Apoio recorde à democracia tem de ser lido com cautela
O Globo
Repúdio à ditadura atinge maior nível desde
1989, mas não está claro como brasileiro define regime democrático
É sem dúvida um alento saber que, a poucos
dias do segundo turno das eleições, o apoio à democracia atingiu no Brasil o
ápice na série histórica medida pelo Datafolha desde 1989. No indicador mais
relevante, apenas 5% afirmam que “sob algumas circunstâncias” uma ditadura pode
ser melhor (eram 20% em 2018 e 12% em 2020). Para 79% dos entrevistados, a
democracia é sempre melhor que qualquer outra forma de governo.
O repúdio à ditadura é maior entre os
brasileiros que no resto da América Latina. De acordo com os últimos dados
disponíveis no Latinobarómetro, apurados em 2020, 24% dos paraguaios, 22% dos
mexicanos, 13% dos argentinos e 12% dos chilenos aceitariam uma ditadura “sob
algumas circunstâncias” (na média latino-americana, eram 13%). Num país com
histórico recente de regime ditatorial, em meio à guerra suja da campanha
eleitoral, os resultados são motivo para comemoração.
Mesmo assim, a leitura da pesquisa exige cautela. Ela não revela o que cada entrevistado entende por democracia. É bem possível que a maioria apoie o regime democrático pensando estritamente no direito de depositar seu voto na urna. Embora primordiais, eleições não encerram a questão, pois infelizmente não impedem que democracias sejam solapadas. Consultas populares de Hugo Chávez na Venezuela ou Viktor Orbán na Hungria sufocaram a oposição. Manipulando a opinião pública , ambos eternizaram seus regimes no poder. As ditaduras com tanques nas ruas saíram de moda. Até o russo Vladimir Putin se dá ao trabalho de realizar eleições periódicas.
Mais que eleições livres, a democracia
exige liberdade de expressão, reunião e associação. Depende da independência do
Judiciário, do reconhecimento dos resultados eleitorais e de uma infraestrutura
institucional que inclui partidos políticos para dar voz a demandas, imprensa
livre para informar e criticar e tribunais para proteger os direitos dos
cidadãos, garantindo respeito às minorias e alternância de poder.
Hoje o ataque ao sistema democrático se dá
por dentro. Populistas candidatos a autocrata chegam ao poder e tentam
enfraquecer as instituições que garantem o funcionamento de uma sociedade
livre. Os alvos são a imprensa, os tribunais, as regras escritas e não
escritas.
No Brasil, o maior expoente dessa corrente
é Jair Bolsonaro. O presidente em busca de reeleição faz campanha há anos, sem
nenhuma prova, contra as urnas eletrônicas. No dia 2, se negou a dizer se
respeitaria o resultado do segundo turno. Nos últimos quatro anos, manteve um
embate constante com as mais altas instâncias do Judiciário. Já falou em
aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para obter
resultados que o favoreçam.
É verdade que seu adversário no segundo
turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não chega a tal ponto. Mas os
governos petistas foram marcados por tentativas de controlar a imprensa, pela
contestação da legitimidade do impeachment e de decisões desfavoráveis do
Judiciário, além da afinidade histórica com governos ditatoriais de esquerda.
O apoio dos brasileiros à democracia deve
se traduzir em repúdio a todo tipo de investida contra o regime democrático,
venha de onde vier.
Sucessor enfrentará mesmo desafio que
derrubou a britânica Liz Truss
O Globo
Primeira-ministra caiu pela própria
incompetência ao propor reforma orçamentária que geraria crise fiscal
Liz Truss não ficou mais que 44 dias como
primeira-ministra do Reino Unido, o menor período de um ocupante do cargo. Caiu
por sua própria incompetência. Com o objetivo de promover uma retomada
econômica, ela seguiu à risca a recomendação de seu ministro das Finanças,
Kwasi Kwarteng, um devoto purista do thatcherismo, e baixou um miniorçamento
com tal volume de cortes nos impostos que a libra esterlina desabou diante do
temor de explosão na dívida pública. Kwarteng foi ejetado, mas não adiantou.
