Discurso de Lula na COP27 resgata papel do Brasil
O Globo
Presidente eleito errou feio ao aceitar
carona em jatinho de empresário, mas falou o que se esperava dele
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva errou feio ao aceitar a carona no avião de um empresário envolvido na
Operação Lava-Jato para Sharm el-Sheikh, no Egito, onde acontece a conferência
do clima das Nações Unidas, a COP 27. A atitude mostra que não apenas a extrema
direita acampada diante dos quartéis vive numa realidade alternativa. As
amizades do PT com empresários estão na raiz de escândalos de corrupção que o
Brasil não esqueceu — e nem deveria.
É uma pena, pois a presença de Lula na COP27, além de bem-vinda, é essencial para resgatar o Brasil dos escombros a que foi lançado pela diplomacia errática e pela política ambiental devastadora do governo Jair Bolsonaro. Em seu discurso, Lula falou o que se esperava. Prometeu lutar contra o desmatamento ilegal, cuidar dos povos indígenas e dar cidadania aos habitantes da região. Em tempos normais, seria um discurso previsível. Depois de quatro anos de destruição da Amazônia sob Bolsonaro, foi um alívio.
É notável a presença brasileira na COP27. A
ida de Lula, de ambientalistas respeitados, como a deputada federal eleita
Marina Silva (Rede-SP) ou a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, de
governadores, senadores e representantes da sociedade civil demonstra o amplo
apoio da sociedade brasileira à causa ambiental. Marca a saída de cena da
ideologia do atual governo, baseada na ideia de que o futuro do território
amazônico depende da ocupação, mesmo que ilegal, por garimpeiros, madeireiros e
grileiros. É uma visão absurda, pois inexiste oposição entre preservação e
soberania.
Ao revelar a intenção de realizar a COP30
na Amazônia em 2025, Lula implicitamente assumiu compromisso com resultados de
sua política ambiental antes do fim do mandato. Não será fácil. Como afirmou
Marina ao GLOBO, será gigantesco o trabalho para reerguer o aparato estatal. A
infraestrutura de monitoramento está sucateada, as equipes de fiscalização
sofrem carência crônica de pessoal e, pior, falta previsão no Orçamento para
recuperar tudo isso. Enfrentar tal quadro demandará capacidade de gestão ímpar
do próximo ministro do Meio Ambiente.
Para obter sucesso, o novo governo
precisará trabalhar em sintonia. Terá de exercer todo o poder de repressão do
Estado contra o desmatamento e, ao mesmo tempo, buscar investimento nacional e
estrangeiro para gerar empregos em atividades ambientalmente responsáveis.
Mesmo num cenário imaginário em que na Amazônia houvesse fartura de emprego, o
crime organizado e os destruidores da floresta não desapareceriam da noite para
o dia. É irreal imaginar uma situação sem a necessidade de combater grileiros,
garimpeiros e madeireiros ilegais.
Ao mesmo tempo, é forçoso reconhecer que a
penúria na região é um catalisador para o desmatamento. Os países ricos,
maiores responsáveis pela crise climática, têm o dever moral de financiar
maciçamente projetos voltados à população amazônica. Uma Amazônia com as
árvores em pé e um povo miserável não garante um futuro sustentável. Lula
acertou em Sharm el-Sheikh ao ressaltar a necessidade de cuidar das pessoas,
não só dos biomas.
Espera-se que, doravante, acerte também ao
separar o espaço público de interesses privados, entenda que a anulação de
processos na Lava-Jato não foi salvo-conduto para retomar práticas nefastas e
recuse caronas, presentes e favores dos “empresários amigos”.
Diretor da Polícia Rodoviária Federal
deveria ser afastado
O Globo
Silvinei Vasques transformou a PRF numa
corporação a serviço de Bolsonaro e do bolsonarismo
O Ministério Público Federal (MPF) fez bem
ao pedir o afastamento do diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF),
Silvinei Vasques, acusado de usar indevidamente o cargo para favorecer a
campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Ainda que falte menos de um
mês e meio para o fim do atual governo, Silvinei não tem condições de
permanecer no comando da corporação, sob o risco de contaminar ainda mais a
imagem dela com o bolsonarismo.
