Folha de S. Paulo
Novo governo tem pressa, mas articulação
para votar PEC anda a passos lentos
Na primeira passagem por Brasília, no
início do mês, a equipe de transição avisou que tinha pressa. Geraldo
Alckmin afirmou que era preciso aprovar até 15 de dezembro uma
proposta para contornar o teto de gastos e garantir o pagamento do Bolsa Família em
2023. Aloizio Mercadante foi mais ambicioso: disse que o limite era o fim de
novembro.
Desde então, o time de Lula perdeu duas semanas. Enquanto o calendário corria, as articulações para votar a PEC da Transição andavam a passos lentos. Anunciada no dia 3, a proposta só teve uma minuta apresentada no dia 16, e a primeira reunião com partidos aliados para discutir o texto foi marcada para o dia 23.
Ninguém espera que mudanças na Constituição
sejam aprovadas a jato, mas o governo de transição poderia ter usado o timing
pós-eleitoral a seu favor, sem alimentar incertezas em relação ao formato da
proposta.
Mesmo políticos que não são muito
simpáticos a Lula chegaram a demonstrar
alguma boa vontade com a ideia de abrir exceções no Orçamento
para pagar o Bolsa Família. As turbulências no mercado financeiro e as
indefinições em relação ao valor liberado e ao prazo de validade da medida
fizeram com que o petista gastasse parte desse bônus.
A equipe de transição propõe que R$ 198
bilhões sejam retirados para sempre do teto de gastos. A partir desse pedido
generoso, o plano é negociar para que o prazo valha por apenas quatro anos.
Os partidos do centrão (incluindo legendas
dispostas a integrar a base de Lula) só admitem aprovar a liberação por um ano,
provavelmente com um valor menor. Sem muito tempo para negociar, o novo governo
pode ser forçado a ceder, pagando um preço político relativamente alto para
obter um ganho menor.
Apesar da urgência para aprovar a PEC,
dirigentes partidários dizem que falta uma negociação organizada com a equipe
de Lula para costurar o texto e conquistar votos. O petista pode ter que
escolher um ministro para a articulação política antes de
definir o ministro da Fazenda.
Espero que só receba o Bolsa Família quem precisa messssmo!
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