O Globo
É preciso tratar de PEC da Transição, do
risco de normalização do estado de emergência fiscal; como se pudéssemos viver
num waiver permanente. Não podemos. Ou: não deveríamos. Não se pode descartar,
porém, que governos gostem da ideia. A prática está aí. Temos nos bancado
assim. Forjando orçamentos de mentira e depois lhes pendurando gastos de
verdade.
Assim será para 2023. Está dado. E sejamos justos. Já estava — como se diz? — precificado que, qualquer que fosse o vencedor, na porteira arrombada por Bolsonaro passariam gastos extras para a manutenção do auxílio a R$ 600. E Lula prometera cuidar do salário mínimo imediatamente. Será ingenuidade esperar que o presidente eleito cometa estelionato eleitoral com o país cindido conforme está.
Para 2023, pois, só se pode cobrar, com
sorte, que o final de 2022 traga algum teto para como se violará o teto.
Pode-se também exigir, ainda que para fazer papel ridículo, que 23 venha com
nova âncora fiscal para o lugar de um teto que, destruído por Bolsonaro, já não
existe mais — sendo inadequado o emprego anterior do verbo violar. Ou será
violado o que inexiste?
O mundo real nos autoriza a torcer. Em 22:
para que se limite o valor fabricado à margem do Orçamento; para que se desista
de alargar agora a faixa de isenção de IR, o que resultaria em perda de
arrecadação. Em 23: para que se apresente um novo marco fiscal ao vácuo do
finado teto.
Estamos falando do futuro. A rigor, de 24.
De 23 para 24. O governo terá de buscar algum realismo orçamentário e mostrar
como controlará gastos. Políticas públicas devem derivar de escolhas e caber na
conta. Algo ficará de fora. Atentemos a isso.
Antes será urgente olhar, hoje, para o que
se normaliza de modo a renovar a licença para gastar no ano que vem. O que terá
tornado viável, fluente, de PEC Kamikaze à da Transição, um súbito compromisso
do Congresso com novo jorro de bilhões? O que terá feito a solução PEC um
repentino desejo parlamentar?
O orçamento secreto, que comprou, na forma
do pacotão de bondades, o financiamento à competitividade de Bolsonaro no
esforço pela reeleição e que ora vende facilidades — em troca de permanecer — à
aprovação de quantos bilhões extras o novo governo quiser.
A PEC da Transição é a da manutenção do
orçamento secreto e da reeleição de Lira. A aprovação da PEC, atrelada a Lira,
atrela o governo Lula a Lira e seus sócios. Renan Calheiros, inimigo do lirismo
nas Alagoas, já estrilou. Talvez não haja alternativa.
Aprovar a PEC da Transição é liberar os
bilhões tanto quanto aprovar a transição para que o orçamento secreto — que o
presidente eleito prometera derrubar — se converta em instrumento de
navegabilidade para o governo Lula. Aprovar a PEC da Transição também sendo aprovar,
sob o compromisso de não mexer com o orçamento secreto, a reeleição de Lira;
como se a sociedade que o consórcio parlamentar firmara com Bolsonaro migrasse,
compulsoriamente, para Lula.
Talvez não haja — não na política
—alternativa.
O orçamento secreto — que saiu gigantesco
das urnas, ao mesmo tempo reeleito e grande eleitor — vai ficando, de repente,
admissível, porque o novo governo precisa governar. E o orçamento secreto dá
votos. Para a agenda do governo e para as agendas de Lira e Pacheco. Coincidência
de interesses. Estabelece-se a sociedade; estabelecido o bicho pelos costumes
parlamentares nos gozos de já três orçamentos.
Não há — não na política — alternativa.
Ouve-se que os senhores do Congresso
estariam dispostos a mexer nas emendas do relator. O truque é óbvio. Projetada
a sombra de que o Supremo possa agir, correm os imperadores orçamentários para
oferecer, afinal, a transparência. É o de menos. O mais grave, no exercício do
orçamento secreto, sendo o desequilíbrio que sua natureza determina.
Estariam, liras e pachecos, dispostos a
relaxar a mão autoritária — que lhes dá o poder concentrado — com que decidem
os destinos dos bilhões? Duvido. O problema — repito — não é somente a falta de
transparência. É sobretudo a desigualdade que anaboliza um Ciro Nogueira.
Bilhões despejados — com maior ou menor publicidade — para aliados, em
detrimento de adversários.
Só há solução via STF.
O Supremo tem de ser fiel à Constituição —
radical, portanto — ao declarar a inconstitucionalidade do orçamento secreto.
Já. Sem modulações. Sem a farsa de cuidar apenas para que os patronos das
emendas sejam conhecidos. Isso não bastará.
Em vez de se esconder atrás da fachada de
Alexandre de Moraes, a quem concedeu poderes excepcionais inconciliáveis com a
Carta (e esse gênio não voltará mais à lâmpada), o STF deveria concentrar
energia em derrubar, colegiadamente, a fachada — a emenda do relator — que
formalizou um complexo esquema também de corrupção que, pervertendo o orçamento
público, sequestrou a República.
Não se pode transigir com o orçamento
secreto. Governos transigirão. A Suprema Corte não pode. Ou não será.
Por acaso está colocando nessa semvergoince o Imposto sobre o Pix que o Centrão aprovou com velocidade de relâmpago para custear os tratores e caminhões doados as. suas famílias e políticos amigos? O Lula não vai precisar sujar as mãos, o Paulo Guedes vai deixar tudo muito bem mastigado para ele. Esse Brasil é uma vergonha não tem conserto mais não.
ResponderExcluirRefiro ao IOF, 2% sobre cada operação , o sonho do limitado Guedes , o CPFM.
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