Em ação na Justiça Federal do Rio, o MPF
pede também a condenação de Silvinei por improbidade administrativa. Ele é
acusado de fazer campanha para Bolsonaro em diversos eventos. Às vésperas do
segundo turno, pediu explicitamente numa rede social voto para o presidente,
mensagem que depois apagou. Para o MPF, o ato, além de configurar ilícito
eleitoral, demonstra uso do mais importante cargo na hierarquia da PRF para
favorecer determinado candidato, “violando de morte os princípios da
legalidade, da impessoalidade e da moralidade”.
Silvinei é investigado também pelas blitzes
deflagradas pela PRF no dia do segundo turno. As inspeções causaram
engarrafamentos em inúmeras rodovias, atrasando ou impedindo eleitores de
chegar às seções eleitorais. O maior contingente de agentes foi empregado em
estradas do Nordeste, reduto eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Silvinei chegou a desrespeitar uma ordem do ministro Alexandre de
Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O empenho incomum da PRF no dia da eleição não
se repetiu no dia seguinte, após a vitória de Lula, quando, em protestos
golpistas, caminhoneiros bolsonaristas bloquearam estradas gerando
engarrafamentos quilométricos por todo o país. A PRF só agiu quando Moraes
ameaçou multar ou até prender Silvinei caso ele não tomasse providências para
liberar as rodovias.
Convertida ao bolsonarismo, a PRF tem
tomado decisões patéticas. Recentemente, o setor de inteligência da corporação,
que não deve ter mais com que se ocupar, enviou um ofício à Wikipédia pedindo a
exclusão da página com o perfil de Silvinei. Argumenta que o conteúdo reúne
informações inverídicas, com objetivo de prejudicar a imagem da corporação e
dele. A página cita apenas fatos conhecidos.
A PRF tem um trabalho importantíssimo a executar nas rodovias, não só na fiscalização do Código de Trânsito Brasileiro, mas também na vigilância dos carregamentos de drogas e armas que abastecem as organizações criminosas. No governo Bolsonaro, ela se afastou das estradas para participar de operações em favelas, com letalidade inaceitável. Precisa voltar ao seu papel de origem. Trata-se de uma instituição de Estado, que não pode estar a serviço do governo de turno. Quanto mais tempo Silvinei permanecer no cargo, mais danos causará à corporação e ao próprio Brasil.
Deslizes aéreos
Folha de S. Paulo
Viajar às expensas de empresários não ajuda
imagem de Lula e de ministros do STF
Na condição de presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) está no centro das atenções e das expectativas —e do
escrutínio e da cobrança— de um país que segue marcado por antagonismos
políticos e dúvidas quanto ao futuro.
Nesse contexto, a viagem do petista e de
seus convidados à COP27, no Egito, a bordo do jato particular do empresário
amigo José Seripieri Filho, que foi alvo da Operação Lava Jato, foi um mau
passo que não passaria despercebido. O episódio, revelado pela Folha, criou
ruído, explorado por opositores, e provocou desconforto mesmo entre apoiadores.
De acordo com informações colhidas em
círculos do entorno de Lula, o risco de repercussão negativa havia sido
previamente detectado. Alertas foram emitidos e, como se viu, desconsiderados.
Também se alegaram dificuldades objetivas
para o transporte, uma vez que não há verbas oficiais para custear despesas de
um presidente eleito, e o PT não teria recursos para fretar um jato. Aventou-se
ainda, segundo relatos, a possibilidade de pedir apoio ao atual governo, mas
temeu-se, em caso de concordância, pela segurança —um receio que soa
fantasioso.
Por fim, foi descartada a opção que parecia
a mais adequada, recorrer a um voo comercial. Assim fez, aliás, a
correligionária Dilma Rousseff, em novembro de 2010, quando compareceu a uma
reunião do G20 na Coreia do Sul após vencer a disputa ao Planalto.
Por si só, o usufruto da aeronave por Lula
não contraria formalmente a lei, ainda mais antes da posse. Mas decerto não
ajuda a imagem de um futuro governante —e, no caso, um
ex-presidente com pesada bagagem de casos rumorosos—
aceitar favores generosos de detentores do poder econômico.
