Folha de S. Paulo
Até os eleitores antipetistas estão se
virando contra o capitão
Nas 45 horas de silêncio à nação depois da derrota nas
eleições, Bolsonaro conversou reservadamente com militares, pedindo informações
sobre o processo de auditoria nas urnas eletrônicas conduzido pelo Ministério
da Defesa. Buscava solidariedade para contestar o resultado, mas não conseguiu.
Optou então pelo discurso covarde. Não reconheceu a vitória de Lula. Ao contrário, incentivou o por ele já esperado surto golpista que havia tomado as ruas. Decidiu passar os últimos dias na Presidência como o chefe da arruaça, valendo-se de extremistas de direita, membros de grupos armamentistas, tolos, lunáticos — e sobretudo de quem os financia. Uma minoria de inconformados "patriotas" e fascistas que, não se iludam, veio para ficar e perturbar o cenário político do país.
Primeiro foram os bloqueios de estradas nas
barbas da PRF, atrasando viagens e o envio aos hospitais de remédios, oxigênio
e órgãos para transplante (lembram, na pandemia, quando os bolsonaristas
exigiam o direito de ir e vir?). Depois os atos antidemocráticos em frente aos quartéis, com cartazes de
"intervenção federal", seja lá o que eles entendam por isso. Em
seguida, o assédio e a ameaça aos trabalhadores, com a hashtag
#DemitaUmPetista. Por último, a convocação de uma "greve geral contra o
comunismo", façanha capaz de ressuscitar Marx e Engels.
Ao apostar na baderna, Bolsonaro quer
mostrar alguma força de reação para negociar seu futuro, quando terá de
enfrentar o STF, o TSE e a Justiça de primeira instância. Mas o tiro, mais uma
vez, está lhe saindo pela culatra. É tudo tão ridículo e doentio, tão desconectado
da realidade, que até os eleitores antipetistas estão se virando contra o
capitão.
Nos registros da história, este ficará
conhecido como o golpe que foi desmoralizado por um meme: a imagem real do homem de boné e camiseta verde e
amarela agarrado à cabine de um caminhão em movimento.
A "democracia" bolsonarista está atingindo seu ápice: liberdade e incentivo para caminhoneiros bloquearem estradas, armamento deliberado e descontrolado da população (em especial dos milicianos bolsonaristas), liberdade para CRIAR E PROPAGAR mentiras, liberdade pra comprar dezenas de imóveis em dinheiro vivo, liberdade pra empregar funcionários fantasmas nos gabinetes políticos, liberdade para invadir terras indígenas e unidades de conservação! O "democrata" Bolsonaro ainda gostaria de ter liberdade para TORTURAR e MATAR, mas aí os pastores bolsonaristas provavelmente oporiam alguma resistência!
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