O Globo
Eleição de domingo marca uma mudança de
era, e está em jogo a vigência plena da democracia
A eleição de domingo será a última sob o
signo da Nova República. Caso Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito para um
inédito terceiro mandato desde que foram restabelecidas as eleições
presidenciais, em 1989, anunciou que fará seu último governo. Isso projeta para
2026 um cenário de disputa com novos nomes. Se Jair Bolsonaro vencer, a
superação do ciclo pós-redemocratização, que sua primeira vitória prenunciava,
se completará quatro anos antes.
Nessa mudança de era, o que está em jogo é
a vigência plena da democracia. A Nova República teve início com a escolha de
Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, etapa final da superação da ditadura.
Foi marcada por momentos de instabilidade econômica e política, inclusive com
dois impeachments, mas não por ameaça real à independência dos Poderes ou às
demais garantias constitucionais.
Foi esse risco, de uma vitória de Bolsonaro solapar a normalidade institucional, que levou forças tão distintas do espectro político, da esquerda à centro-direita, a se unir naquela que é a frente mais ampla desde as Diretas Já, que inaugurou o período histórico que caminha para o epílogo.
E por que a primeira eleição de Bolsonaro
não encerrou a Nova República? Justamente pela sobrevida dada a Lula, principal
líder popular dessa quadra histórica, depois de uma jornada sem precedentes que
inclui três eleições perdidas, duas ganhas, a unção e queda de uma liderança
improvável como Dilma Rousseff, a prisão e a posterior anulação das penas.
Lula sabe do peso histórico da
possibilidade de redenção que pede ao eleitor brasileiro e que enfrenta uma
forte resistência por parte de quase metade da sociedade. Alguns gestos da
campanha, sobretudo neste segundo turno, demonstram essa consciência e
funcionam como sinalização de que ele reconhece que, como disse em seu discurso
de vitória em 2002, na Avenida Paulista, não tem (mais) o direito de errar (de
novo).
O vídeo em que um nonagenário Fernando
Henrique Cardoso, cuja saúde está sabidamente debilitada, aparece de terno e
gravata e conjuga na mesma fala a estabilidade econômica do Real à preocupação
social dos governos lulistas é um epílogo até há poucos anos inimaginável para
a disputa entre PT e PSDB, a mais persistente e representativa da era que agora
caminha para o fim.
A presença de Geraldo Alckmin como vice na
chapa da última batalha de Lula foi o primeiro gesto dessa aproximação entre
antípodas, operada pela percepção de que o bolsonarismo é um movimento reacionário,
de negação da política, que coloca em xeque o Estado Democrático de Direito.
Essa não é uma constatação francamente
majoritária no país, tanto que a chance de vitória de Bolsonaro no domingo é
menor, mas real. Aceitar que a metade de nós chancela o que foram os últimos
quatro anos é crucial para que comecemos a projetar o que será este Brasil da
nova era.
Em caso de vitória de Bolsonaro, haverá
aval para que ele avance na direção da concretização de um projeto que ele
nunca escondeu: “enquadrar” o Judiciário, “escancarar a questão do armamento”,
misturar cada vez mais religião e política e apostar na exploração econômica da
Amazônia, para ficar em alguns pontos.
Em caso de vitória de Lula, será preciso
entender que a governabilidade dependerá de não dar as costas às forças que
caminharam em sua direção já na festa de vitória. A carta que faz a feliz
escolha de usar a palavra “amanhã” no título demonstra que o petista parece
entender o tamanho do desafio. E da responsabilidade de encerrar este ciclo
histórico e pessoal se redimindo de erros que ele pode não admitir, mas sabe
que cometeu.
A violência bolsonarista preocupa até o papa Francisco, que rezou “a Nossa Senhora Aparecida para proteger e curar o povo brasileiro, para libertá-lo do ódio, da intolerância e da violência”. Ou seja, para nos salvar da reeleição do GENOCIDA!
ResponderExcluirO Brasil clama por paz.
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