O Globo
Derrotados acabam vítimas de suas próprias
armadilhas
Vivandeiras das estradas do meu Brasil, eu
sei o que é a dor. Já senti muita dor. Rompi o tornozelo direito (jogando
tênis), outra vez o esquerdo (no futebol; fui razoável ponta) e meu nariz foi
quebrado, no recreio, por um grandalhão albino. Mas nunca imaginei que
erisipela na perna levasse alguém a calar a boca. Por si só, desde o histórico
30 de outubro, se trata de um fato científico a figurar no decálogo político do
baixo clero dos últimos dias, ao lado da isenção de imposto de importação de
jet skis (planadores também) e do que é visto (à boca pequena!) como o
Capitólio bolsonarista — o ataque cego do navio à ponte Rio-Niterói.
Como poderia dizer Mourão, a erisipela pós-derrota é um case de estudo a ser apresentado no próximo Congresso de Sinapses do Partido Liberal, sob os auspícios de empresários bolsonaristas. Outra comunicação de cunho alquímico talvez seja o pontapé inicial na série sobre a vida na terra (e na Lua) de Damares Alves. Protagonizada por Regina Duarte, com texto anônimo do sertanejo Sérgio Reis, o docudrama se passa em meio ao intenso brainstorm da criação de palavras de ordem dos golpistas estacionados à frente dos quartéis.
Ainda sem roteiro definido, pensa-se em
acrescentar uma cena, evidentemente forte, onde um fascista é acometido por uma
repentina comunicação em sânscrito de que as quentinhas enviadas foram
contaminadas com cloroquina. É um registro dramático sem anestesia. Tipo cinema
verdade. Como figurantes, os integrantes do MSQ (Movimento dos Sem-Quartel),
vestidos com a camisa da seleção, já rota pela incessante chuva, em busca de
flagrantes para selfies.
O caldo engrossa (aqui uma figura de
linguagem isenta, sem ser lugar de fala) quando a fila do sopão havanesco
encorpa com a adesão de centenas de beneficiários do milagre econômico
empreendido por Paulo Guedes. Todos vestidos com a camisa canarinho numa tática
“entrista” de camuflagem copiada aos movimentos de esquerda. Regina Duarte, ou
melhor, Damares, se descontrola ao se sentir uma inocente bolsonarista útil.
Volta ao normal (tudo é ficção) após ouvir uma reza em sumério, gritada num
post por um golpista catarinense.
É inegável que a série, em um capítulo e
meio, encontra inspiração nos contundentes acontecimentos da cidadezinha de
Deus, Pátria e Família. É quase uma cópia desavergonhada. Depois de quase
quatro anos, o bolsonarismo de raiz, agora de fato na lama, oferece o outro
lado de sua face — o grotesco involuntário.
E é um inferno que se desloca.
Saindo dias atrás do Oyster Bar, na Grand
Central, em Nova York, pensei ter visto Carla
Zambelli em meio a um grupo desocupado em dólar vestindo
camisas amarelas. Não me pareceu estar com a arma à mão — então foi somente uma
fake news visual. Mas li nesses dias uma promessa atribuída à deputada
pistoleira, cuja autoria, na dúvida, leva a crer, pelo estilo tiro ao alvo, que
poderia ter saído de seu coldre. Dizia que entrara no Congresso para promover
um giro de 360 graus. A promessa cumprida tem origem na cartilha aritmética na
qual a máxima pressupõe que -5% + 4% é igual a 9%. Pensar dói.
Como é uma competição, o sempre insuperável
padrinho de casamento da pistoleira da Alameda Lorena, o ex-juiz Moro, escandiu
novamente a debacle da educação brasileira. Os bolsonaristas, mesmo os mais
capachos, se não se mostram capacitados em operações das exatas, tampouco se
saem melhor nas humanas. Lembrando-me aqui da Damares — nem sequer nas
biológicas. Em mais um post vindo direto do coração, o juiz agradeceu os votos
com as benções (sic) recebidas. Voltou a pontuar, sem margem de erro, porque
traz no currículo seu afamado conge (sic de novo).
Moro e Zambelli, e mesmo o
amedrontado Eduardo
Bolsonaro, são seres (nomeemos assim) capazes de inspirar a tropa
com seus erros gramaticais, sua desconexão verbal e seus posicionamentos
milicianos. Os vídeos saídos das barricadas golpistas acantonadas na frente dos
quartéis competem farda a farda com sintaxe carluxesca do general Villas Bôas.
Mal instruídos, lobotomizados pelas redes
sociais, sem palavras de afeto do chefe que se finge de morto e agora anda de
calção no horário do expediente, os militantes sem quartel se consolam na dor
da derrota com informações vindas de templos e pastores. Como num caso clínico
banal, típico de Rio das Pedras, acabam vítimas de suas próprias armadilhas.
Ouvem vozes e convocam seus pares, como viralizou:
— Gente, o Lula vai nomear o Paulo Freire
ministro da Educação. Vamos reagir. Não deixem que ele asseite (outro sic).
Pela primeira vez concordo com um golpista
de direita. Paulo Freire merece ter paz.
Muita ironia sem dizer absolutamente nada.
ResponderExcluirA riqueza do texto é a abundância irônica. MSQ é dez. Melhor 'asseitar' seu anônimo.
ResponderExcluirO anônimo além de covarde covarde é burro.
ResponderExcluirMAM
Para quem foi escorraçado do Vespeiro demonstra o tanto que Você é ridículo Mam , será que é mesmo?kkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirDeve ser um desses perdedores que odeiam ver mulher bonita com homem rico.
ResponderExcluirOu desses covardes que só sente corajoso na proteção que s internet lhe proporciona. Vai gritar sua coragem para os caminhoneiros nas estradas eles estão doídos para trucidar gente iguais a vc que só vai nós blog para arrotar o que realmente não é. Felizmente, Homem não é qualquer MAM como vc quer pretender que é. Não é e nem nunca será. Homem não precisava de internet para não ficar frustrado igual um galinho no canto do galinheiro.
ResponderExcluirMiguel de Almeida.
ResponderExcluir"Ouvem vozes e convocam seus pares, como viralizou:
ResponderExcluir— Gente, o Lula vai nomear o Paulo Freire ministro da Educação. Vamos reagir. Não deixem que ele asseite (outro sic)."
Kkkkkkkkkk rá rá rá rá (respirando)
Rindo de novo
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Rindo de novo...
Por que tanta estupidez?
O autor responde:
"Mal instruídos, lobotomizados pelas redes sociais, sem palavras de afeto do chefe que se finge de morto e agora anda de calção no horário do expediente, ..."
Mal instruídos e lobotomizados.
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Rindo de novo...
E não esqueçamos do gado q faz sinal de luz pra extraterrestre vir salvar o Brasil!
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