O Estado de S. Paulo.
Depois de anos de ataques e descrença, a democracia colecionou importantes vitórias
Depois de anos de ataques e de crescente
descrença quanto à sua vitalidade e eficácia como modelo de governança, a
democracia colecionou importantes vitórias em 2022.
Os crimes cometidos a mando de Vladimir
Putin na Ucrânia foram um trágico lembrete dos métodos dos ditadores. A
inferioridade do autoritarismo como cultura de gestão ficou evidente na
batalha.
Putin imaginou que contaria com a mesma
indiferença do Ocidente com que contara quando cometeu atrocidades na
Chechênia, Geórgia, Síria e na própria Ucrânia. Seu menosprezo pelos ucranianos
o fez subestimar a disposição deles de lutar pela liberdade.
A Rússia encolhe econômica e geopoliticamente, privada de mil empresas que se retiraram do país, e que representavam 40% de sua economia, de mercados de energia, 30% do PIB, e de produtos tecnológicos.
Os problemas da China também são
responsabilidade de um déspota, Xi Jinping. A ofensiva regulatória contra as
empresas de tecnologia para não rivalizarem com o Partido Comunista e a
política de covid zero golpearam a economia e a paciência dos chineses. Os
protestos levaram ao brusco abandono dos controles e à explosão de casos e
mortes.
Muitos candidatos apoiados por Donald Trump
não foram eleitos em novembro, por fadiga em face da mentira sobre a fraude
eleitoral. A Comissão da Câmara que investigou a invasão do Capitólio entregou
ao Departamento de Justiça 845 páginas de evidências, com a denúncia de quatro
crimes, que podem levar à prisão e inelegibilidade de Trump.
A teocracia iraniana perdeu a pouca
legitimidade, ao massacrar manifestantes que protestam contra a morte de Mahsa
Amini e exigem a saída de Ali Khamenei.
MUNDO AFORA.
Boris Johnson foi forçado a deixar o
governo britânico, depois de atropelar as leis e instituições. Emmanuel Macron
derrotou pela segunda vez Marine Le Pen. Giorgia Meloni, cujo partido tem
origem fascista, tornou-se líder de coalizão de extrema direita na Itália,
depois de assumir posições moderadas. A Alemanha desbaratou um complô
nazi-monarquista, que resultou em 25 prisões.
A Colômbia e o Chile elegeram presidentes
de extrema esquerda, Gustavo Petro e Gabriel Boric, mas que adotaram posições
moderadas. As Forças Armadas não apoiaram a tentativa de autogolpe de Pedro
Castillo no Peru. Os intentos de Jair Bolsonaro de minar os sistemas eleitoral
e de Justiça não encontraram eco.
Não é assim em todos os lugares. Andrés
Manuel López Obrador segue solapando a democracia mexicana. Capturada pelo
ditador Reccep Tayyip Erdogan, a Justiça turca condenou à prisão e
inelegibilidade o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglup, rincipal adversário do
presidente na disputa eleitoral do ano que vem.
Mas o saldo mundial ainda é muito positivo.
Ainda bem.
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