Na mesma direção, também não deve ser
tomada como procedimento corriqueiro a viagem de
cinco ministros do Supremo Tribunal Federal a Nova York, com direito
a hospedagem, para participar de evento patrocinado pela Lide, organização
comandada pelo empresário João Doria, ex-governador de São Paulo.
Mais uma vez, não se pode considerar que o
fato em si demonstre favorecimento ou falta de isenção dos magistrados. Porém,
uma hipotética decisão de Lula ou do Supremo que beneficie os citados
empresários correrá sempre o risco de ser criticada à luz de uma suposta
licenciosidade pregressa.
Trata-se, sobretudo, de valorizar a
liturgia republicana de modo a não oferecer margem a interpretações, capciosas
que sejam, sobre possíveis conflitos de interesses.
Recessão democrática
Folha de S. Paulo
Avanço global do autoritarismo é fenômeno
complexo que precisa ser combatido
Dos 8 bilhões de habitantes do mundo, 5,7
bilhões, ou mais
de 70%, vivem em ditaduras ou em autocracias eleitorais —que são,
segundo a terminologia do instituto sueco V-Dem, regimes nos quais há eleições,
mas vários componentes da democracia, como liberdade de expressão e mecanismos
de controle institucional, estão prejudicados.
Onze anos atrás, quando o planeta atingiu a
marca dos 7 bilhões de habitantes, essa proporção era de 50%. No período, o
número de autocracias fechadas passou de 25 para 30, um incremento
relativamente modesto. Houve, porém, deterioração qualitativa em indicadores de
democracia em vários países.
Boa parte do salto de 50% para 70% se explica porque a Índia, com 1,4 bilhão de
habitantes, deixou de ser uma democracia para tornar-se uma autocracia
eleitoral.
Regressões foram observadas também em
países que não chegaram a perder o status de nação democrática, caso do Brasil.
Mesmo os EUA e países avançados da Europa tiveram problemas, respectivamente,
com a eleição de Donald Trump e o fortalecimento de partidos com tendências
autoritárias.
Contudo vale registrar que brasileiros
puseram fim ao governo Jair Bolsonaro (PL), que investia na corrosão
institucional, e americanos derrotaram nas urnas a ala trumpista do Partido
Republicano.
Há também países que já não se encontravam
no campo da democracia e experimentaram piora.
É o caso da Rússia, que provocou uma guerra ao invadir a Ucrânia,
intensificando a repressão interna, e da China, que deixou de ser uma ditadura
coletiva, conduzida por partido único, para converter-se
numa bem mais personalista sob Xi Jinping, que afastou rivais e eliminou
barreiras a sua liderança.
Várias teorias tentam compreender o
fenômeno. Há aquelas que recorrem à economia, as que se fundam na psicologia,
outras que responsabilizam as redes sociais. Todas têm algum poder explicativo,
mas é difícil apontar uma que comporte as diversas instâncias de regressão em
todos os países.
O medo da imigração, por exemplo, parece
ser um dos principais ingredientes a alimentar o populismo direitista nos EUA e
na Europa, mas ele pouco esclarece sobre a situação no Brasil ou na Índia.
A recessão democrática contemporânea é um
fenômeno complexo e não pode ser subsumido em um modelo simples. Isso não nos
desobriga de tentar compreendê-lo em suas múltiplas dimensões nem de buscar
antídotos —já que ainda não se encontrou um sistema de organização social e
política superior à democracia liberal.
A bomba fiscal dos Estados
O Estado de S. Paulo
Atual governo parece ter esquecido que dívidas estaduais têm garantia da União e responsabilidade solidária do Executivo com entes federados. Caberá a Lula lidar com esse problema
Os bons resultados fiscais apresentados
pelos Estados nos últimos anos estão muito próximos de serem revertidos,
situação que parece distante das prioridades do gabinete de transição do
governo eleito. Depois de apresentarem um superávit de R$ 64,8 bilhões em 2020
e de R$ 124,1 bilhões no ano passado, os Estados devem voltar a apresentar
dificuldades para arcar com suas despesas em 2023, o que pode resultar em corte
nos investimentos, salários atrasados para o funcionalismo público e redução na
oferta e na qualidade de serviços de saúde e educação.
