Folha de S. Paulo
Economista faz conversa imaginária com
petista; outros sugerem diálogo prático
Arminio Fraga publicou
artigo muito importante nesta Folha,
na semana passada: "Entrevista com Lula por telepatia". Na forma, era
isso mesmo, uma conversa imaginária do economista com Lula da Silva (PT) a
respeito de temas essenciais de política econômica e social. O texto ressaltava
convergências possíveis e divergências.
Era uma proposta de diálogo, em sentido
amplo. Políticos prestantes e espertos, do PT e de outros partidos, poderiam
pensar em um diálogo em sentido estrito. Não se trata aqui de sugestão de
convidar Arminio Fraga para ser ministro em caso de vitória de Lula, nada
disso, que nem é assunto de jornalista. Mas de algo mais profundo.
Antes de mais nada e a fim de evitar mal-entendidos: este jornalista infelizmente é incapaz de ler mentes, não pode colocar palavras na boca de ninguém e não tem informação alguma de conversa de Fraga com Lula.
Fraga não é representante de movimento, não
tem mandato e menos ainda exércitos (políticos). Mas é uma voz representativa,
muito respeitada, de economistas de centro, "ortodoxos",
"mainstream", "liberais" ou o apelido que se dê. Tem
carreira longa e de alto nível na finança e no serviço público —foi presidente
do Banco Central sob FHC 2.
Além disso, fundou ou faz parte da direção
de centros de estudos, "think tanks", na área de saúde e outras
políticas sociais. Tenta reunir estudiosos de alto nível a fim de pensar
projetos de governo. Parece um pouco uma tentativa de reagrupar quadros que têm
todo jeito, algo renovado, da velha elite tucana ou companheira de viagem, do
final dos anos 1980 ao início dos 2000.
Muitas dessas pessoas, da velha guarda ou
da nova, se juntaram a Simone Tebet
(MDB). Mas, além desta ocasião eleitoral, estão órfãs de partido político
que as abrigue ou as ouça de modo sistemático. O PSDB é uma ruína nanica. Não
se vê e tão cedo não vai se ver movimento a fim de reunir parlamentares
decentes em um partido centrista —eles existem, mas esse rebanho miúdo está
disperso.
Muitos desses quadros também declararam
voto em Lula no segundo turno. Não raro, o fizeram a contragosto, por
discordarem dos governos do PT ou também por terem sido avacalhados por
petistas, pessoal e politicamente.
Na sua conversa imaginária, Fraga propôs um
diálogo, mas sem sugestão de acordo prático. No entanto, está ali falando com
Lula, neste momento muito grave. Em caso de vitória petista, pode apenas se
tratar de um convite para um debate público mais amistoso e de boa vontade.
Porém, esta conversa está na cabeça de muitos desses quadros ora tebetistas ou
similares, no entanto menos otimistas do que Fraga (quando não quase descrentes).
Ainda assim, algo se move: de Lula fazer de
Geraldo Alckmin seu vice aos acenos de quadros sérios e capazes do
"centro", além daqueles de seus amigos na elite civilizada, como a
que assinou as cartas de agosto pela democracia. Neste ano, vários desses
"técnicos" militantes escreveram artigos em que mandavam sinais aos
petistas, muitos bem críticos dos governos petistas, mas com óbvia proposta de
conversa.
Não se candidatavam a cargos. Por convicção
ou outros motivos, rejeição petista inclusive, alguns não fariam parte de
qualquer governo do PT. Outros não querem fazer parte de governo algum. Mas
sugerem um diálogo mais estrito.
Fernando Haddad, candidato a governador de
São Paulo, e Alexandre Padilha, ministro de Lula e de Dilma Rousseff (citado
por Fraga em sua entrevista imaginária), têm tentado fazer pontes. É pouco.
Lula, de modo explícito ou não, proibiu qualquer conversa substantiva.
Nada disso é lá novidade. Em caso de
vitória de Lula, seria um assunto urgente.
Explicitando o que o colunista não disse: existe mais inteligência fora do PT do que dentro dele... Se Lula entender ou acreditar nisto, poderá fazer um governo melhor do que os seus 2 anteriores!
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