Ela mesmo teve de renunciar na quinta-feira, depois de revogar às pressas sua
política econômica de “impostos baixos e crescimento elevado”.
Seu sucessor, que provavelmente será mais
uma vez indicado pelo Partido Conservador em vez de eleito nas urnas, herdará
problemas que já existiam e têm transformado o número 10 de Downing Street em
endereço de alta rotatividade. Prevê-se para a próxima sexta-feira a indicação
do novo líder dos conservadores, que também será o próximo chefe de governo
britânico.
Seu maior desafio será idêntico ao de
Truss: resgatar o Reino Unido de suas mazelas econômicas. O país padece de um
serviço público inchado, uma economia com baixo crescimento e produtividade em
queda depois do Brexit. No início de 2022, o Banco da Inglaterra previu que
haveria recessão a partir do último trimestre do ano e que ela perduraria até o
final de 2023. Em setembro, estimou que a economia encolheria 0,1% no terceiro
trimestre. Como o PIB retrocedera nos dois trimestres anteriores, já se
configurava uma recessão, que chegou antes do previsto. Para piorar, no mês
passado a inflação foi de 10,1%. É um prenúncio de alta de juros e do quadro
nefasto que mistura paralisia e inflação, a estagflação.
O substituto de Truss terá muito trabalho.
A primeira tarefa será constituir um gabinete estável. Desde julho, houve
quatro ministros das Finanças. A secretária do Interior renunciou 43 dias
depois da posse. Entende-se por que a população perde confiança na classe
política — 50% dos britânicos confiavam nos políticos em 2010; hoje, menos de
40%.
Recuperada a disciplina fiscal com a
revogação do pacote orçamentário, resta fazer com que as engrenagens da
economia, movidas pelo setor privado, voltem a gerar renda e empregos. Em todo
esse redemoinho político, caberá ao novo primeiro-ministro criar um ambiente que
estimule a volta dos investimentos, tarefa dura quando se leva em conta a
conjuntura mundial de crise. Mas não há outra alternativa se o futuro gabinete
quiser ter sustentação na sociedade.
A legislação britânica prevê que um premiê emparedado possa convocar eleições gerais. Boris Johnson acionou o dispositivo há três anos, ampliou a maioria conservadora no Parlamento e só assim conseguiu pôr em prática o Brexit. Hoje seria suicídio: o agregador de pesquisas do site Politico aponta ampla vantagem da oposição trabalhista. Sem respaldo popular,o novo primeiro-ministro corre o risco de, como Truss, não durar muito no endereço mais cobiçado da política britânica.
Censor eleitoral
Folha de S. Paulo
TSE, que amplia seus próprios poderes, age
de modo arbitrário contra publicações
Na reta final de uma campanha de excessos
censórios, o Tribunal Superior Eleitoral aprovou nesta quinta-feira (20) resolução que
amplia os poderes da corte e de seu presidente, ministro
Alexandre de Moraes, no combate a fake news.
Agora, em casos de notícias e postagens já
julgadas irregulares em decisão colegiada, o TSE pode suprimir de imediato
conteúdos idênticos espalhados na internet. Nessas situações, o órgão pode agir
sem ser instado por ação de partidos ou pelo Ministério Público.
A medida seria menos preocupante se já não
houvesse, nestas eleições, uma coleção de imposições do mesmo tribunal que invadiram
o direito fundamental à liberdade de expressão.
Em um exemplo recente, do dia 13 de
outubro, ordenou-se a retirada de
um vídeo da produtora de orientação conservadora Brasil Paralelo que
elencava notícias sobre corrupção em governos do PT.
Mesmo tratando-se de fatos já amplamente
divulgados, para a corte a peça seria interpretada de forma inadequada. Segundo
o ministro Ricardo Lewandowski, "o cidadão comum, o eleitor, não está
preparado para receber esse tipo de desordem informacional".
Deveria ser desnecessário esclarecer que
não é função de magistrados saber de antemão como pensará o eleitor —e
protegê-lo de maneira paternalista.
Verifica-se o mesmo ímpeto arbitrário em
decisão que suprimiu trecho da propaganda de Jair Bolsonaro (PL). Nele, o ex-ministro
Marco Aurélio Mello afirma que o Supremo Tribunal Federal não
inocentou Luiz Inácio Lula da Silva —e, sim, decretou a nulidade de processos
contra o petista.