O jornal Valor revelou que os
Estados devem registrar uma perda nominal de R$ 25,1 bilhões em receitas do
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) neste ano. O cálculo,
que considera a arrecadação apurada entre julho e outubro e projetada para
novembro e dezembro, é o resultado de duas leis complementares aprovadas pela
Câmara e pelo Senado neste ano. As mudanças, que impuseram um teto e alteraram
a base de incidência do tributo, têm caráter definitivo sobre aquela que é a
maior fonte de arrecadação dos governos regionais e que incide sobre
combustíveis, energia, comunicações e transportes.
Mesmo ciente desses efeitos, o governo Jair
Bolsonaro apostou na popularidade eleitoral proporcionada pela redução nos
preços dos combustíveis e nas faturas de energia e telecomunicações e investiu
na descredibilização do discurso dos governadores. Para vencer as poucas
resistências, o governo se comprometeu a compensar os Estados com perdas acima
de 5%, mas somente em 2023 e após comparar a arrecadação de todo o ano de 2022
à de 2021.
O Comitê Nacional de Secretários de Fazenda
dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz) já havia estimado que o prejuízo
alcançaria R$ 125 bilhões em 12 meses e, agora, instituições financeiras
começam a respaldar as contas dos Estados. Como mostrou o Estadão, o Itaú
estimou que os Estados terão de fazer um ajuste fiscal da ordem de R$ 70
bilhões para se adaptar às consequências das leis e manter as contas em dia. Se
as receitas e despesas forem mantidas, os entes federativos deverão registrar
um déficit de 0,7% na proporção do Produto Interno Bruto (PIB), após um
provável superávit primário de 0,5% neste ano.
Não faz muito tempo que os Estados eram
fonte de preocupação para o governo federal, o que mostra que o País nada
aprendeu com os erros do passado. Do lado das receitas, situações atípicas e
relacionadas à pandemia de covid-19 foram consideradas permanentes, entre elas
o reforço das transferências da União, a proibição dos reajustes de salários de
servidores e os efeitos da reabertura da economia e da inflação elevada. De
caráter rígido e permanente, o custeio de despesas com saúde e educação pode
ser fortemente comprometido, um aspecto que tem passado despercebido nas
discussões dos necessários ajustes no Orçamento fictício de 2023 – sem contar o
financiamento do piso nacional da enfermagem aprovado pelo Legislativo, uma
discussão que chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que, tudo indica, deve
se estender ao longo do governo Lula.
Estados que acabaram de aderir a regimes de
recuperação fiscal depois de anos de negociações com o Executivo federal já
indicam a necessidade de ajustes. No Rio Grande do Sul, a previsão é de um
déficit de R$ 3,7 bilhões em 2023; Minas Gerais, que registrou em 2021 o
primeiro superávit em nove anos, prevê um déficit de R$ 3,5 bilhões. Não são os
únicos casos.
O beligerante governo Bolsonaro parece ter
esquecido que as dívidas assumidas pelos Estados contam com garantia da União e
optou por ignorar a responsabilidade solidária que tem com os entes federados,
sobretudo em se tratando de direitos fundamentais assegurados pela
Constituição, como saúde e educação. Envolto nas negociações da aprovação da
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, o governo eleito, por sua
vez, muito em breve será lembrado da importância do resgate do pacto federativo
em suas dimensões político-administrativas e, principalmente, fiscais.
Alimentando a crise moral
O Estado de S. Paulo
Lula em jatinho de empresário suspeito, ministro do STF falando de política, FA dando recado ao poder civil, protestos antidemocráticos: o País normaliza o intolerável
O País precisa de paz e serenidade. É
urgente a tarefa de pacificação e reconstrução nacional. Diante disso, os
principais atores políticos precisam se esforçar um pouco mais para desarmar os
espíritos. Devem, sobretudo, dar o bom exemplo de respeito tanto às leis quanto
aos padrões éticos, medindo as consequências de seus atos e palavras. Alguns
acontecimentos recentes, no entanto, mostram que estamos longe de superar a
crise moral que tomou o País de uns anos para cá e que leva cidadãos comuns a
acreditar que tudo podem.
