O Globo
A mensagem não é muito simpática, mas
precisamos ouvi-la
O povo se expressou com clareza no 2 de
outubro, quando deu votação significativa a Bolsonaro e aos candidatos
bolsonaristas. A mensagem não é muito simpática, mas precisamos ouvi-la. Os
críticos do bolsonarismo estão hoje tomados por tanta raiva e frustração que não
conseguem compreender que se trata de uma resposta a demandas reais da
população e que a única maneira de desmontá-la é entender a queixa e apresentar
uma resposta alternativa. Em vez disso, o que têm feito é desqualificar o
bolsonarismo e, com ele, os amplos setores da população que o apoiam.
Essas formas de desqualificação em geral concebem o bolsonarismo como fruto de algum ardil ou superpoder oculto que, portanto, seria artificial, não tem enraizamento, organicidade ou legitimidade.
Bolsonaro às vezes é explicado pelas fake
news, como fruto de um grande logro, da difusão de um conjunto de mentiras tão
poderosas que perturbaram o juízo do eleitor. A população foi tão desorientada
e envenenada por Carluxo e sua máquina de propaganda que o voto na extrema
direita é apenas um equívoco, um juízo torto.
Noutra linha de explicação, Bolsonaro é
fruto de uma influente rede de extrema direita articulada por Steve Bannon e
financiada pelos irmãos Koch ou por poderosos e ocultos empresários
brasileiros. A grande penetração do bolsonarismo se torna resultado dessa
montanha de dinheiro que nunca foi identificada pelo inquérito do Supremo
Tribunal Federal (STF),
pelo Ministério Público ou pela imprensa, mas que deve existir. As articulações
políticas internacionais do bolsonarismo — que, no final das contas, não
diferem das redes dos socialistas ou dos ambientalistas —são então a causa
última do sucesso, já que não seria possível um sujeito limitado como Bolsonaro
ter chegado tão longe.
O bolsonarismo também às vezes é explicado
pelas mídias sociais que deram voz demais à legião de imbecis de Umberto Eco, e
veja só aonde chegamos. Por fim, o bolsonarismo e sua pauta conservadora às
vezes são explicados como uma cortina de fumaça encobrindo uma agenda oculta
neoliberal que é sua verdade e sua força. Sob o espantalho de Damares e de
Olavo de Carvalho, se escondem Paulo Guedes e a Escola de Chicago.
Vou parar por aqui, mas a lista poderia seguir.
O que essas interpretações todas têm em comum é não olharem para o conteúdo
manifesto do bolsonarismo e explicarem sua força por algum truque, logro ou
poder oculto. Não tenho dúvidas de que o bolsonarismo tem uma máquina de
propaganda que distribui desinformação, articulação internacional e apoio entre
os empresários. Mas isso de maneira nenhuma explica sua força social e
eleitoral.
Convido então o leitor a suspender o juízo
por um momento e apenas escutar as preocupações do bolsonarismo. Apenas escute
as demandas. Você não precisa concordar com as respostas dadas para elas.
Em primeiro lugar, os bolsonaristas falam
de família. Dizem proteger e valorizar as famílias. O que as outras forças
políticas têm a dizer sobre isso? Família é importante. É o elo de cooperação e
cuidado num mundo que, de resto, é muito hostil e sem coração. O discurso
conservador contra o divórcio e as drogas e em atenção às crianças atende a uma
preocupação genuína, sobretudo da classe trabalhadora. Se o senso comum não
basta, leia o livro de Juliano Spyer (“Povo de Deus”) ou o clássico de
Christopher Lasch (“Refúgio num mundo sem coração”) para entender a importância
da família.
Os bolsonaristas também se insurgem contra
as elites culturais. Exploram o sentimento das pessoas comuns que se sentem
alheias e excluídas das universidades, dos museus e das ONGs. Quem haveria de
negar que as artes e as universidades precisam abandonar sua arrogância, seu
pedantismo e seu elitismo e se reconectar com o povo? Que tipo de reforma essas
instituições propõem para atender a uma demanda para a qual só o bolsonarismo
oferece resposta?
Temos dois caminhos para enfrentar o bolsonarismo. Podemos apenas lamentar sua existência, fruto de um artifício, um embuste produzido por Carluxo, pelo capital ou por Steve Bannon. Ou escutar as demandas e queixas da população e começar a oferecer respostas — outras respostas.
Até onde que enfim um lampejo de sensatez a situação pro Bolsonaro está fazendo o jornalismo de esquerda ter que reformular a sua narrativa pra não ficar totalmente desmoralizado como ficaram os institutos de pesquisa
ResponderExcluirAquela arrogância dos jornalistas de que o Lula ladrão já ganhou, foi substituída pela cautela e análises mais calcadas na realidade
ResponderExcluirNo primeiro turno foi vergonhoso o apoio escancarado pela eleição do ex presidiário
O jornalismo virou cabo eleitoral do bandido O traidor da Pátria
Vergonha
"Podemos... Ou escutar as demandas e queixas da população e começar a oferecer respostas — outras respostas"
ResponderExcluirMais, caro articulista, quais são as demandas e queixas da população?
O gado fala em família. Mas pro gado, família é homem e mulher (sendo q o bozo tem umas 3 ou 4). O q se pode negociar neste caso? E as demais famílias? Sua aceitação / existência deve ser negociada? Eu penso q não há negociação, articulista.
O gado defende o cristianismo e é violentamente contra as religiões africanas e orientais. Devemos negociar, articulista?
Eu penso q não.
O gado pensa q liberdade permite mentir, incluindo, por ex., o direito de defender a pedofilia (como fez um bolsonarista).
Não acho q seja permitido mentir ou estar nesse meio.
Enfim, articulista, qual a pauta SÉRIA da direita q não seja levada a sério pela esquerda?
Que o ortellado é um imbecil usando o mesmo que ele utiliza para falar dos seguidores de umberto eco, não há dúvidas, o problema é quando ele escreve um embuste de texto do qual faltam conteúdo. É tão raso em analisar que os anseios da sociedade se dividem em duas pautas particulares como família e anti-elitista que eu vejo essas duas serem incorporadas pela esquerda também. Talvez elas tenham sido sequestradas pelo bolsonarismo, mas isso é só um pingo das demandas que o bolsonarismo em todas as camadas sociais anseiam. O que o imbecil acima não diz é que quanto maior o estrato social maior a adesão ao bolsonarismo. O que isso indica? A meu ver uma espécie de aporofobia. De responsabilizar os individuos pelo seu fracasso e nao de que o estado nao deu o suficiente suporte. Mas o imbecil escreve algo justicando o bolsonarismo. Como pautas reais de atenção, vai entender o que se passa nele pelego que desde os tempos de CMI erra relegado pelos seus companheiros por ser "amarillo".
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