A fala é antiga, conhecida e mostra a visão
de um especialista sobre o tema. Mesmo assim, foi censurada porque,
argumentou-se, poderia ser mal interpretada. A bolsonarista Jovem Pan teve de
dar direito de resposta a Lula em razão de afirmações de seus comentaristas.
Por óbvio, fake news são um grave problema
a desafiar a Justiça Eleitoral e a própria democracia.
Entretanto a esfera civil do debate público
também possui mecanismos para combatê-lo. Jornais apontam erros e falácias, bem
como expõem versões opostas. Candidatos têm espaço para responder ataques dos
adversários.
Quando filósofos liberais, como John Stuart
Mill, formularam o conceito de liberdade de expressão, consideraram justamente
essa esfera do debate de ideias.
Certamente o contexto atual é outro, com a
agilidade digital e, no país, a inauguração do jogo mais sujo por Bolsonaro.
Mas há que evitar o excesso punitivista.
Não faz sentido atuar pela preservação da
democracia solapando aquilo que a fundamenta.
O vexame de Moro
Folha de S. Paulo
Pior que reconciliação subalterna com Bolsonaro
é dano à imagem da Lava Jato
Depois de ter conquistado a admiração
nacional por seu trabalho na Lava Jato, o ex-juiz Sergio Moro parece empenhado
nos últimos anos em manchar sua credibilidade, o que também prejudica a da
operação de combate à corrupção.
Como se soube depois, já durante os tempos
de magistrado Moro atropelou a lei que deveria fazer cumprir. Desrespeitou o
processo judicial e deixou de lado a imparcialidade exigida na democracia.
Sua conduta enviesada, atestada por
vazamentos de diálogos mantidos com procuradores da Lava Jato, não deixou opção
ao Supremo Tribunal Federal: era rasgar a Constituição ou anular os
processos que corriam contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
que traziam as digitais de Moro.
Por culpa do próprio ex-magistrado,
portanto, impôs-se à Lava Jato sua derrota mais contundente, lesando diversos
esforços para punir a corrupção bilionária descoberta na Petrobras sob a gestão
petista.
De moto próprio, Moro trocou a carreira de
juiz pelo cargo de ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro —alguém
diretamente beneficiado pela condenação de Lula. Aceitou o convite em 2018,
acenando com a perspectiva de uma agenda contra a corrupção.
Esquentou a cadeira por pouco mais de um
ano e rompeu com Bolsonaro, acusando-o
de interferir na Polícia Federal para proteger os filhos. A
essa crítica se seguiram
outras, diferentes na forma e iguais na mensagem: o presidente não
quer combater desmandos.
Fora do governo, passou pelo setor privado
e filiou-se ao Podemos com a pretensão de disputar a Presidência. Ao não se ver
atendido, migrou para o União Brasil, onde precisou se conformar com uma
candidatura ao Legislativo.
Sem conseguir concorrer por São Paulo,
pleiteou —e ganhou— um posto de senador pelo Paraná, onde derrotou Álvaro Dias
(Podemos), até outro dia seu aliado e grande entusiasta da Lava Jato.
Não contente, Moro fez mais um movimento
insidioso ao aparecer no debate presidencial como o proverbial papagaio de
pirata de Bolsonaro. Enganou quem acreditou em suas palavras ao deixar o
governo, imaginando que o ex-juiz se mantinha leal a alguma coisa.
Nada mais falso.
O ex-juiz e senador eleito se reconcilia de forma subalterna com o presidente que outrora acusou. Seria só um vexame pessoal, não implicasse também um dano à imagem da operação que personificou.
TSE cai na arapuca do bolsonarismo
O Estado de S. Paulo
Não cabe ao Judiciário impor qualquer tipo de censura. TSE errou e deve corrigir, o quanto antes, seus equívocos. Mas que ninguém se engane: Bolsonaro não é a vítima desta campanha
Nos últimos dois anos, o presidente Jair
Bolsonaro tentou, de todas as formas, criar confusão com as urnas eletrônicas.
