quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Vera Magalhães - COP27 é antessala do desafio de Lula

O Globo

Presidente eleito concentra expectativa, mas tem de fugir de velhos vícios

A ida de Luiz Inácio Lula da Silva à COP27, no Egito, é a melhor síntese, até aqui, das enormes expectativas e dos complexos desafios apresentados diante do petista para seu terceiro mandato. Os olhos dos líderes mundiais estão todos voltados para o presidente eleito, como se Jair Bolsonaro, cujo paradeiro é incerto e irrelevante, a esta altura, já fosse página virada.

Prova disso foi o discurso melancólico, de fim de feira, proferido pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, em que, em tom irônico e ressentido, voltou a minimizar a emergência climática ao chamar os discursos de “ufanistas" e “populistas”.

A verdade é que ele era um estranho naquele ninho, designado a participar de uma cúpula para a qual seu chefe nunca deu a mínima, que dirá agora, quando está num misto de negação e incentivo velado ao golpismo que tomou as ruas desde que foi derrotado por Lula, a estrela da festa egípcia.

Diante desse contraste, ampliado pelo reconhecimento reverente do mundo a Marina Silva no evento, fica evidente que existe uma enorme responsabilidade para o governo Lula na seara climática e ambiental. Sim, é verdade que suas gestões foram marcadas pela criação do arcabouço de fiscalização de crimes ambientais e pela redução dos níveis de desmatamento.

Mas também é verdade que houve choques entre Marina e as áreas de energia e infraestrutura do governo, Dilma Rousseff à frente, que isso levou à demissão do maior símbolo brasileiro em matéria ambiental e que o governo Dilma escancarou essa opção por um vetor de desenvolvimento que muitas vezes viu o meio ambiente como obstáculo. Essa visão ficou para trás no mundo, e será um erro grave, gerador de frustração entre os tomadores de decisão que agora estendem o tapete vermelho ao presidente eleito, se ele se perder nessa ambiguidade.

Se superar o negacionismo de Bolsonaro e de seus ministros opacos é a obrigação de alguém eleito, entre outras razões, para se contrapor a isso, o sarrafo está mais alto, as exigências são mais sofisticadas e de difícil execução, e só pedir dinheiro aos países ricos não adiantará sem que o Brasil saia do falatório e parta para a ação, principalmente retomando de pronto a governança sobre a Amazônia.

É correto que Lula leve à COP o discurso de que não são incompatíveis as ações para responder aos riscos climáticos e a necessária superação do flagelo da fome e da miséria, agenda central de sua campanha e da gestão que continua.

As formas de compatibilizar as duas urgências representarão o pulo do gato da volta ao tabuleiro diplomático, em matéria climática e nos demais fóruns, e a ação condizente com uma realidade em tudo diversa da que o próprio Lula conheceu em seus dois governos anteriores.

Essa constatação parece óbvia, mas algumas das escolhas da transição mostram que o presidente eleito para sua terceira jornada ainda tem a boca torta pelo vício de velhos cachimbos. A começar pela em tudo desastrada “carona” a bordo do jatinho do empresário José Seripieri Junior, investigado e preso na Lava-Jato.

A opção descuidada por topar o mimo revela que Lula e o PT até hoje não têm a dimensão exata de que grande parcela da sociedade não relevou as acusações de corrupção que pesaram contra os governos dos partidos, em que o compadrio com empresários amigos foi parte fundamental.

Os desvios da Lava-Jato e a inclinação política de varrer o PT do mapa eleitoral, evidenciada pelos desdobramentos posteriores da operação, reabilitaram o petista a voltar ao poder e realizar o mais difícil entre os mandatos para os quais foi eleito.

Estar à altura da dimensão épica desse desafio começa por entender que nada será como antes. Começando pela camaradagem com favores de lado a lado com companheiros, passando por temas complexos como a pauta climática e culminando na “tal” estabilidade.

 

6 comentários:

  1. Mais uma que queria que Lula num avião 'vistoriado' pelo nanoGeneral Heleninho, o Pulha!
    (Teori, Ulisses, Eduardo, JK...)
    Nunca aprendem!

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  2. Tanta imaginação! Comparável às teorias de conspiração do Trump. Brasil sempre copiando, não é a toa que somos igualados a macaquitos . Atraso!

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  3. Se a referência a corrupção dói não deveria ter praticado.

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  4. O ministro Joaquim Leite é tão canalha e criminoso quanto seu antecessor e guru Ricardo Salles, apeado do cargo por excesso de denúncias e total falta de confiança da sociedade, do MPF e do Judiciário, depois de ser acusado pela polícia americana. O boiadeiro foi eleito depois de ser demitido, mas deixou seu cúmplice e auxiliar Joaquim Leite pra fazer o serviço SUJO que não havia sido finalizado! Ministros do Meio Ambiente CANALHAS que confessam não priorizar a fiscalização e ainda se ORGULHAM de cometer tantas OMISSÕES!

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  5. Reinaldo Azevedo disse que Lula não cometeu nenhuma ilegalidade ou imoralidade indo viajar de jatinho particular.

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  6. O que o Reinaldo fala é a pura verdade

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