Folha de S. Paulo
Nossa experiência com a recondução não é
das mais alentadoras
Na linha "coisas que precisamos fazer
para fortalecer as instituições após Bolsonaro", um tema que não pode
deixar de ser discutido é a reeleição. Confesso que, aqui, tenho mais dúvidas
do que certezas.
Idealmente, penso que as limitações a quem pode ou não disputar um cargo devem ser as menores possíveis — isso inclui a Lei da Ficha Limpa. Bons administradores são difíceis de encontrar, de modo que não deveríamos despachá-los depois de apenas um mandato. Desde que existam outras ferramentas para assegurar e promover a alternância no poder, não creio que haja danos democráticos em permitir uma reeleição para postos do Executivo.
No mundo real, porém, nossa experiência com
a recondução não é das mais alentadoras. Dos oito indivíduos que passaram pela
Presidência desde a redemocratização, cinco tiveram direito de disputar a
reeleição, quatro o fizeram e, em três dessas ocasiões, colocaram seus
interesses particulares acima dos do país, deixando um rastro de destruição
econômica. FHC segurou o câmbio para reeleger-se em 1998. Dilma pedalou e enganou (mais do que a média) em 2014.
A conta deixada por Bolsonaro ainda está por ser dimensionada, mas não
será pequena.
A pergunta que fica é se, sem a reeleição,
mandatários se moderariam. Bolsonaro teria agido diferente se, em vez de
concorrer, tivesse lançado um filho? Não sei. E como a reeleição funciona nos
planos estadual e municipal? Também não me sinto capaz de tirar uma conclusão
geral. Lembro apenas uma frase atribuída ao governador paulista Orestes Quércia
nos anos 1990: "Quebrei o Banespa, mas elegi meu sucessor".
Pelo sim, pelo não, acho que deveríamos
tentar um período maior sem a reeleição (para a vida, não só para mandatos
sucessivos). Mesmo que não resolva o problema de blindar as contas públicas
contra tentativas de eternizar um grupo político no poder, serviria para
estimular o surgimento de novas lideranças.
Também sou favorável a um período maior, acho cinco anos um tamanho bom, sem reeleição. Com reeleição o sujeito já faz o seu primeiro mandato tendo em vista o segundo. Tudo o que ele faz é condicionado pela possibilidade da continuidade. Ou seja não governa bem.
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