segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Celso Rocha de Barros - O golpolão do PL

Folha de S. Paulo

É preciso que o mundo político puna Valdemar e seu partido pela adesão ao golpismo

Quando o Partido Liberal de Valdemar Costa Neto resolveu apoiar o golpe de Estado de Jair Bolsonaro, todos os que acompanham política brasileira concluíram a mesma coisa: é por dinheiro. Ao mesmo tempo, todos se perguntaram: de onde está saindo o dinheiro para o Golpolão do PL?

A resposta é simples: em 2022, os fascistas de Bolsonaro concorreram pelo PL. Graças a isso, o partido, que sempre foi meio ladrão, mas até outro dia não era fascista, defensor de assassinato em massa por falta de vacina ou da legitimidade de que se "pinte um clima" entre adultos e meninas de 14 anos, tornou-se a maior legenda da Câmara.

Segundo a jornalista Maria Cristina Fernandes, se Valdemar não abraçasse o golpe, a ala bolsonarista do PL deixaria a legenda antes da posse do novo Congresso. O tamanho da bancada determina quanto cada partido vai receber dos fundos partidário e eleitoral. Por isso, Valdemar precisa segurar os fascistas no PL até que eles sejam contados a favor dele na divisão dessa grana.

Por isso, o maior partido do Parlamento brasileiro está tentando anular os votos das urnas em que os pobres votaram, de modo a garantir que um fascista que causou a morte de centenas de milhares de brasileiros durante a pandemia possa dar um golpe de Estado.

Por grana.

Valdemar topa colocar em risco o voto de mais da metade dos brasileiros que votou em Lula, incluídos aí dois terços dos brasileiros mais pobres, Valdemar topa colocar em risco décadas de construção da democracia, Valdemar topa numa boa garantir foro privilegiado aos assassinos da pandemia, desde que role um trocado.

Não deixa de ser um consolo saber que Valdemar não apoia o fascismo sinceramente. Isso, aliás, é consistente com sua trajetória: ele sempre apoiou todo mundo, mas nunca sinceramente.

Por outro lado, a adesão, mesmo que temporária, do PL ao golpismo prorroga a precariedade da democracia brasileira dos últimos anos. Em troca de dinheiro, o centrão sempre foi com Bolsonaro até a véspera do golpe, mas sempre o abandonou na hora da decisão. O que vemos agora é que os golpistas ainda conseguem mobilizar dinheiro suficiente para prorrogar essa agonia.

E o golpolão ainda pode ter consequências piores. Por orientação de Bolsonaro, o PL tentará atrapalhar a aprovação da PEC que garantirá o pagamento do Bolsa Família. Isto é, Jair Bolsonaro deu a ordem de não deixar que Lula possa pagar o Bolsa Família aos pobres brasileiros, e Valdemar deve cumpri-la. Se isso der certo, em fevereiro de 2023, os pobres brasileiros não ganharão Bolsa Família, mas Valdemar ganhará uma fortuna do fundo partidário.

Finalmente, o golpolão é uma aula sobre o que seria um golpe de Jair Bolsonaro: seria um golpe de ladrões, porque o bolsonarismo é um movimento político de ladrões. Os políticos bolsonaristas têm defeitos tão horrendos, tão piores que os dos outros políticos brasileiros, que o fato de que também são ladrões às vezes passa despercebido. A ladroagem não é nem o quarto ou o quinto entre seus piores defeitos. Mas são ladrões.

É preciso que o mundo político brasileiro puna Valdemar e o PL pela adesão ao golpismo. O golpolão não é a corrupção brasileira que sempre parasitou nossa democracia, é uma mutação do parasita que ameaça matá-la.

 

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