O Globo
Há um sinal claro de que a política
econômica vai para o lado de deixar ‘nervosinhos’ os mercados
O mercado não fica “nervosinho”.
Estressado? Sim, mas o pessoal se vira. As declarações de Lula e
Mantega derrubam a Bolsa e jogam o dólar para cima? Ok, o negócio é comprar
juros. Em apenas uma semana, os juros cobrados nos títulos do governo
brasileiro com vencimento em janeiro de 2024 subiram de 11% para mais de 13% ao
ano. Rendimento bom, não é mesmo?
Significado 1: os investidores cobram mais
caro para financiar a dívida pública brasileira, na expectativa de que o
governo Lula vá começar gastando sem qualquer regra de controle das contas
públicas.
Significado 2: aumenta a despesa do governo
com o pagamento de juros, reduzindo o espaço para outros gastos, sociais
especialmente.
Significado 3: juros aqui permanecerão altos por mais tempo, com a inflação demorando para cair. Isso prejudica a população. Investidores financeiros se viram.
O pessoal do mercado e da economia real —
investidores e consumidores — age com lógica: um governo que gasta mais, muito
mais do que arrecada — não importando onde gasta —, acumula dívida que tem de
ser financiada de algum modo. Com impostos (aumentar agora?), com corte de
despesas (não passa pela cabeça de Lula e seu verdadeiro time econômico) ou com
dívida nova para rolar dívida antiga (tipo cheque especial ou rotativo do
cartão de crédito). Parece ser esta a opção.
Lula e Mantega — este parece ter assumido o
papel de principal porta-voz do novo governo — repetem que governarão com
responsabilidade. Em seguida, passam a esculhambar o teto de gastos e essa “tal
de estabilidade fiscal”. Lembram, corretamente, que o primeiro governo Lula fez
superávits expressivos — para logo em seguida dizer que o Lula 3 não pode ficar
de mãos atadas, ou seja, não pode haver controle de gastos.
É coisa de louco, sem noção.
Ou pensam que estão enganando quem? Pedem
que se lembre do Lula responsável de 2003, o Lula 1, para em seguida dar todos
os sinais de que estão preparando um Dilma 2.
Acham que o pessoal já se esqueceu da
proeza às avessas da nova matriz de Dilma, que conseguiu gerar recessão severa
e inflação altíssima ao mesmo tempo? Ali está a origem do atraso e do
empobrecimento por que passou a população brasileira. (E da ascensão da
direita.) É de espantar que usem a necessidade de combater a pobreza para
justificar a volta da política que gerou desemprego e perda de renda.
De novo, Lula está perdendo uma grande
oportunidade de ampliar seu leque de atuação. Formou-se um consenso de que,
dado o desastre deixado por Bolsonaro, é razoável uma licença para gastar em
2023. Partir disso para tentar aprovar no Congresso uma licença permanente para
fazer déficits e dívidas — isso é simplesmente jogar fora a oportunidade de ir
além do estreito PT.
A carta de Mantega à secretária do Tesouro
dos EUA, Janet Yellen, contestando a candidatura do brasileiro Ilan Goldfajn à
presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, revela muitas coisas. Primeiro,
Mantega diz falar em nome de Lula e obviamente não faria isso sem o aval do
presidente eleito. Logo, Mantega é o nome forte.
Segundo, Mantega quer indicar um
desenvolvimentista, um economista da nova matriz. Goldfajn, ex-presidente do
Banco Central, é de uma capacidade extraordinária, poderia ser presidente de
qualquer BC do mundo. Porém é moderado, mais clássico. Logo, se ele não serve
ao novo governo brasileiro, é sinal claro de que a política econômica vai para
o lado de deixar “nervosinhos” os mercados. E a população com menos emprego e
renda.
Não sei por quê, mas me lembrei da frase
genial de Carlos Lacerda, criticando a política econômica do governo Castello
Branco:
—Essa política mata igualmente os pobres e
os ricos: os pobres, de fome; os ricos, de raiva.
Curioso. Lacerda, um direitista, criticava
uma política conservadora que deu uma bela arrumada nas contas públicas. Hoje,
petistas citam a política ortodoxa do Lula 1, que permitiu estabilidade e a
criação de programas sociais, para depois propor o contrário.
Quando o ministério da economia tiver seu ministro indicado por Lula vamos todos saber como será esse governo. Tenho a impressão que ele não indicou ainda porque sabe que as reações que virão não serão positivas.
ResponderExcluirAo que tudo indica, enquanto sai Bozo e seus ressentimentos, entra Lula a fim de mostrar vingança. Só pode!!!
ResponderExcluirOu Lula pauta o Mercado, ou o Mercado pauta Lula.
ExcluirAcostumado a pautar Bolsonaro, o 'Erisipelo do Planalto', o Mercado quis porque quis que Lula indicasse seu 'Ministro da Economia', achando que poderia influenciar a escolha de um novo pauloguedes qualquer.
Só vai conseguir mesmo é alterar o valor do dólar, enriquecendo mais ainda nossos exportadores.
Lula não é menino-de-recados do mercado, como Bolsonaro e pauloguedes foram.
Pra começar, não é o mercado quem foi eleito.
Lula vai ter o Ministério da Fazenda, o Ministério do Planejamento, o Bolsa Família de R$ 175 bi, o Orçamento Social de R$ 100 bi, e maioria aliada no Senado e na Câmara:
Aposto 3 picolés de chuchu contra cada 'quadro de tv' que publicar, Sarda!
Chupa que é de uva, Mercado!
Lula tem que montar sua equipe e começar a mostrar o que vai fazer realmente. Fora disso, é discurso de palanque e demagogia que já o elegeram, mas não o ajudam a governar! E custam caro pro nosso país...
ResponderExcluirO mercado ficou nervoso e estressado.
ResponderExcluirTá.
Quando vi o título, imaginei que o colunista fosse escrever sobre os milicianos bolsonaristas implorando pelo golpe na frente dos quartéis!
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