As eleições indicaram que parte
considerável da população – no mínimo 58 milhões de eleitores – continua tendo
sérias restrições ao comportamento do petista Lula da Silva. O que faz então o
presidente eleito? Em sua primeira viagem internacional após as eleições, Lula
foi à COP-27, no Egito, no jatinho particular de um empresário enrolado na
Justiça. O entorno do petista tratou de minimizar a polêmica ao dizer que Lula
ainda não é presidente e que não houve nada de ilegal. É verdade, mas a carona
está longe de constituir a atitude de um presidente eleito que tem pela frente
a missão de mostrar ao País que os interesses nacionais vão finalmente se
sobrepor aos interesses privados. Como diz a frase atribuída ao imperador
romano Júlio César, à mulher de César não basta ser honesta, é preciso que
pareça honesta.
Enquanto isso, em Nova York, o ministro
Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), assediado por um
bolsonarista que questionava a lisura das eleições, perdeu a compostura. “Perdeu,
mané, não amola”, disse Barroso, referindo-se à derrota de Jair Bolsonaro nas
eleições. Não são necessárias especiais considerações sobre o papel da Corte
constitucional – e os ataques e incompreensões que vêm sofrendo – para dar-se
conta de que um ministro do STF deve se abster de qualquer manifestação que
possa expressar uma posição política – ou ser assim entendida. É compreensível
a irritação do ministro, mas quem tem um cargo público não pode responder
prescindindo do fato de ter um múnus público.
Nessa desordem se enquadra também a nota
dos comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha sobre as manifestações
contrárias ao resultado das eleições. Como já tivemos a oportunidade de dizer
neste espaço (ver o editorial Uma nota que
não deveria existir, 12/11), o Alto-Comando não tem competência para
dar recados às instituições democráticas nem à população. No Estado Democrático
de Direito, as Forças Armadas (FA) têm de ficar caladas sobre temas civis.
Devem ser o Grande Mudo. E não existe circunstância, por mais excepcional que
seja, a autorizar atitude diferente.
Deve-se reconhecer, no entanto, que a
confusão não se dá apenas no âmbito das autoridades públicas. Inconformados com
a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, não poucos brasileiros têm ido às ruas
clamar por resistência e intervenção militar. São pessoas que se consideram
democráticas, participaram da campanha eleitoral, elegeram senadores, deputados
federais, governadores e deputados estaduais, mas, porque seu candidato
presidencial perdeu a eleição, acham-se no direito de pedir às Forças Armadas
que interfiram no funcionamento do regime democrático. Ou seja, para essa
turma, a democracia só vale em caso de vitória do seu candidato.
Para piorar, as manifestações
antidemocráticas têm sido acolhidas, por parte de lideranças civis e políticas,
numa aura de legitimidade rigorosamente contrária ao Estado Democrático de Direito.
No Brasil, há liberdade de expressão e de associação, mas não há liberdade para
resistir à vontade das urnas, para que uma minoria tente impor sua vontade,
para que alguns inventem pretexto para atuação fora dos trilhos institucionais.
É preciso chamar as coisas pelo seu nome. Não existe patriotismo quando este se
afigura antidemocrático. Os verdadeiros patriotas respeitam o resultado das
urnas e as atribuições constitucionais das Forças Armadas, pois não há Pátria à
margem da lei.
A paz de que o País tanto precisa virá da
responsabilidade efetiva com o interesse público. O mau comportamento de um não
pode ser desculpa para o outro agir igualmente mal. É tempo de exemplaridade,
não de exceções.
G-20 busca estabilidade
O Estado de S. Paulo
Cúpula deu novo passo rumo ao isolamento de Putin e sinalizou freio de arrumação nas relações EUA-China
É um sinal dos tempos que o centro
gravitacional da cúpula do G-20, tradicionalmente voltada a temas econômicos,
tenha sido dominado pela geopolítica. Foi a primeira desde a invasão russa à
Ucrânia e desde o sobressalto nas tensões entre EUA e China após a visita da
presidente da Câmara norte-americana, Nancy Pelosi, a Taiwan.