Felizmente, a Justiça Eleitoral conseguiu se desvencilhar das armadilhas
bolsonaristas. As eleições ocorreram de forma pacífica e, por mais que o
presidente da República tenha difamado o sistema eletrônico de votação, ninguém
duvida hoje da lisura do resultado do primeiro turno. Mérito total do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
No entanto, se o TSE mostrou-se
extremamente prudente com as urnas eletrônicas, não se pode dizer o mesmo da
resposta que a Justiça Eleitoral tem dado às práticas abusivas da campanha de
Jair Bolsonaro. Sob pretexto de assegurar condições de igualdade aos candidatos
na campanha eleitoral – dever que, de fato, o Congresso lhe atribuiu por meio
do Código Eleitoral –, o TSE tem proferido decisões que vêm gerando imensa
inquietação em muitos brasileiros. A impressão é a de que, para favorecer um
candidato, o tribunal eleitoral estaria até mesmo censurando veículos de
comunicação.
No Estado Democrático de Direito, não cabe
ao Judiciário impor qualquer tipo de censura. Há liberdade de expressão e de
opinião, e ponto final. Se o respeito a essa garantia constitucional é sempre
importante, ele se torna ainda mais fundamental durante uma campanha eleitoral,
quando os cidadãos devem dispor de todas as condições para expor, conhecer e debater
as diferentes visões sobre os candidatos, os partidos e suas propostas.
Por isso, seja qual for o fundamento legal
a justificar sua atuação, o TSE sempre se equivoca quando suas decisões podem
ser entendidas, por observadores isentos e qualificados, como prévia restrição
da liberdade de expressão e de opinião. Além disso, ao dar margem a essa
compreensão, a Justiça Eleitoral falha em uma de suas principais missões:
assegurar a tranquilidade das eleições. Como os eleitores poderão ficar em paz
se há a suspeita de censura para favorecer determinado candidato?
Na recente atuação do TSE, há ainda uma
outra agravante, extremamente prejudicial para o equilíbrio entre os
candidatos. As decisões do TSE têm sido utilizadas para transformar em vítima a
candidatura de Jair Bolsonaro, justamente quem mais difunde desinformação e
agride todos aqueles que não se curvam às suas vontades. Numa eleição, não há
santos ou ingênuos de nenhum lado, mas uma coisa é certa: Jair Bolsonaro não é
a vítima desta campanha – é, antes, seu algoz.
E não se pode dizer que a Justiça Eleitoral
esteja beneficiando o petista Lula da Silva. Na semana passada, o TSE barrou um
vídeo do PT que, sem ter qualquer inverdade factual – apenas mostrava Jair
Bolsonaro dizendo que “pintou um clima” após ter visto algumas meninas
venezuelanas –, vinha provocando o maior estrago na campanha do candidato do
PL. Antes do debate da Band, Jair Bolsonaro chegou a referir-se às “piores 24
horas da minha vida” por causa do vídeo. Foi o TSE que estancou a sangria.
Mesmo sem ter a intenção de beneficiar um
candidato, o fato é que o TSE errou e deve corrigir, o quanto antes, seus
equívocos, revogando todas as decisões que afetaram a liberdade de expressão de
cidadãos e de meios de comunicação. É preciso, no entanto, reconhecer que o
erro não foi apenas do TSE. Ampla demais, a legislação eleitoral dá margem a
interpretações perigosas. Além disso, após a experiência das duas últimas
eleições – com um inédito nível de desinformação e de ataques –, o TSE foi
muito pressionado a usar todos os meios legais disponíveis para conter os
abusos de autoridade e de poder econômico. Era preciso defender a liberdade
política de todos.
Percebe-se, agora, que a pretensão de
coibir todo abuso – uma tarefa virtualmente impossível – está provocando o
efeito oposto: fornecendo mais matéria-prima para a difusão de novas mentiras.
Ao contrário do que diz a campanha de Bolsonaro, a liberdade de expressão e de
imprensa é cláusula pétrea e, por mais que haja eventuais decisões judiciais
equivocadas, ela não está em risco nestas eleições. Ganhe quem ganhar, a
Constituição de 1988 seguirá vigente.
