Correio Braziliense
A equipe de transição conta com 31 grupos
temáticos, cada um empenhado em ter o seu próprio ministério, e mais de 300
pessoas indicadas para esses grupos de trabalho
Uma das páginas mais interessantes da
história do futebol brasileiro foi o surgimento da Democracia Corinthiana na
década de 1980, um movimento que marcou a história do Timão paulista e
representou, àquela época, o engajamento de um clube de futebol na luta pela
redemocratização do país, com a participação dos craques do time,
principalmente Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon, na campanha das Diretas,
Já.
Internamente, o futebol do Corinthians passou a ser administrado de forma revolucionária, num modelo de autogestão no qual todas as decisões importantes do dia a dia, inclusive contratações e escalações, eram tomadas por toda a equipe, na base do "cada cabeça um voto", do roupeiro do time ao técnico Mário Travaglini. O sociólogo Adilson Monteiro Alves, diretor de futebol do clube na época, foi o pai dessa criança. O filho dele, Duílio Monteiro Alves, ocupa o mesmo cargo atualmente e pode ser candidato à Presidência do clube.
Em sintonia com a conjuntura política, com
um time muito competitivo, a Democracia Corinthiana conquistou as simpatias dos
torcedores em todo o país e empolgou a "Fiel", sua grande torcida,
principalmente por ter conquistado o Paulistão, em 1982 e 1983. Entretanto, quando
Sócrates se transferiu para o Fiorentina, na Itália, começou a se esvaziar. O
craque cumprira a promessa de que deixaria o país se a Emenda Dante de
Oliveira, que restabeleceria as eleições diretas para presidente da República,
não fosse aprovada.
O nome "Democracia Corinthiana"
foi cunhado pelo publicitário Washington Olivetto, que também criou uma marca
inspirada na tipologia da Coca-Cola. Ela foi estampada na camisa alvinegra em
algumas partidas, assim como as frases "Diretas, Já" e "Eu quero
votar para presidente". Com a perda de seu principal líder dentro e fora
do campo, os fracassos em campo e a derrota de Adilson Monteiro nas eleições
para a Presidência do clube em 1985, a Democracia Corinthiana deixou de
existir.
A equipe de transição do presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva, coordenada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin,
parece a Democracia Corinthiana. A impressão é de que ainda não existe um
estado-maior do futuro governo Lula, que deveria ser o núcleo central da
transição. Tem muita gente falando e agindo de forma descoordenada, o que passa
a má impressão de a equipe estar mergulhada numa disputa interna pelos
ministérios, o que gera insegurança no mercado e frustra expectativas dos
agentes econômicos.
Bumba meu boi
A bagunça maior é na equipe de transição na
área econômica, na qual já está evidente uma disputa entre seus integrantes.
Ontem, houve uma manifestação pública dos economistas Arminio Fraga, Edmar
Bacha e Pedro Malan, que advertiram Lula de que a responsabilidade fiscal será
avalista do sucesso de seu terceiro mandato. A síntese da carta aberta dos três
economistas é essa. Na sequência, no final da tarde de ontem, o ex-ministro da
Fazenda Guido Mantega renunciou à participação na equipe.
Legalmente, a equipe de transição
coordenada por Geraldo Alckmin tem 14 pessoas nomeadas, de um total de 50
cargos previstos em lei, com remuneração. Entretanto, a equipe já conta com 31
grupos temáticos, cada um empenhado em ter o seu o próprio ministério, e mais
de 300 pessoas indicadas para esses grupos de trabalho, a maioria por representação
política dos partidos que apoiaram Lula no primeiro e no segundo turnos da
eleição, e não necessariamente pela qualificação e experiência técnica de cada
um. O critério para formação desse time não parece ser construir a passagem
segura de comando na administração, sem interrupção de seu funcionamento,
principalmente nas atividades-fim. Tem muita gente falando e jogando para a
arquibancada, e não para a equipe.
É preciso um freio de arrumação na
transição, não somente na área econômica, na qual o próprio presidente Lula vem
dando declarações que miram seus eleitores, mas confronta os agentes
econômicos, o que provoca alta do dólar, queda do valor de ações na Bovespa e
expectativas negativas de investidores. É quase uma autossabotagem. Ao mesmo tempo
em que manda sinais positivos para os parceiros internacionais na questão
ambiental, anula seu próprio desempenho com declarações desastrosas sobre a
economia.
Não tem para onde correr. Se não quer
tumultuar o começo de seu mandato, fazendo o jogo que o presidente Jair
Bolsonaro gostaria que fizesse, para melar a transição, Lula precisa anunciar o
nome do seu ministro da Fazenda e começar a tratar da montagem de seu
ministério, porque a administração pública é uma estrutura complexa e
hierarquizada, que não funciona na base do bumba meu boi, com todo respeito
pelas nossas tradições populares.
Calma, calma...
ResponderExcluirToma um prozaczinho, um chá de erva-sidreira e aguarde.
Lula sabe o que está fazendo, e vai ser até divertido pra todos!
Bolsonaro vai se divertir na cadeia? Sem poder fazer motociata? Acho difícil...
ResponderExcluirQueremos comida,diversão-balé.
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