Fernando Carvalho* - Alexandre o Grande pela democracia

O ministro Alexandre de Moraes tem se revelado como a principal pedra no coturno do capitão Bolsonaro. Uma das razões foi o fato de Alexandre de Moraes no dia 29 de abril de 2020 ter suspendido a nomeação de Alexandre Ramagem, amiguinho dos filhos do presidente, para a diretoria geral da Polícia Federal. Alexandre de Moraes nunca foi esquecido por causa disso, tanto que um ano e quatro meses depois, Bolsonaro entrou com um pedido de impeachment de Alexandre de Moraes. O presidente fez isso em caráter pessoal, não comprometeu nem sequer a Advocacia-Geral da União. O resultado foi um fracasso. O presidente do Senado Rodrigo Pacheco submeteu a denúncia à Advocacia do Senado segundo a qual o documento carecia de tipicidade e de justa causa. Pacheco justificou sua decisão em nome da preservação da independência entre os poderes e arquivou o pedido.  A pretensão de Bolsonaro foi repudiada pelo STJ Superior Tribunal de Justiça, por ex-ministros de Estado, por associações de magistrados, de procuradores da República e de advogados. por partidos políticos e membros do Congresso nacional. E praticamente um consenso da sociedade civil. 

E não para por aí porque Bolsonaro significa um projeto de poder militarista e fascistóide. Alexandre de Moraes tem feito o que pode mandando prender aliados de Bolsonaro, como Roberto Jefferson e Otoni de Paula, nunca esquecendo de busca e apreensão. Nesse sentido, bloqueou a conta bancária de 43 empresários que financiavam o movimento golpista. Antes já havia dado uma dura em oito empresários, começando pelo dono da Havan, o Zé Carioca do finado Olavo de Carvalho.  Moraes encaminhou à Procuradoria-Geral da República o pedido de afastamento e investigação da conduta do Ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira em relação ao processo eleitoral por ter colocado em dúvida a lisura e a integridade das eleições.

Alexandre de Moraes tem fechado o cerco contra os protestos anti-democráticos que sonham com uma intervenção militar.  Botou a Polícia Rodoviária Federal PRF, a mais bolsonarista das polícias, para trabalhar, exigindo a identificação de todos os caminhões que participaram dos bloqueios nas rodovias. Alexandre teve que ameaçar Silvinei Vasques, Diretor-Geral da PRF de prisão em flagrante. O homem trabalhou para a campanha de Bolsonaro impedindo a mobilização dos eleitores nordestinos no dia das eleições. E a luta de Alexandre de Moraes tem se estendido ao universo virtual e mandou suspender contas em redes sociais, mandou vetar conteúdos de fake news até em veículos da mídia. E anulou o passaporte do tal Allan dos Santos que se encontra foragido nos Estados Unidos. O Tribunal Superior Eleitoral vem retirando do ar grupos em aplicativos de comunicação que elaboravam estratégias de mobilização dos bandos bolsonaristas. Em virtude disso uma "greve geral" convocada por eles fracassou redondamente. 

Por meio do inquérito número 4874 que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas, território do Gabinete do Ódio do Carlucho.Tal inquérito foi instaurado a partir de indícios e provas da existência de uma organização criminosa, de forte atuação digital, que se articularia em núcleos político, de produção, de publicação e de financiamento, com a finalidade de atentar contra a democracia e o Estado de Direito no país. Resumindo para finalizar até porque esse assunto dá um livro. Alexandre de Moraes talvez seja nossa "última trincheira" diante de pretensões golpistas de Bolsonaro. E "defesa dos portões da democracia contra a tentativa de invasão dos bárbaros".

*Fernando Carvalho é historiador, formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), autor de “Livro Negro do Açúcar