O risco Lula
O Estado de S. Paulo
Petista recorre à qualidade fiscal de seu governo como caução econômica. Mas nem para Meirelles, que apoia Lula, está claro ‘qual Lula’ vai governar, se o responsável ou o perdulário
No segundo turno das eleições, Luiz Inácio
Lula da Silva recebeu o apoio de importantes economistas, a começar pelos
chamados “pais” do Plano Real. Henrique Meirelles se antecipou e declarou o
voto no petista já no primeiro turno. Mas se o apoio do ex-presidente do Banco
Central (nos governos Lula) e ex-ministro da Fazenda (no governo Temer) é
inequívoco, nem por isso deixa de ser lúcido. “Vimos três governos diferentes
de Lula”, disse à consultoria Eurasia. “O primeiro com responsabilidade fiscal.
O segundo com algum alívio do lado fiscal e mais aberto a demandas políticas. O
terceiro (a gestão Dilma Rousseff), não sendo presidente, mas com o apoio de
Lula, terminou em recessão. A grande questão agora é qual Lula assumirá se de
fato vencer”. É uma excelente pergunta.
Com boas razões e temerosos ante os perigos
de um segundo mandato de Jair Bolsonaro para a democracia, nomes relevantes da
centro-esquerda à centro-direita declararam apoio a Lula. Em contrapartida,
quais os seus compromissos concretos com o centro? Não se sabe.
Sempre que indagado sobre economia, Lula
recorre ao passado e insiste que os resultados de seus dois mandatos falam por
si. Mas as condições fiscais de 2023 serão bem mais apertadas do que as de 2003
e não há nada similar ao boom das commodities que abasteceu seus
programas sociais. E há também o risco, nada desprezível, de que uma eventual
vitória de Lula seja vista pelos petistas como aval para as ideias mais
retrógradas do partido. Lula se apresenta como garantia de racionalidade e
responsabilidade, mas, em se tratando da estatolatria patológica do PT, é pouco.
Lula e o PT são, como se sabe,
irredutíveis. Não só recusaram qualquer gesto de contrição em relação aos
maiores escândalos de corrupção da história, o mensalão e o petrolão, como
insistem em ultrajes que conspurcam suas supostas credenciais democráticas,
como o “controle social da mídia”. Mesmo sob pressão do agronegócio, foram
incapazes de assegurar que não tolerarão invasões de terras. Quanto às
ditaduras de esquerda, nem sequer são ambíguos, e seguem contemporizando suas
atrocidades.
Lula diz que “o PT está cansado de pedir
desculpas”. Porém, após quatro mandatos, sua única autocrítica oficial – a
chamada Resolução sobre a Conjuntura aprovada pelo Diretório do PT em 2016 –
lamenta apenas quatro coisas: 1) ter priorizado “o pacto pluriclassista que permitiu
a vitória de Lula em 2002”; 2) não ter “impedido a sabotagem conservadora nas
estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público”; 3) ter deixado
“de modificar os currículos das academias militares e de promover oficiais com
compromisso democrático e nacionalista”; e 4) não “redimensionar sensivelmente
a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”. Como
concluiu outro economista, o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman,
ao descartar seu apoio a Lula (e a Bolsonaro), “se algum arrependimento houve (por
parte do PT) foi o de não avançar o aparelhamento das instituições de Estado a
favor dos interesses do partido”.
Meirelles sugere “alguns sinais” de que
“pode haver” um encontro com economistas liberais para discutir políticas
econômicas num futuro governo Lula. Mas, segundo o ex-ministro, o que está
prevalecendo neste momento na campanha petista é “uma visão similar à do
terceiro governo do PT, a administração de Dilma Rousseff, especialmente porque
quem desenvolveu esse programa foi um grupo de economistas que acreditam
fortemente no papel do Estado e de empresas estatais como indutores do
desenvolvimento”. Depois da divulgação da transcrição da fala de Meirelles pela
Eurasia, o ex-ministro, talvez ciente dos efeitos de suas palavras na campanha
petista, tentou amenizar os comentários, dizendo que a consultoria havia
“apimentado” suas críticas – mas Meirelles não negou que as tivesse
feito.
