinformação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vem cometendo
exageros que configuram censura descabida a veículos de imprensa, proibida pela
Constituição. Os casos de intromissão indevida no trabalho de jornalistas têm
se acumulado ao longo dos últimos dias.
Na sexta-feira, a ministra Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro ordenou a remoção de um episódio do programa “Jovem Pan News” em que a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) respondia a perguntas levantando suspeitas de vínculo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel. Na quarta-feira, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino ordenou que uma rede social removesse uma nota do jornal Gazeta do Povo informando que o ditador nicaraguense Daniel Ortega bloqueara a transmissão em espanhol do canal americano CNN, sob o título “Ditadura apoiada por Lula tira sinal da CNN do ar”.
A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e a
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) acertaram ao
condenar as decisões. A Abraji também criticou o ministro Alexandre de Moraes,
presidente do TSE, por ter mandado retirar do ar no domingo do primeiro turno
um artigo do site O Antagonista sugerindo que o líder da principal facção
criminosa dos presídios brasileiros apoiava Lula.
Nenhum desses conteúdos está imune a
críticas do ponto de vista editorial. As acusações da senadora tucana contra Lula
carecem de provas. Não tem cabimento mencioná-lo numa notícia sobre a Nicarágua
sem relação com o Brasil. E os diálogos apresentados não sustentavam o elo
entre petistas e criminosos. Mas isso não significa que façam parte das
campanhas de desinformação que o TSE deveria combater.
Não é papel da Corte julgar a qualidade dos
veículos de imprensa, muito menos censurá-los preventivamente apenas por causa
de um título malfeito, nem mesmo pela eventual publicação de informações
erradas, que podem perfeitamente ser corrigidas. As partes que se sentirem
ofendidas deveriam acionar a Justiça comum, onde os veículos têm o direito de
se defender, caso já não tenham reparado o próprio erro. O inaceitável é
confundir o trabalho jornalístico — mesmo ruim — com a desinformação deliberada
que em geral emana das campanhas eleitorais.
No mês passado, o TSE acertou ao mandar a
presidente do PT, Gleisi Hoffmann, apagar seu post numa rede social acusando
Bolsonaro de ser mandante da morte de um petista em Mato Grosso. Antes,
ordenara a exclusão de conteúdos falsos do deputado federal André Janones
(Avante-MG) fazendo uma conexão descabida entre Bolsonaro e a suspensão do piso
salarial da enfermagem. A Corte também barrou inúmeros abusos bolsonaristas.
A eleição presidencial de 2018 provou que
era necessária a ação do Judiciário contra a proliferação de fake news.
Mentiras sempre foram usadas para conquistar votos, mas o advento das redes
sociais tornou fácil e barato alcançar milhões de eleitores com conteúdos
fraudulentos. Daí a necessidade de o TSE ser atento e ágil, sobretudo no que
diz respeito aos aplicativos de mensagem, como WhatsApp ou Telegram. Mas é
preciso não exagerar na dose. A Corte tem de tomar cuidado para não
desrespeitar o direito constitucional mais essencial à democracia: a liberdade
de expressão.
Próximo governo terá desafio de reconstruir
os programas sociais
O Globo
Combate à pobreza retrocedeu 14 anos sob
Bolsonaro, constata um dos criadores do Bolsa Família
A Constituição de 1988 definiu como
objetivo de Estado acabar com a pobreza e reduzir a desigualdade. Passados 34
anos da promulgação, não só ainda há muito a fazer, como o Brasil retrocedeu,
no governo Jair Bolsonaro, pelo menos uma década nessa missão. Falta foco aos
programas sociais, além de uma rede de proteção social segura e estável. “O
Estado se afastou do pobre”, constatou em entrevista ao GLOBO o economista
Ricardo Paes de Barros, do Insper, um dos idealizadores do Bolsa Família.
A história dos programas sociais na
redemocratização começa com o vale-leite no governo José Sarney, passa pela
adoção do Bolsa Escola e de outros benefícios no governo Fernando Henrique e
pela unificação dos programas sociais no governo Luiz Inácio Lula da Silva sob
o nome de Bolsa Família. O estipêndio mensal era suficiente para distribuir uma
renda mínima às famílias mais necessitadas, porém exigia contrapartidas como
frequência escolar, vacinação e visita periódica aos postos de saúde. O
objetivo era quebrar a cadeia de transmissão da pobreza às próximas gerações. O
filho da família assistida pelo Estado idealmente precisa estudar para ter uma
profissão que o retire da rede de proteção.