A cúpula reforçou o isolamento do
presidente russo, Vladimir Putin, que não compareceu, nem sequer virtualmente.
Não à toa, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, em conferência a
distância, se dirigiu ao grupo como “G-19”. Mesmo a Índia e a principal
parceira da Rússia, a China, sinalizaram certo descolamento de Putin em gestos
sutis, mas que, considerando suas dimensões, movem significativamente as placas
tectônicas geopolíticas.
O comunicado do G-20 ecoa o premiê indiano,
Narendra Modi, ao dizer que esta era “não deve ser de guerra”. Usando alguns
dos termos mais fortes desde o início da guerra, o presidente chinês, Xi
Jinping, disse que o G-20 deve “se opor resolutamente a tentativas de politizar
a energia e alimentos ou utilizá-los como instrumentos ou armas de guerra” –
uma alfinetada às sanções ocidentais que não disfarça o incômodo com Putin.
Mas o evento mais relevante foi o encontro
entre Xi e o presidente americano, Joe Biden, o primeiro desde que Biden
assumiu a presidência. Os comunicados oficiais foram protocolares e não houve
transações substantivas, mas, dada a espiral descendente na relação entre as
superpotências nos últimos anos, esses são fatos mais positivos que negativos.
Xi tem conclamado o Partido Comunista a
acelerar a modernização militar, e vocaliza cada vez mais explicitamente a
ambição de “reunificar” Taiwan. Em Washington, há um raro consenso bipartidário
sobre a necessidade de frear a ascensão militar chinesa com parcerias no
Pacífico e restrições ao comércio de tecnologias sensíveis.
O paralelo com a “guerra fria” é tentador,
mas, diferentemente da URSS, a China não busca uma “revolução global” e tem
profundos laços econômicos com o Ocidente, a começar pelos EUA. Isso torna a
relação entre as potências mais complexa e, em certo sentido, mais desafiadora
para o mundo. Se não é realista esperar pelo fim da rivalidade geopolítica, é
viável encontrar meios para impedir que ela frature ainda mais a economia global
e não se degenere em um confronto direto.
Nesse sentido, o encontro foi razoavelmente
construtivo. Biden foi cuidadoso ao insistir que não haverá mudança na política
“Uma China”, em que Washington reconhece, sem endossar, a concepção de Pequim
de que Taiwan é parte da China. Os líderes concordaram em designar
representantes para retomar conversações suspensas desde a visita de Pelosi em
temas como extradições, narcotráfico ou mudanças climáticas. Mais importante
seria restaurar a comunicação entre os comandos militares para fortalecer a
confiança mútua.
As relações entre China e EUA não precisam ser e não serão amigáveis, mas, para o bem de todo o mundo, devem ser ao menos previsíveis, estáveis e bem gerenciadas.
Posição do governo eleito reduz chance de
país presidir BID
Valor Econômico
Governo eleito prefere alguém ligado ao
partido, uma visão estreita do que seja uma participação de Estado em um
organismo multilateral
Em 62 anos de existência, o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), a principal instituição de
financiamento multilateral para América Latina e Caribe, nunca teve um
presidente brasileiro. O candidato atual do país, o ex-presidente do Banco
Central, Ilan Goldfajn, é tido como a melhor chance de o país estrear na
direção da instituição. Se depender do governo eleito, porém, o país não
chegará lá.
Guido Mantega, ex-ministro de governos
petistas, pediu de repente, e sem sucesso, o adiamento da eleição do novo
presidente, após Mauricio Claver-Carone, indicado pelo presidente Donald Trump,
ter sido demitido do cargo por abuso de poder e favorecer a namorada na
instituição.