Ou seja, noves fora o esforço para
minimizar o que disse, o ex-ministro externou aquilo que qualquer um de bom
senso já sabe: que, em caso de vitória de Lula, o País deve torcer para que o
petista resista aos voluntariosos conselheiros que acreditam que dinheiro
público dá em árvore.
‘Bondade’ que se esfuma
O Estado de S. Paulo
Contido à força por Bolsonaro de olho na eleição, o preço da gasolina volta a subir, como era previsível
A alta do preço da gasolina nas bombas
mostrada em recente reportagem do Estadão seria apenas uma oscilação
natural num mercado livre se não contivesse uma ironia político-eleitoral.
Destinada a evitar a corrosão da popularidade do governo e de seu chefe
candidato à reeleição, a redução artificial dos preços dos combustíveis nos
últimos meses ajudou a conter a inflação. Conseguida pelo presidente Jair
Bolsonaro após pressões sobre a Petrobras e por meio do atropelo do princípio
federativo ao forçar o corte de impostos estaduais, a iniciativa era, porém,
insustentável. Ela começa a desmoronar a poucos dias do segundo turno da
disputa eleitoral na qual Bolsonaro aparece atrás de seu concorrente nas
pesquisas de intenção de voto.
O represamento artificial dos preços dos
derivados de petróleo (diesel e gás de cozinha, além da gasolina) fazia parte
de um conjunto de medidas destinadas a facilitar a reeleição de Bolsonaro.
Todas elas impõem aos consumidores ou aos contribuintes custos que, em algum
momento, serão cobrados. No caso da gasolina, a conta começa a chegar. Das
outras medidas, de grande peso nas contas públicas, o custo ainda não está
claro para os contribuintes ou está sendo adiado para exercícios futuros, mas
inevitavelmente surgirá.
O preço da gasolina vinha caindo por 15
semanas seguidas, o que resultou na deflação dos três últimos meses e
sustentava o discurso do governo de que a inflação que assombra o resto do
mundo deixou de ser problema para os brasileiros. Funcionários federais mais
sensatos, como os que dirigem o Banco Central, no entanto, continuam a apontar
riscos e não estão dispostos a aliviar com presteza as medidas para conter a
aceleração inflacionária. A alta da gasolina constatada em nível nacional pela Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) justifica a cautela.
A contenção a marteladas do preço dos
combustíveis é apenas uma das muitas iniciativas populistas do presidente Jair
Bolsonaro e de seus auxiliares para tentar impulsionar sua pretensão eleitoral.
Aumento para R$ 600 do valor do Auxílio Brasil, ampliação do vale-gás, auxílios
para taxistas e caminhoneiros e cortes de tributação sobre combustíveis (com
forte impacto sobre as finanças dos Estados e municípios) são algumas dessas
medidas de objetivo claramente eleitoral.
Em nenhum momento o candidato à reeleição
se referiu a custos, presentes ou futuros, de tantas bondades eleitorais.
Quanto à atividade econômica, o governo diz que ela está “bombando”, mas
silencia sobre a desaceleração talvez já em curso e que se acentuará em 2023.
Quem sabe fazer contas, como a Instituição Fiscal Independente vinculada ao Senado, estima que os gastos adicionais com o Auxílio Brasil alcancem R$ 51,8 bilhões. Combinados com a redução da atividade econômica e a quebra da arrecadação, esses gastos levarão o resultado das contas públicas do provável superávit primário de 0,5% do PIB em 2022 para um déficit de 1% em 2023. É a conta que Bolsonaro está adiando para o futuro governo.
"Primeira-ministra caiu pela própria incompetência"
ResponderExcluirDeveria ser assim.
E é inegável q o genocida produziu desastre imenso no Brasil. E o autor sabe disso, provado pela chamada "Sucessor enfrentará ...desafio".
Bolsonaro é um desastre total, de fato. Mas ele tb é a prova viva de q incompetência NÃO leva, necessariamente, à queda.
É q a incompetência pode ser disfarçada com muita mentira - por ex, guedes repete e repete q o Brasil tá decolando...KKKKKKKKK...
Mesmo com tombo de 1,1% - guedes é igual ao genocida: mentiroso.