Por falta de apoio político e sustentação
militar, a conspiração resultou em mais uma tentativa frustrada no histórico
golpista de Bolsonaro, obrigado, mais uma vez, a desfazer a sedição que
inspirou, solicitando aos caminhoneiros de sua grei o abandono das estradas e o
retorno às suas rotinas, vários deles ao alcance dos rigores da lei. A derrota
dessa descabelada incursão antidemocrática tem o condão de alertar para os
riscos que a nossa democracia terá pela frente em sua imposição – as sementes
perversas do autoritarismo adubadas em quatro anos pela pregação fascitizante
encontraram terreno para frutificarem, como se viu no processo eleitoral e
agora nessa rebelião.
O horizonte que se revela para o governo Lula-Alkmin, diante dessa cultura antidemocrática que germinou entre nós, reclama por ações ainda mais inventivas e audaciosas do que as mobilizadas na vitoriosa disputa eleitoral. Nesse objetivo, o raio de ação da frente política a dar sustentação ao governo deve sondar, sem qualquer limitação, todas as possibilidades de expandir seu âmbito no sentido de incorporar todo aquele que recuse o fascismo como ideologia política. Nesse sentido, o agrupamento político conhecido como o Centrão e demais forças representativas do conservadorismo brasileiro, inclusive as que na disputa eleitoral se alinharam à candidatura Bolsonaro, devem ser objeto de interpelações em pautas específicas por parte do governo democrático.
O fascismo conta com raízes históricas em
nosso país, ora presente em partidos e movimentos sociais como nos anos 1930
com o integralismo que atraiu amplos setores das camadas médias, intelectuais e
militares, ora como ideologia encapuzada do Estado, tal como na constituição de
1937 que baniu os partidos políticos e jurou de morte os ideais liberais subscrevendo
os argumentos de Karl Schmitt, ideólogo do nazismo de Hitler, inspiração do
então ministro da Justiça Francisco Campos, autor daquele famigerado texto.
Essa constituição liberticida foi revogada
com a deposição de Vargas, porém muitas das suas disposições ganharam sobrevida
na Carta de 1946, em particular sua legislação sindical que não só crimilizava
as greves como punha sob tutela do Estado a vida associativa dos trabalhadores,
em franca importação da Carta del Lavoro do fascismo italiano. A constituição
democrática de 1988, embora tenha expurgado disposições autoritárias dessa
legislação, manteve vínculos que ainda preservam os sindicatos na órbita do
Estado, comprometendo sua plena autonomia.
Sobretudo, as raízes mais fundas do nosso
autoritarismo derivam do processo de modernização que aqui teve curso a partir
de 1930 operada, desde Vargas, no sentido de compatibilizar as velhas elites
agrárias com as emergentes originárias da industrialização. Exemplar gritante
disso o fato de se manter os trabalhadores do mundo agrário à margem do sistema
de proteção criado pela legislação trabalhista. Tal como na Itália e na Alemanha,
que passaram por regimes políticos fascistas depois de processos de
modernização conservadora em meados do século XIX, os diferentes surtos
brasileiros de modernização, como nos anos 30 e nos anos 60, importaram no
fortalecimento dos nexos entre as elites empresariais e as do empresariado
industrial, de que é fruto o moderno agronegócio. A modernização impediu nossa
passagem ao moderno.
No caso brasileiro, tal processo de
conservação do poder das elites agrárias se manifestou igualmente no processo
do abolicionismo, em que pese a pregação de suas principais lideranças, como
André Rebouças e Joaquim Nabuco, em favor de uma distribuição de terras aos
emancipados da escravidão. A abolição passou ao largo da questão fundiária com
o que se frustrou o primeiro movimento de formação de uma opinião pública
efetivamente nacional.
Remover raízes tão fundas leva tempo e
exige coragem, sabedoria e prudência, virtudes presentes nos articuladores,
Lula à frente, que souberam nos levar à vitória sobre as hostes fascistas na
sucessão presidencial. O mesmo caminho deve guiar o nascente governo
democrático, pautando cada passo no sentido de devolver ao país os rumos de que
fomos desviados em busca do reencontro com os ideais civilizatórios de que um
governo criminal tentou nos afastar.
*Sociólogo, PUC-Rio
Também não sou coveiro não, mas tenho a consciência, limpa, de que fiz o melhor que pude para enterrá-lo nessas eleições de 2022.
ResponderExcluirAmanhã, graças a mim, a outros conscientes 60 milhões, e a São LULA do PT, iremos virtualmente à Missa de 7° dia do pior e mais cruel presidente que o Brasil já teve, devidamente apeado para sempre do poder.
Vamos comemorar?
Falou e disse, Hisayo. O boçal é o tipo perfeito que o capitalismo necessita, nessa sua atual fase de desenvolvimento, de cadáver insepulto. O nazifascismo não dá certo porque já foi experimentado. O nazismo é impensável porque Hitler era meio doido e quis fritar os judeus. Mas o fascismo de Mussolini ainda tem um certo charme, vide a moçoila que chegou ao poder na Itália. No Brasil vale um fascismo caricatural, fascismo bundalele, que é o do boçal e a orcrim que é sua família (gabinete do ódio, escritório do crime, milícias, etc.). Vade retro Satanás!
ResponderExcluirNem os outros capitalistas queriam proximidade com o GENOCIDA! Biden, Macron, os líderes alemães e ingleses, TODOS queriam distância do miliciano mentiroso!
ResponderExcluirTrês comentários inteligentes.
ResponderExcluirEstá escrito: "dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus"! Adeus acima de tudo! Acabou! Todavia resta uma extensa paisagem de escombros e desafetos a ser reconstruída e reaproximada: coragem!
ResponderExcluirDar adeus para o diabo não parece um contrassenso?
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