Um dos pilares do programa é o Cadastro
Único do Governo Federal (CadÚnico), cuja finalidade é identificar com precisão
os beneficiários, para evitar vazamentos de recursos e fazer ajustes diante de
imprevistos. Nem sempre isso funcionou a contento, como revelaram denúncias de
fraudes. Mesmo assim é inegável o valor estratégico do CadÚnico. A proximidade
com os pobres é requisito básico para qualquer programa social ter sucesso.
Paes de Barros acaba de apresentar um
painel de 30 indicadores nos segmentos de trabalho, saúde, segurança, habitação
e assistência referentes a 5.500 dos 5.570 municípios brasileiros. É pelo seu
acompanhamento, com o uso de ferramentas como o CadÚnico, que se pode chegar
com precisão aos mais necessitados. Ele defende um “atendimento personalizado
da família pobre”. A transferência de renda deve ser um complemento dentro de
uma estratégia. O agente público precisa entender os problemas da comunidade
para criar oportunidades.
Tudo muito diferente de programas inflados
para atender a objetivos eleitoreiros, como o Auxílio Brasil de Bolsonaro.
Distribuir dinheiro às cegas, de modo desarticulado, é comparável a “receitar
um remédio genérico a todos os doentes”. É sintomático que o governo não se
preocupe em atualizar o CadÚnico nem use os Centros de Referência de Assistência
Social (Cras) para atender as famílias de baixa renda. Prefere dar dinheiro via
Caixa Econômica, sem criar vínculo com os pobres.
Com a pandemia e a conversão do Bolsa Família em programa meramente assistencialista, a pobreza voltou ao nível de 2007, um recuo de 14 anos. Paes de Barros defende recriar uma rede de proteção social decente. A própria instabilidade do sistema causa insegurança alimentar. Na política social haverá um enorme trabalho de reconstrução a fazer depois deste governo.
Concentração bancária tem discreta
diminuição
Valor Econômico
Rentabilidade do sistema bancário voltou
para perto do nível pré-pandemia
O Banco Central (BC) ressaltou a redução da
concentração bancária no Relatório de Economia Bancária (REB) de 2021,
divulgado na semana passada. Ainda é cedo para comemorar, porém. A diminuição é
tímida e consequência basicamente da retração dos bancos estatais, cuja atuação
o presidente Jair Bolsonaro prometeu conter no início de governo, aproveitando
para tomar de volta em dividendos o capital injetado nessas instituições
durante o governo petista.
Apesar disso, os bancos estatais dominam
negócios estratégicos como o financiamento imobiliário, o crédito rural e o
consignado, e devem crescer mais com a abertura dada pelo governo para os
empréstimos garantidos pelo Auxílio Emergencial. Além disso, estão entre os
líderes em lucro. As fintechs, festejadas pelo BC como promotoras da inclusão
financeira, operam preferencialmente na prestação de serviços e em negócios
menos arriscados.
Segundo o relatório, a concentração no
mercado brasileiro levando em conta os ativos totais entrou na faixa em que é
considerada reduzida, quebrando a barreira de 0,10 do Índice
Herfindahl-Hirschman -- em 2020, e manteve-se assim no ano passado. Mas está
acima da marca quando se analisam as operações de crédito e os depósitos
totais, embora venha declinando ligeiramente. O próprio relatório pontua que
foram avaliados 12 atos de concentração em 2021, quatro deles envolveram
diretamente pelo menos um banco e alguma modalidade de crédito entre os
mercados relevantes impactados, entre eles a compra pelo Itaú Unibanco de
participação na XP, e pelo BTG Pactual no Banco Pan.
O BC também aponta menor concentração ao calcular
a domínio de mercado dos maiores bancos. Esse referencial, que antes levava em
conta os cinco maiores bancos e, a partir de agora, os quatro maiores, mostra
pequenos progressos. A lista, que inclui Itaú e Bradesco, e os estatais Banco
do Brasil e Caixa, mostra que concentravam 59,3% das operações de crédito em
2021, praticamente o mesmo que os 59,4% de 2020; e 60,1% dos depósitos, abaixo
dos 62,7% do ano anterior.
Os bancos estatais podem até ter reduzido
sua fatia de mercado total, mas mantêm o domínio em alguns segmentos. Como
mostrou o Valor (7/10)
é o caso do reinado do Banco do Brasil no financiamento à agricultura, segmento
em que a fatia do setor público era de 61,4% no ano passado, praticamente
estável em comparação com os 61,6% de 2019 e acima dos 61% de 2020. A Caixa
domina 72,9% do estoque de crédito imobiliário, fatia que era de 79,3% em 2019.
