O Estado de S. Paulo
Cabe a cada país nomear seus bois, agarrá-los pelos chifres e submetê-los aos rigores da Justiça
A polícia alemã desbaratou, na
quarta-feira, dia 7, uma organização que planejava um atentado contra o
Parlamento do país. Foram presos 25 integrantes do Reichsburger, um grupo que
armazenava armas e treinava militantes com o intuito de realizar atos
terroristas. Investigam-se ainda 27 suspeitos de manter laços com a quadrilha
ou apoiá-la financeiramente. Seu líder é o autodenominado príncipe Henrique
XIII, descendente de nobres e renegado pela própria família.
“Foi entre os constitucionalistas alemães de 1945 que surgiu a distinção entre extremistas e radicais. Radicais são os que querem mudanças drásticas, mas dentro da Constituição. Extremistas são os que atuam de forma violenta contra a democracia”, diz o cientista político italiano Riccardo Marchi, estudioso do assunto, no minipodcast da semana. Segundo ele, a Alemanha tem um histórico de identificação e detenção de extremistas, talvez pela marca do passado nazista.
A ação da Justiça alemã evocou a invasão do
Capitólio e a imagem do militante Jacob Anthony Chansley, apelidado de “xamã” –
inesquecível em sua pintura facial com as cores da bandeira americana e um par
de chifres pregados na testa. Por causa dele, os vândalos americanos ficaram
conhecidos nas redes sociais como “os chifrudos do Capitólio”. A polícia dos
Estados Unidos já efetuou mais de 700 prisões entre os fanáticos trumpistas.
Com indumentária bizarra ou delírios de
nobreza, extremistas dão bons memes. O assunto, no entanto, é sério e é
estudado na academia, que identifica padrões nos diferentes grupos. Um ponto em
comum é acreditar em teorias conspiratórias, como as que veem em tudo um
suposto “perigo vermelho” – como se a União Soviética não tivesse se dissolvido
há mais de 30 anos. Outra é o aliciamento de integrantes do Exército e de
forças policiais. “Na Alemanha, os militares são monitorados por causa disso, e
algumas brigadas chegam a ser desativadas pela proximidade com extremistas”,
diz Marchi.
A pluralidade de ideias, à esquerda e à
direita, é saudável e desejável nas democracias. As exceções, como diz Marchi,
são os que advogam a destruição da própria democracia. A invasão do Capitólio
deixou cinco mortos e vários feridos. Felizmente os alemães agiram antes que
houvesse vítimas.
As democracias vêm aprendendo, aos poucos,
a identificar e punir seus extremistas. Cabe a cada país nomear seus bois,
agarrá-los pelos chifres e – respeitado o devido processo legal – submetê-los
aos rigores da Justiça. Alemães e americanos vêm fazendo isso, pelo bem de suas
democracias. Dão um exemplo ao mundo.
*Escritor, professor da Faap e doutorando em ciência política na Universidade de Lisboa
Ave, Xandão!
ResponderExcluirAve, Dino!
Não demora, e a gente chega lá!
Bolsonaros na Papuda!
Paulo Freire também diferenciava os 'radicais' dos 'sectários',com prejuízo aos segundos,claro.
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