O governo de Jair Bolsonaro foi
corresponsável pela eleição de Carone. Advogado americano de ascendência
cubana, ex-assessor de segurança de Trump, ele foi indicado como o primeiro
americano a assumir o cargo máximo do banco, tradicionalmente reservado a um
latino-americano. Bolsonaro, seguindo seu ídolo, aceitou de bom grado a
indicação, para a qual pretendia como contrapartida uma vaga em uma das
vice-presidências da diretoria executiva, composta por 14 membros. Carone
venceu e simplesmente ignorou a demanda brasileira.
Trumpista, Carone criou uma atmosfera de
tensão no banco, além de contratar uma namorada para a instituição. Sua
demissão abriu um espaço a um novo presidente, que será eleito neste domingo
pela Assembleia de Governadores do banco. Depois desse fracasso, que
compartilhou com o governo direitista colombiano de Iván Duque, o Brasil
indicou para disputar o cargo Ilan Goldfajn, ex-economista chefe do Itaú
Unibanco, ex-presidente do Banco Central no governo de Michel Temer e atual
diretor licenciado do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário
Internacional.
As chances de Ilan diminuíram drasticamente
depois que o ex-ministro Guido Mantega, da equipe de transição do governo
eleito, enviou uma carta à secretária do Tesouro americano, Janet Yellen - os
EUA têm 30% dos votos em uma eleição que é ponderada pela fatia de participação
de seus membros -, solicitando o adiamento da eleição, até que o novo governo
brasileiro indicasse outro candidato.
O argumento de Mantega é de que o adiamento
possibilitaria a articulação de uma candidatura conjunta com outros países,
como a Argentina - que, ao lado do Haiti tem uma participação de 11,81%,
ligeiramente superior à do Brasil e Suriname, com 11,44% - e permitisse uma
aliança mais ampla de interesses de países latino-americanos. Só não indicou por
que essa aliança não poderia ser feita em torno de Ilan, que reúne qualidades
técnicas e profissionais mais que suficientes para ocupar o cargo. A
Presidência é disputada por Brasil, Argentina, Chile, México e Trinidade e
Tobago.
A explicação para a ação do governo eleito
de Lula é que ele prefere alguém ligado ao partido, uma visão estreita do que
seja uma participação de Estado em um organismo multilateral. Ilan não é e
nunca foi bolsonarista, nem comunga das ideias delirantes do atual governo.
Liberal, tem posições que o aproximam do espectro de apoiadores que Lula
procurou em sua campanha eleitoral para formar uma frente bem-sucedida a favor
da democracia. Ilan foi um dos organizadores de manifesto do Centro de Debate
de Políticas Públicas que defendia o respeito aos resultados das urnas, quando
Bolsonaro fazia o contrário e pregava o descrédito.
Em sua sabatina, no domingo passado, Ilan
defendeu bandeiras do futuro governo, como ações contra as mudanças climáticas
e redução da pobreza. Ele qualificou a insegurança alimentar como tema urgente
e disse que “é fundamental alcançar um crescimento equitativo, sustentável e
inclusivo”, apurou o Valor.
“Combater a pobreza, melhorar a educação e os serviços de saúde fazem parte do
mandato central do BID”, afirmou.
Ilan disputa o cargo com o ex-ministro da Fazenda do Chile Nicolás Eyzaguirre Guzmán e o ex-vice-presidente do BC do México Gerardo Esquivel Hernández, entre outros. Os países desenvolvidos (EUA, europeus, Japão) detêm 44,8% dos votos. A indicação de Ilan para o BID, que não ocorreria sem o respaldo destes países, que também possuem a maior fatia do poder de decisão do FMI, é um ponto muito forte a seu favor. A falta de apoio político do próximo governo do Brasil, maior economia da região, porém, pode ter sido um tiro mortal em sua candidatura.
Esses talkinglittleheads queriam que Lula voasse em jatinhovda FAB 'devidamente' selecionado, revisado e preparado pelo nanoGeneral Heleninho, sob supervisão do entubadoGeneral BocasdeMatildes?
ResponderExcluirOu ia ter cocaína a bordo ou iria pro inferno, ou as duas opções ao mesmo tempo...
Imbecis do mercadinho!
Teoria da Conspiração na cabeça!
ResponderExcluirTrump e seu fan club pelo mundo fértil
das alucinações