É também importante no crédito consignado e deve ampliar sua fatia com as
operações lastreadas em Auxílio Brasil.
Significativo foi o recuo do BNDES no
investimento de grandes projetos, acompanhado da troca da TJLP pela TLP, que
encareceu os recursos e estimulou a maior procura pelas empresas de dinheiro no
mercado de capitais.
Se a fatia dos bancos públicos no crédito
diminuiu, de 47,6% em 2019 para 43,5% em 2021, a das cooperativas subiu de 4,3%
para 6,1%. Já a das fintechs segue inexpressiva, mas elas continuam uma aposta
do BC de estímulo à concorrência no futuro. O BC reconhece que as fintechs têm
sido mais eficientes até agora como instituições de pagamento, que colocam
novos clientes no sistema financeiro, e têm tido maior sucesso na oferta de
cartão de crédito e antecipação de recebíveis.
A assimetria regulatória, idealizada para
incentivar o surgimento das fintechs e suas ideias inovadoras, pode, por outro
lado, desestimular a expansão dessas empresas que não deixarão de calcular
quanto precisarão investir para desbravar novos mares. O open finance é uma
iniciativa promissora no sentido de estimular a concorrência, mas também
precisa de tempo para dar resultados. Já o PIX ganhou adesão imediata e também
contribui para a competição.
Acredita-se que o aumento da concorrência
levará a serviços mais baratos e dinheiro mais acessível. Isso não é
necessariamente verdade, dada a influência no spread bancário do patamar de
juro básico, risco e tributos. A taxa do crédito livre estava em 33,4% ao ano
no fim de 2019, chegou a cair para 25,3% em 2020, voltou para 33,8% em 2021 e,
em agosto, estava em 40,6%.
O relatório mostrou que a rentabilidade do
sistema bancário em 2021 retornou a níveis próximos aos de antes da pandemia. O
lucro líquido somou R$ 132 bilhões em 2021, 49% superior ao registrado em 2020.
O retorno sobre o patrimônio líquido foi de 15%, próximo aos níveis
pré-pandemia. Nessa conta, a concentração também é elevada.
"difícil imaginar uma tese golpista que Jair Bolsonaro (PL) não esteja disposto a abraçar"
ResponderExcluirTudo q se relaciona com o genocida, TUDO, é fraudulento.
O canalha meeeeeeeeente.
E o gado: muuuuuuuuuuuuu!
"Ao pretender aumentar número de cadeiras do Supremo para apinhá-lo de ministros que lhe sejam ‘leais’, Bolsonaro quer desidratar o Poder que ainda freia seus devaneios autoritários"
ResponderExcluirPois é, estadinho, a escolha entre Haddad e o canalha da República não era tão difícil, né?
"O período eleitoral justifica medidas duras contra abusos da liberdade de expressão, mas, se publicações não forem inequivocamente inverídicas e descontextualizadas, é censura"
ResponderExcluirEntendo a preocupação do estadinho. Mas quem diz se é inequívoco é o STF. De minha parte, seu editorial "uma escolha difícil: referindo-se ao professor Haddad e o genocida, era inequivocamente propaganda.
Pagamos caro por isso.
"Ao prometer tirar as câmeras das fardas dos PMs, Tarcísio, que se apresenta como ‘técnico’, está só fazendo má política"
ResponderExcluirPuxa, até "quenfim" uma crítica do estadinho contra a quadrilha do genocida.
"Próximo governo terá desafio de reconstruir os programas sociais"
ResponderExcluirBobagem, Globo. Desafiar o genocida a reconstruir programas sociais é de uma inocência inaceitável. BOZO QUER DESTRUÍ-LAS.
Por outro lado, políticas sociais são a praia do LULA. NINGUÉM É TAO EFICIENTE.
Em outras palavras, articulista, sua equivalência entre LULA e o biroliro, nas políticas sociais, demonstra seu despreparo e desequilíbrio. Vc não é um bom jornalista porque vc tem lado e afinidade com o bozo.
"Combate à pobreza retrocedeu 14 anos sob Bolsonaro, constata um dos criadores do Bolsa Família"
ResponderExcluirO Brasil piorou muuuuuuuuuuuito (isso é gadez, a língua do gado) com o palerma da República.
"Intromissão no trabalho de veículos de imprensa — mesmo quando ruim — configura censura indevida"
ResponderExcluirQd a imprensa admite q seu trabalho pode ser ruim, é porque está péssimo e carece de intromissão por parte da autoridades legalmente constituídas.
Jovenpano record band globo sbt etc tem lado, os próprios. Precisam de controle por isso.