Folha de S. Paulo
Com movimentos sutis, Zema e Ratinho tentam
demarcar diferenças e não descartam candidatura
Jair
Bolsonaro saiu das urnas derrotado, mas se consolidou como o
líder mais popular da direita brasileira atualmente. Apesar dos movimentos
precoces para mantê-lo como nome forte na próxima eleição, nem todos tratam o
presidente como candidato único e natural desse campo político em 2026.
Dois atores da órbita bolsonarista fizeram
movimentos sutis nesse sentido. Em entrevistas nos últimos dias, os
governadores Romeu Zema
(MG) e Ratinho
Júnior (PR) tentaram demarcar divergências leves em relação ao
presidente e sugeriram que a porta deve estar aberta para outros nomes de
direita em quatro anos.
Embora tenham entrado de cabeça na campanha de Bolsonaro neste ano, os dois fizeram questão de dizer agora que têm críticas ao presidente, principalmente na condução do país diante da Covid. "Durante a pandemia, a comunicação do governo federal deixou muito a desejar", declarou Zema à rádio Super.
Os dois governadores limitaram suas
ressalvas a questões de comunicação e comportamento. O objetivo é dizer ao
eleitor desse campo que é possível defender uma plataforma idêntica à de
Bolsonaro, sem a barulheira fabricada pelo presidente.
Ratinho Júnior foi explícito no esforço
para traçar essa linha no chão. Ele disse ao jornal O Globo que Bolsonaro
acaba ficando na
"extrema direita" e que outros atores podem ser
considerados. "Talvez possa surgir num cenário aí no futuro uma
centro-direita, um personagem que ocupe esse espaço com mais cautela."
Nenhum dos dois admitiu ou descartou a
hipótese de representar o campo na disputa presidencial de 2026. Zema disse que
a questão "pertence ao futuro", e Ratinho afirmou que "é muito
cedo" para definir o papel de Bolsonaro nos próximos anos.
As declarações podem soar vacilantes, mas
têm um significado maior num ambiente como o bolsonarismo, marcado pela
exigência de fidelidade e pela punição a
quem é considerado traidor. Se Bolsonaro permanecer forte, os dois
certamente continuarão ao lado do capitão.
Verdade.
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